segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Kleiton e Kledir

Por Ronaldo Faria

“A fonte da saudade nem o tempo vai secar”.


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sábado, 28 de janeiro de 2023

As questões inquestionáveis

 Por Ronaldo Faria


Dedos, onde dedilhar?
Sede, onde beber?
Lágrimas, onde chorar?
Canseira, onde descansar?
Alhures, onde arrulhar?
Que mãos amansar?
Que olhos lacrimejar?
Onde ainda poder andar?
Viola, onde arranhar?
Bebedeira, onde desmaiar?
Que passos a passear?
Que trilhas a repassar?
Qual mentira recontar?
Haverá a ver na ventania?
Carinhos se aninharão?
Mãos se entrelaçarão?
Há amor logo ali no Leste?
Vento daqui bate na veste?
As pernas da morena se despem?
Que frigir de ovos padece?
Mas e os dedos: há dedilhar?
No mar existe um acabar?
Atracará nele o vil Calabar?
Um pacífico o mal pacificará?
Estarei eu aqui ou acolá?
Sonharei um sonho por fim?
Viajarei felicidades enfim?
Inquestionável saber de nunca mais.
 
A ouvir e ver Suzana Salles, Ivan Vilela e Lenine Santos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Suzana, Ivan e Lenine - Enternecedor

 Por Ronaldo Faria


A efeméride da felicidade é finita. Já dizia o poeta que tristeza não tem fim. Razão maldita e infinita, infindável e insoldável. Uma coisa de saudade mísera e incontrolável, que demanda lágrimas e um vazio inominável, inenarrável. Dessas coisas que se tem sem saber porque. Que se esvai em cada batida de coração que teima em respirar o mesmo espaço onde antes o sorriso vertia. E haja desejo de tudo ter fim. De um reencontro que, sabe-se desde já, nunca acontecerá. Mas como eu quisera errado estar...

A ouvir e ver Suzana Salles, Ivan Vilela e Lenine Santos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Ao grande, inominável, João Nogueira

Por Ronaldo Faria


Ele pegou o primeiro ônibus que veio. Com hora marcada para ir e voltar. No ato, o asfalto pipocava milho transgênico e torrava ovo quebrado de sobressalto. A fumaça subia feito mato queimado. Tinha cheiro bom e fuligem ruim. Mas cadê a coragem de andar mais do que aquilo que se anda para viver? O sol, milimétrico e hermético em sua inconsequente forma de cozinhar neurônios, despeja suor pelo corpo e deixa sua trilha de passos largos e difíceis no subir e descer de ladeiras e benzedeiras.

Mas ele tinha horário e desmazelos a cumprir. Precisava passar por esquinas múltiplas e dedilhar descasos e acasos em cada pedaço de paralelepípedo refeito e rarefeito de ímpetos feito púlpito de um amor qualquer que se faz verdade no peito. Precisava correr seus segundos e fazer da virulência da vida finita a festa última de uma única eternidade letal. Era, enfim, um senhor de botequins que teimava em ficar lúcido feito Lúcifer agradecendo às ninfas ninfomaníacas o último beijo depravado que o deixou em descalabro.

Ele pegou o primeiro ônibus e teceu de vertigens e pesadelos o desmazelo de ludibriar a ociosidade da cabeça sendo desperdiçada entre horas e orgasmos solitários e asmáticos. Entra gente e saem pessoas. Sobem mulheres de pernas seminuas e descem arremedos de seres humanos e antropofágicos no limite entre um polo e o vértice de canto quantificado e qualquer. De quem deveria ser misto de finitude e fé. Do lado de fora, casarios e rios secos, árvores chamando água, nuvens esparsas e luminosidade múltipla e perpendicular. Não adianta tentar se esconder do sol. Ele busca cada ser para se perfazer de passagem injustificadamente fútil e fetal (porque nessas horas qualquer um gostaria de estar cercado de líquido amniótico na escuridão do ventre).

E cadê o vento? Cadê a cadência do samba? Cadê o bamba? Cadê a bunda? Cadê o quê?

Mas ele tinha um ponto a descer. Se arremeteu pela porta da frente defronte de uma fonte afrodisíaca qualquer. Gargalhou da própria vida, vivenciou retas e rotas rítmicas defenestradas de passos taciturnos nas brincadeiras lúcidas e voláteis, táteis e têxteis, transparentes. No fim, descobriu que nada é tudo e tudo é nada. E quantos mares a vencer de braçada só e tantos dias ainda. Ter até o próximo dia de conviver com a mudança de mais um ano...

