Por Ronaldo Faria
A chuva se alvoroça do lado de
fora para cair. Um vento de brisa tresloucada com cheiro d’água balança roupas
no varal e derruba o que vê pela frente. Em quilômetro insanos de correr pelo céu, a noite se prepara para
apagar o que o dia ainda acreditava ser. Um ou outro transeunte transita veloz
para fugir das gotas que caem fortes e perenes. Aos poucos o lugar vira um
encher de poças e pés molhados a correrem no asfalto escondido por rios de
água urbana. Do alto, José e Maria olham para tudo como não fosse com eles.
Ambos, ou os dois, como diria o desavisado que visse a cena, sequer levantam da
cama. Nus, mumificados em um amor ininterrupto, abrupto, paulatino em gestos e
versos, preferem esperar a hecatombe passar. “Tudo passa, ela também passará”.
A sexta-feira é de Carnaval, festa carnal por essência naquilo que ao desejo se faz essencial. Mas, para o casal bíblico, fálico, tragicômico na sua epopeia, a festa de Momo já tem décadas de existência e nunca acabou. Quarta-feira de cinzas? No calendário deles inexiste. Todos os dias são dias de vestir fantasias, beber nostalgias, tragar doses de alegorias em saliva e paixão. No bloco que desfilam, não há bateria que peça para parar, foliões que desistam de desfilar seja onde for, no asfalto ou no mar. Para eles, a piedade não vem de bênçãos mundanas, profanas fantasias, dionisíacas orgias. A comissão de frente, que afronta jurados e notas, loucuras e artroses, passos e vozes, não precisa de coreografia. Basta um sorriso, uma fina brisa que bordeia o derredor e um antídoto pra dor: o juntar corpos, saciar cópulas, sorrir juntos num sorriso que os olhos veem.
E assim, como botões de rosa que decoram o fim do decoro de corpos, continuam a se tocar e vislumbrar que um dia, em inclemente sangria, verão seus copos entornarem emoções nas fálicas e inertes unções do querer ser feliz. Por isso não se importam com a chuva que inunda e destrói, com o vendaval que derruba e corrói, com a previsão que se diz factível e atroz. No quarto, catacumba que macumba nenhuma desfaz, se fazem únicos e invisíveis ao mundo. Na rua, após o dilúvio sobrenatural, que chamam de menino ou menina espanhóis, alguns voltam a sambar em som de atabaques e bumbos molhados e desafinados. Num beijo molhado e escandalizado, como diria o compositor, Maria e José, José e Maria, continuam sua estrada de ribalta e espera. Nos dois, descansa a fera...
A sexta-feira é de Carnaval, festa carnal por essência naquilo que ao desejo se faz essencial. Mas, para o casal bíblico, fálico, tragicômico na sua epopeia, a festa de Momo já tem décadas de existência e nunca acabou. Quarta-feira de cinzas? No calendário deles inexiste. Todos os dias são dias de vestir fantasias, beber nostalgias, tragar doses de alegorias em saliva e paixão. No bloco que desfilam, não há bateria que peça para parar, foliões que desistam de desfilar seja onde for, no asfalto ou no mar. Para eles, a piedade não vem de bênçãos mundanas, profanas fantasias, dionisíacas orgias. A comissão de frente, que afronta jurados e notas, loucuras e artroses, passos e vozes, não precisa de coreografia. Basta um sorriso, uma fina brisa que bordeia o derredor e um antídoto pra dor: o juntar corpos, saciar cópulas, sorrir juntos num sorriso que os olhos veem.
E assim, como botões de rosa que decoram o fim do decoro de corpos, continuam a se tocar e vislumbrar que um dia, em inclemente sangria, verão seus copos entornarem emoções nas fálicas e inertes unções do querer ser feliz. Por isso não se importam com a chuva que inunda e destrói, com o vendaval que derruba e corrói, com a previsão que se diz factível e atroz. No quarto, catacumba que macumba nenhuma desfaz, se fazem únicos e invisíveis ao mundo. Na rua, após o dilúvio sobrenatural, que chamam de menino ou menina espanhóis, alguns voltam a sambar em som de atabaques e bumbos molhados e desafinados. Num beijo molhado e escandalizado, como diria o compositor, Maria e José, José e Maria, continuam sua estrada de ribalta e espera. Nos dois, descansa a fera...