domingo, 31 de agosto de 2025

Art Blakey e a tradição dos Jazz Messengers *

Por Edmilson Siqueira


Sentir a sensação de um grupo de jazz formado só por cobras é, para o amante do gênero, algo indescritível. Como é impossível que todos os fãs estejam presentes, a gravação de um disco ao vivo foi a fórmula encontrada pelos artistas - e, claro, não só de jazz - de levarem aos seus respectivos públicos a arte e o clima da apresentação. 
Só que no caso de jazz e suas vertentes, sempre há algo mais: o entusiasmo da plateia - geralmente pequena - se manifesta ao fim de qualquer solo ou improviso mais caprichado. É o que acontece nesse "Art Blakey and the Jazz Messengers Live at Kimball's".  
A sensação é tão prazerosa que o editor e publisher do guia de jazz de Nova York "Hot House", Gene Kalbacher, escreveu, logo nas primeiras linhas do encarte que acompanha o disco o seguinte: "Nada supera a euforia de estar lá. Pessoalmente, a experiência é sempre mais pessoal, primordial e memorável. E, com a sua presença, você contribui e compartilha essa glória." 
“Live at Kimball’s”, gravado ao vivo em 13 de abril de 1985 - lá se vão 40 anos - no clube Kimball’s, em São Francisco, e lançado no mesmo ano pela Concord Jazz, é um testemunho eloquente da energia arrebatadora e da vitalidade do hard bop, encabeçado pelo lendário baterista Art Blakey e sua talentosa formação dos Jazz Messengers.  
Eu perguntei à IA como ela definiria "hard bop". A resposta: "Hard bop é um subgênero do jazz que surgiu como uma evolução do bebop, incorporando influências do rhythm and blues, gospel e blues, especialmente nos instrumentos de saxofone e piano. Desenvolvido durante as décadas de 1950 e 1960, o hard bop se destaca por sua intensidade rítmica, similar ao bebop, mas com melodias e harmonias mais acessíveis, e um forte apelo emocional." 
A resposta é mais que correta e eu diria "ufa! Finalmente alguém fez do barulho do bebop algo harmonioso e altamente palatável aos sentidos." Sim, eu sempre torci o nariz para os malabarismos do bepop que para mim soa tão ruim quanto o heavy metal que, dizem por aí, é rock. 
A banda Jazz Messengers é praticamente uma instituição jazzística norte-americana. Teve, entre 1953, ano em que foi criada por Art Blakey e Horace Silver (que saiu em 1956) nada menos que 28 integrantes até 1990 quando encerou suas atividades com a morte de Blakey aos 71 anos.  
Para se ter uma ideia da importância do grupo no jazz, o texto do folheto cita, ao comparar o público do som ao vivo com os que preferem ouvir um disco, alguns de seus integrantes ao longo dos anos, todos eles tendo como líder o baterista Art Blakey: "Os fãs de jazz presentes no Birdland em 1954 (para o quinteto pré-Jazz Messengers com Cliford Brown e Lou Donaldson na linha de frente), no Cafe Bohemia em 1955 (para os Messengers com Kenny Dorhan e Hank Mobley), no Village Gate em 1961 (para o sexteto Messengers com Waine Shorter, Fredie Hubbard e Curtis Fuller) e no Keystone Korner em 1982 (para os Messengers com Branford e Wynton Marsalis) têm mais interesse nesses eventos históricos do que aqueles que curtem a música em disco." 


Art Blakey foi uma figura emblemática do hard bop liderando os Jazz Messengers desde meados da década de 1950. A banda funcionava também como um berço para novos talentos, tendo revelado nomes como Lee Morgan, Wayne Shorter, Freddie Hubbard, Wynton Marsalis, entre muitos outros.  
Na gravação de "Live at Kimball’s", a banda reunia músicos notáveis: Terence Blanchard (trompete), Donald Harrison (sax alto), Jean Toussaint (sax tenor), Mulgrew Miller (piano). Os 47 minutos e 35 segundo do disco estão espalhados por sete faixas que aliam composições originais e standards do jazz:  
1 - "Second Thoughts" (Mulgrew Miller) 2 - "I Love You" (Cole Porter) 3 -"Jody" (Walter Davis Jr. e Wynton Marsalis) 4 - "Old Folks" (Dedette Lee Hill e Willard Robison) 5 - "You and the Night and the Music" (Howard Dietz, Arthur Schwartz) 6 - "Polka Dots and Moonbeams" (Johnny Burke e Jimmy van Heusen) 7 - "Dr. Jackie" (Jackie McLean) 
O crítico Scott Yanow, da AllMusic, afirmou que o grupo era “particularmente talentoso” e que “todas as suas sessões valem a pena para amantes do moderno hard bop”. Para ouvintes que desejam ir além dos clássicos iniciais dos Messengers, este álbum oferece uma ponte ideal entre o passado lendário e as evoluções contemporâneas do estilo. É uma experiência intensa, cheia de ritmo, alma e o inconfundível balanço que só Art Blakey e sua energia contagiante sabem imprimir. 
O disco está à venda nos bons sites do ramo e algumas de suas músicas podem ser ouvidas no Youtube. 

*A pesquisa para este artigo foi auxiliada pela IA do ChatGPT.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Na viagem

Por Ronaldo Faria Viajante de suas loucuras diuturnas, quase equidistante entre a vida e a morte, Januário persegue qualquer polis que vire ...