Desceu e foi ver a fatídica verdade de mentir centímetros e sentimentos de gracejos e bocejos. E acabou. Acabou-se. Lavou-se de água salgada do próprio corpo e se banalizou na espera de um milagre qualquer. Muito ainda a falar, outro tanto mais a beber e alguns palmos a baixar. Como diria o pagode final: tudo sob a luz do candeeiro. Tudo sob os holofotes e focos de uma lente côncava e convexa. Mas, chega de conversa... O homem agora dá-se à própria sorte perversa.
 
Ele depôs (depois) sob o efeito de quatro latas e partiu para a quinta. Água no joelho e vodca de saideira. E viva o friozinho cheiroso da madrugada. Que a vida sempre seja assim: sem obrigações e sermões, medos da morte e diásporas do seu próprio mundo. Deu saudade do João Nogueira. Ele teria curtido este botequim. Sua benção, flamenguista e poeta querido.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Estar mil em bem pior, ou será Belchior?

  Por Ronaldo Faria


Açucena floresce apesar da mazela. Crença na infausta cena prolifera entre a vida real e a fera escondida pela vida maior. Nunca mais volta! Na revolta do destino, o desatino. O imbróglio de uma rua paralela onde o cavalo, livre, não vê mais a sela e o chicote. Talvez um bar noturno entregue às saudades insípidas que borbulham nas bolhas que sobem no copo de cerveja do bar. Um cowboy a retornar, a mulher a retomar o amor, trilha na perfídia do seguir.
No cheiro esmerado e guardado, rasgado e posto em queima num incenso qualquer, rola quem sabe Woodstock ou Janis Joplin. Senão, a simples e simplória paixão de uma filosofia. Se o fim de tudo é a morte, essa inconsequente e quente efeméride sem bolas de inflar e bolos de chocolate recheados de glacê, que chegue logo, em encanto. Num canto de apartamento qualquer, o corpo caído e flácido, temático, se tornará andador do novo andor.
No copo que faz demorar o demérito da bebida quente, o frigir de óvulos quando bate nos dentes da arcada debaixo. A reverenciar o passado, o escândalo da insurgente gente que nos recantos sem encantos se tornam tragédias, comédias e cantos. Talvez esmeris que troca poesia por sílabas e forja inodoras lembranças nas tranças da amada, ou nada. Menos de duas horas e já se fez história. E a despedida, catatônica, atônita cambaleante reverbera.
No campo tem uma flor que se chama gérbera. E sei lá se brota rápido ou se desconexa do sol da primavera. Pra mim, tanto faz ou tanto fez. No Canal de Suez, a morte briga para ter paz como tem a cana que morre no bagaço do engenho prenhe. Daqui, a limpar o teclado do fado que as gotas da embriaguez dão, vejo como a vida é foda. Entre a horda que busca a horta para curar a larica advinda, a cerveja voa para fora do copo. Insana e eólica tragédia.
No último beijo imperfeito, a mulher diz que é difícil voltar à realidade. Na cidade urbana e doidivanas, a trama de querer sobreviver amiúde. Embriagado, travado, cravado, gravado e postergado de si mesmo, o homem viaja nas loucuras que a brandura do anoitecer faz e fez. E volta às amargas saudades e lembranças. Em suas andanças febris e poéticas, lembra as amantes e infinitas pessoas. No fim, entoa a tragicomédia que a Cinédia não quis filmar.
 
Possamos nos permitir ir e vir de nossas loucuras e, talvez, quem sabe, ressurgir no dia seguinte, mesmo com a ressaca precípua e dores loucas numa cabeça tresloucada, voz rouca, na noite pouca. O caminhar fará sua parte, no aporte de seguir uma linha que vamos sempre transgredir

Emílio Santiago: de repente, um grande sucesso

Por Edmilson Siqueira 

Emílio Santiago foi, sem dúvida, um dos melhores cantores que o Brasil já conheceu. Sua voz segura, afinadíssima e a presença marcante fizeram desse carioca nascido em 1946, um grande vendedor de discos e um criador de vários sucessos e, além de levar novamente às paradas ótimas regravações de músicas mais antigas. 


