Por Ronaldo Faria
-- Dar-te-á?
-- Dar-te-ei.
-- Deveras assim será?
-- Com a certeza do meu sim.
Ensandecidos, enlouquecidos
pelo novo porvir, Benjamin e Consuelo trocam beijos e carícias sem fim.
Encontraram-se há pouco mais de três dias, mas já trocavam juras e picardias.
Nus, com suas peles a pelejarem descobertas em cada centímetro do quadrado corporal
recém conquistado, emitiam palavras nas lavras que se espelhavam pelo quarto.
No espelho de parede, quieto no seu canto, o encanto de anuviamento
melancólico. Por sorte Consuelo não estava com cólicas. Eólicas, as emoções de
ambos se espalham e se esvanecem nas preces de quem conhece a solidão.
-- Faremos tudo?
-- Como turbilhão?
-- Não, apenas como amantes.
-- Doravante, sim.
Suados, amassados feito lençol
de cetim, cansados de tanto ir e voltar, descer e subir, penetrar e sair, Benjamin
e Consuelo apenas se olham com juras de amor. Nas cortinas que descortinam a
janela esquecida na praça da cidade que se desmancha em quirelas, o reflexo do
sexo que se faz magia e procela. Escancarado no telhado, tendo de fundo um fado
enfastiado, o resto de sol espera bater o cartão para o luar que deve ter se
perdido no trânsito da constelação. No meio de tudo, taciturno, existe um
imenso coração em solidão. Na amplitude de toda a atitude resta a tardia e
decrépita ilusão.
(Ao som da Casa Ramil)
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