Por Ronaldo Faria
Eram um casal de comercial de
margarina depois de uma angina, mesmo que esta vida estivesse vencida na
gôndola do supermercado. O tempo, porém, prostrado no calendário, não os deixava
se encontrar. Impávido em seu colosso, o destino sempre programava algo.
Doença, netos, fetos, fratricídios, corpos separados e uma ou outra intempérie
safada e escrita que nem conto de suspense. Se não vivessem no Brasil, certamente
um vulcão jorraria chamas incandescentes sobre eles ou um terremoto os faria
sucumbir diante de uma marquise qualquer. Como a cartomante a revelar que nada
nunca mais os iria unir. “As cartas mostram dois enforcados na mesma árvore,
mas ela foi replantada depois da morte do primeiro num lugar lúgubre e longe.
As suas almas jamais se encontrarão”. No encontrão que se dá entre dois corpos
em contramão, eles eram os personagens principais, como tais e quais.
Até poderiam ser protagonistas de presépio de Natal – Maria e José. Mas não eram. Eram somente José e Maria, nomes comuns na vida desigual. Dois destinos em desatino que se misturaram numa escada e se perderam noutra esquina. Personagens atávicos e dramáticos de uma peça de Nelson Rodrigues, enamorados de vinhos e fados, fugas e votos de sempre querer, só se esqueceram da própria estrada escrever. Talvez um barco perdido no oceano onde rio e mar se fazem irmãos e vãos que correm como areia pelas mãos. A fluírem feito sangue nas artérias, se perdem em dois corações imaturos e quase mortos de nada bombear. Ou seja, amargos doces de cocada que a baiana vende na barraca da vila desejada. Nalgum lugar, a gargalhar, o senhor das vidas desregradas e separadas toma mais um gole em homenagem à tristeza que a certeza de talvez na próxima encarnação algo virar poesia ou canção.
No mar que bate na areia tresloucada
e vazia de ser apenas areia, o peixe recém-nascido brinca de achar que na terra
firme ainda poderá viver...
Até poderiam ser protagonistas de presépio de Natal – Maria e José. Mas não eram. Eram somente José e Maria, nomes comuns na vida desigual. Dois destinos em desatino que se misturaram numa escada e se perderam noutra esquina. Personagens atávicos e dramáticos de uma peça de Nelson Rodrigues, enamorados de vinhos e fados, fugas e votos de sempre querer, só se esqueceram da própria estrada escrever. Talvez um barco perdido no oceano onde rio e mar se fazem irmãos e vãos que correm como areia pelas mãos. A fluírem feito sangue nas artérias, se perdem em dois corações imaturos e quase mortos de nada bombear. Ou seja, amargos doces de cocada que a baiana vende na barraca da vila desejada. Nalgum lugar, a gargalhar, o senhor das vidas desregradas e separadas toma mais um gole em homenagem à tristeza que a certeza de talvez na próxima encarnação algo virar poesia ou canção.
(Ao som de Anna Setton)

Nenhum comentário:
Postar um comentário