Mas nem sempre foi assim. Contratado pela Phillips-Polygram em 1975, depois de gravar um LP pela CID, ficou por lá durante dez anos, lançando um LP por ano e vendendo, no máximo, 10 mil cópias, um número bem baixo para o tamanho do Brasil.  


Seu produtor à época era Roberto Menescal que, segundo depoimento dado ao programa Starling Cast, jamais conseguiu que Emílio gravasse um disco do jeito que ele pensava ser melhor. "Meu público não aceita esse tipo de música", dizia Emílio a Menescal. 


Por volta de 1985, Menescal saiu da Polygram e, logo em seguida, o contrato de Emílio não foi renovado. "Eu que o segurava por lá", disse Menescal ao programa.  

Roberto Menescal era um produtor de sucesso e só saiu da Polygram para se associar a um amigo e criar uma produtora própria. E o primeiro cantor que procuraram para um novo projeto foi justamente Emílio Santiago. Por quê? Menescal disse que foi um guru que lhe soprou que, não havendo nada de novo já perto do fim do século, ele teria de apostar em algo já existente para fazer sucesso.  


Emílio hesitou a princípio abraçar o projeto de Menescal e seu sócio, dizendo que não era seu estilo e que seu público não iria gostar. O sócio, segundo Menescal, foi mais incisivo: "Que público, Emílio? Aquela meia dúzia de pessoas eu vi ontem na plateia?" Diante da realidade, Emílio pediu para pensar. Menescal aproveitou: "Você tem até amanhã para decidir. É pegar ou largar!" 


Acho que os deuses da música interferiram na cabeça de Emílio naquela noite e, no dia seguinte, ele topou. 

O disco foi gravado num estúdio particular e foi oferecido a três gravadoras. Só que nenhuma quis aceitar, até que a Som Livre disse, segundo Menescal: "Se ninguém aceitar, eu aceito, mas eu não quero o artista, só o disco. O artista fica pra você." Menescal estranhou, mas fez um contrato com Emílio para aquele disco e assim a Som Livre promoveu e distribuiu o trabalho.  

Resultado: o disco do projeto que recebeu o nome de Aquarela Brasileira foi um sucesso e vendeu 850 mil cópias. E o projeto que era pra ser de um disco só, virou mais seis, vendendo perto de 6 milhões de cópias. 


"A ideia era simples: regravar músicas que foram sucesso, sem solo praticamente, é um show em que o cara canta o tempo todo", revelou Menescal no programa.  E disse ainda que Emílio, que "dormia num sofá-cama", um ano depois estava morando numa cobertura duplex em Copacabana e ficou milionário, tantos foram os discos vendidos e os shows que fez pelo Brasil afora. Depois dos sete Aquarela Brasileira, Emílio ainda gravou mais treze LPs, até 2011.

 

No dia 7 de março de 2013, Emílio deu entrada no Hospital Samaritano, em Botafogo, onde ficou internado na UTI após sofrer um acidente vascular cerebral. Ele morreu às 6h30 da manhã do dia 20 de março de 2013, aos 66 anos, por complicações no quadro clínico de AVC isquêmico, na falta de circulação sanguínea no cérebro. 


Muitos dos discos de Emílio Santiago estão disponíveis tanto para compra, nos bons sites do ramo, como para ouvir no YouTube e outras plataformas de música. 



segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Quase lá

 Por Ronaldo Faria


(Ao som do Barão Vermelho)

Perto, perto, perto, muito perto e tão longe, tantã no afã, híbrido e louco. Pesadelos reais e recorrentes a cada dia, insofismáveis verdades que irrompem de dentro, sabe-se lá de onde. Aos poucos, a chegada da ferida que não sara, a vontade insana de rever a filha, a tristeza que lateja e sobrevive sem derrear. Talvez falte pouco, bem pouco, num desejo inclemente e profano de sair do jogo. Como fim de campeonato, não importa sequer para aonde a bola rola. Mesmo se há bola. Resta agora a vontade da degola, do gole inquieto, do despertar do feto da morte. A saudade é maior do que tudo. O vazio é impreenchível. E foda-se o que for dito depois que eu me for. Doente, depressivo, inconsequente, doente mental. De boa, caguei geral. Quero apenas juntar as cinzas de um e do outro animal. Depois e daí, seja o que for, na alegria que vier ou na obscura e verdadeira dor...

