Por Ronaldo Faria
Lua luzidia e frígida, vulgar
no céu. A se mostrar inteira e nua de branco na espera do casório com o sol. A
brincar com a cabeça dos loucos e se redescobrir acima de todos, dormindo no
sono insone que cobre de beijos quem tem saudade sem fim. Cheia de mistérios
etéreos que nem a sonda lunar saberá desvendar. Inquieta e largada em qualquer
quintal ou lugar. A iluminar beijos de amantes relutantes e roupas que quaram à espera
da brancura final.
Lua na perfídia da antítese
proibida e restante no tanto que não sabe se morre ou se brilha. Se vai se
jogar no asfalto como o bêbado que despenca na derrocada do fim ou percorre
lençóis catatônicos e atônitos por servirem de ninho de amor a dois corpos que
nada têm de asas para voar. Galopante em cada rompante que se esmera por um
lugar pra derrear e chegar onde as chagas da vida se esquecem que o tempo cura
as feridas e as lágrimas.
Lua incandescente e cercada de
cinzas lunares como fogueiras que se queimam em esteiras forjadas de restos de
capins e plantios mortos de secar sem rio ou chuva de sertão. Poesia sem rima
ou rumo, plantio abortado sem semente e mão para jogá-la no chão. Cria de cada
um de nós entre paixões, versos malfadados, fadas desnudas a voar. Canções
ultramarinas e cheiros de rosas a entrarem nas narinas que desvendam risos e
corpos em cópulas no fim.
Lua que corre nas trilhas de
terra batida e encardida de pés sujos que não têm o que calçar. Que ilumina tanto
o rico que dorme entre notas e pepitas de ouro e o pobre que se faz andarilho
na busca de ao menos saber o que é viver e estar. Unidade que delimita olhares apaixonados
e ilusões do nunca amar. Casa dos poetas e falsos profetas, ascetas de tanto pelejar
chegar, grudados no rincão, no mar que desemboca além do além-mar.
Lua que se torna cigana e se
entorna fatal sobre o corpo desnudo da amante que se desdobra ao som de um bandolim
e do homem que pensa ser a hóstia que oscula os seios entumecidos e voláteis a se
enrolarem na cama proibida de ser o fim de tudo. Sobretudo, restam a calma do
derradeiro amor, o ardor que só quem sabe o que é a dor haverá de ter e o
insólito praguejo que surge em soluços e gargarejos para amenizar a brincadeira
do senão.
(Com Xangai a cantar e catar restos de luar)

Nenhum comentário:
Postar um comentário