Mais um gole tragado e outro lábio embriagado a se tornar um domar e tomar de emoções, unções, certidões de bem-querer, plácidas e lívidas ausências amiúde ter que esquecer. Nas carícias e sevícias tresloucadas sem chegar e se aconchegar na cama desforrada de malícia, os dois se tocam, riem, falam besteiras que apenas aqueles que são jovens e apaixonados sabem dizer. Falam de um futuro nunca soturno e repetem que o importante é estar ao lado, colados feito cola feita de arroz, a trocarem mil juras de amor eterno e, até quem sabe, quiçá, verem a prole parida e futura a correr nas ruas sem amanhecer. No bar o garçom pergunta se pode repetir as doses. “Claro, com certeza, por favor, até fechar o lugar se faça afim”. Longe dos bairros onde o tintilar de moedas apregoa a opulência que qualquer flatulência faz ficar, o casal viaja seus minutos rotundos e noturnos de um simplório amor.
Logo o bar irá descerrar sua porta que dá à avenida aonde fuscas e kombis, opalas e brasílias dividem o espaço com transeuntes travestidos de gente e ônibus cheios de cansados e naufragados seres que esperam ao menos o derradeiro louvor. Na estação ferroviária, logo ali defronte, as últimas composições despejam corpos que, insones, se preparam para logo voltar a transitar entre o destino e o fim escondido num paredão que chamam de descanso final, no fundão do campo santo que ninguém quer se enterrar. Mas, absorto na sorte de quem um dia pôde se amar, o casal enternecido troca olhares sobre a vela que queima cúmplice da saudade futura, noturna, que talvez um só ainda queira ou consiga lembrar.

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