sábado, 14 de janeiro de 2023

Pro Zeca Baleiro

Por Ronaldo Faria

Lua lunar que vagueia no crescer dissonante como uma balada no asfalto, porque escondes o rosto em desgosto de abandonar o lar que era uma pocilga proscrita em indelével quadro de fotograma só? Jeito de frágil e ágil na fuga para o nada, onde estarão teus beijos sem amor? O que dizer da saudade e o que falar da volátil realidade de se estar vivo por segundos e dor? Hoje, perguntas se fundem e se unem em quadrantes alcoólicos e torpes, entorpecidas lacunas em plêiade singular na busca do melhor verso, em presto, pronto para dizer tudo sem nada falar. Tudo como um irreal e volátil desejo de ser. Sem asco, o mendigo dorme nos beirais e esquinas da vida.

Lunar lua que vagueia em crescer dissonante como uma balada no asfalto, onde o homem olha e entende tudo: o sono fora de hora, o beber em cinco doses, a osmose de querer saber mais do que os mortos e vivos. Ser vivente em um canto de escorpião no descalabro de marchar feito ninguém, vivo à margem do ganha-pão. O meu poema é apenas eu, ser imaginário que deflagra a ópera como fosse à eternidade um museu. Acendo um cigarro e penso: o que faço aqui? O cinzeiro, de camelo, procrastina a sina. Nada há que falar. De fato, me faltam o ar e o mar. Faltam-me palavras a falar ou talvez um seio para beijar. Quem sabe um devaneio tolo e bêbado feito conta de celular. Se um dia eu me for, que fiquem aqui o falar e o declamar. Os dois num só: embriagado, enfumaçado e vulgar.
 
“Amor não cura com aspirina. Sexo também é bom negócio. O melhor da vida é isso e o ócio. Até o canário precisa de afeto. Calma alma minha, calminha, você tem muito o que aprender". 
(Zeca Baleiro)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Zé da Velha e Silvério Pontes: perfeitos

Por Edmilson Siqueira 

Na contracapa, uma apresentação dos dois músicos autores desse disco, mostra bem o que se ouvirá quando a música começa: um trabalho da melhor qualidade que mistura as raízes da música popular brasileira com a qualidade de dois instrumentistas que, sozinhos, já seriam antológicos. Juntos, formam uma espécie de parceria perfeita.  

Zé da Velha e Silvério Pontes têm vários discos gravados, mas vamos falar aqui de um só, cujo título é "Ele e Eu", o que já diz muito sobre a afinidade de ambos.  


Mas, diz o encarte: "A nossa grande afinidade musical resulta num trabalho novo, com uma sonoridade contemporânea, sempre em busca de novos caminhos. Alegre e vibrante, nossa música é boa para ouvir e boa pra dançar. Não vamos deitar na sombra do boi. Queremos estar sempre renovando nosso trabalho, sem fugir às origens." (Zé da Velha) 


"É um casamento perfeito. Um olha para o outro e a música sai, espontânea. A cada vez que ticamos uma melodia, ela sai diferente." (Silvério Pontes) 


Por aí já se vê que se trata de coisa fina. Zé da Velha é simplesmente o mais conceituado trombonista de choro em atividade, tocou com grandes mestres como Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo, copinha, Abel Ferreira, Joel do Nascimento e Paulo Moura. Já Silvério Pontes, mais novo, é filho de trompetista, começou cedo a careira e tocou com Luis Melodia, Tim Maia, Ed Mota, Elza Soares e Cidade Negra.  

Ambos se encontraram no choro, mas não apenas nele e não apenas em sua forma mais tradicional. A sonoridade contemporânea realça a beleza das melodias. Nesse disco, foram convidados grandes nomes como Francis Hime, Luiz Alves, Humberto Araújo, Fabiano, Elder Jacaré, Ronaldo do Bandolim e Josias.   


O repertório é recheado de choros e sambas clássicos da nossa MPB. São 13 faixas que começam com "Flamengo" de Bonfiglio de Oliveira e segue com "Ela e Eu", de Pixinguinha e Benedito Lacerda; "Voltei ao Meu Lugar" de Ivan Paulo da Silva; "Pecado Capital", de Paulinho da Viola; "A César o que É de César", de Bonfiglio de Oliveira; "Cordas de Aço", de Cartola;  "O Trombonista Romântico", de Carlos Lima do Espírito Santo; "Falsa Bahiana", de Geraldo Pereira; "Degraus da Vida", de Nelson Cavaquinho, Antonio Braga e César Brasil; "Sem Compromisso", de Geraldo Pereira e Nelson Triqueiro; "Cheguei", de Pixinguinha e Benedito Lacerda e "Alvorada", de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho.  


Uma coleção de músicas irrepreensível, que mostram não só a riqueza melódica da música brasileira como o talento de dois instrumentistas que representam, junto a um excelente time de músicos, a resistência da boa MPB que ultrapassa e supera qualquer modismo passageiro. 


O disco está à disposição no YouTube - https://www.youtube.com/watch?v=RggcHhPSBr8 - e também pode ser adquirido nos bons sites do ramo. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Lua e travesseiro, do Milton

Por Ronaldo Faria



Travesseiro sem cabeça para dormir, cama sem canto preferido, perfídia de uma trama intrínseca e perdida em si mesma, ensimesmada e derradeira, como a feira. Entre gritos de aflitos e afônicos, atônitos, pessoas pasmam de ser. Não há o que reter, ter, ceder, ater, descrer. Só um tempo irreversível, factível, tangível e inatingível. No meio do tudo, perdido, vaticina o sonho de uma canção. Sem unção, sem emoção, sem junção. Na equação infinda da vida – sem início, meio ou fim.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Um sensacional show de blues

Por Edmilson Siqueira 

"Quando Eric Clapton e eu nos conhecemos, começamos uma amizade baseada no amor pela música, nutrida na herança mútua que compartilhamos e, em última análise, expressa na maneira como lidamos com os outros. Desde a nossa primeira interação, reconheci sua intensidade e fidelidade sobre a música." 


O trecho acima faz arte do encarte do disco e é assinado por um dos artistas, ninguém menos que Wynton Marsalis. O disco se chama Wynton Marsalis & Eric Clapton Play The Blues. E, claro, a união desses dois comandando uma sessão inteira de blues, com o grupo de Marsalis do magnífico teatro do Lincoln Center de Nova York, só podia ter um excelente resultado.  


Gravado ao vivo em abril de 2011 e lançado em CD em setembro, o disco tem uma sucessão de aplausos já em vários trechos da primeira música: "Ice Cream" (Howard Johnson, Robert King e Billy Moll) um blues à la dixieland, onde quase todos os componentes da orquestra - inclusive o cantor podem mostrar suas virtudes, num ritmo contagiante. Eric é o cantor na maioria das faixas.  

A segunda faixa, "Forty-Four" (Chester Burnett), já é mais lenta, mas sem perder a intensidade de um vocal bem mais próximo do blues tradicional.  


Depois de dois blues pesados e rápidos, muito bem interpretados, o clima se acalma um pouco para "Joe Turner’s Blues" (Willian Handy  e Walter Hirsch). É a deixa para Wynton soltar o sopro em seu trompete e a guitarra de Clapton chorar sentida. 


Um clássico clarinete solta as primeiras notas para ser seguido pelo firme trompete de Winston na quarta faixa - "The Last Time" (Bill Ewing e Sara Martin). Depois de um solo aplaudido do clarinete, entra a parte cantada do blues, acho que na voz de Clapton. 


A quinta faixa é "Careless Love" (Willian Handy, Martha Koenig e Spencer Willians) e, não fosse a parte cantada, poderia ser confundida com aqueles velhos blues que acompanham enterros de artista no sul profundo dos Estados Unidos. 


O disco prossegue com ótimas performances não apenas dos dois principais astros, mas de todo conjunto que atua sob o comando de Wynton Marsalis no Jazz AT Lincoln Center, uma escola de jazz das mais notáveis, encravada no portentoso prédio do Lincoln Center, ao lado do Central Park em Nova York.  


Outras cinco faixas completam o maravilhoso disco de blues: "Kidman Blues" (J. Willianns), "Layla" (Eick Clapton e James Gordon), "Joliet Bound" (Joe e Minnie McCoy, "Just A Closer Walk With Thee" (Tradicional), "Corrine, Corrina" (Amelia Chatman, Michel Parish e J. Willians). 

Quando dois artistas geniais se encontram e se propõem a gravar um CD/DVD ao vivo e se cercam de ótimos músicos, o resultado não pode ser menos que sensacional.  


O DVD está inteiro à disposição de quem quiser ver e ouvir o ótimo show dos dois: https://www.youtube.com/watch?v=8s7xUCe89qk . 

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...