O CD é duplo e contém nada menos que 44 faixas. O primeiro LP lançado era simples, com umas 12 música no máximo. O segundo já foi duplo, mas comportava apenas, somando os dois discos, 23 faixas. Esse CD é a mais completa versão do show de 1962, no icônico teatro de Nova York que se transformou num marco na tradição do songbook americano.
Lançado em 1997 na Europa e nos Estados Unidos, o CD duplo chegou logo depois ao Brasil. Embora não haja uma data de lançamento no CD brasileiro, há, no folheto que o acompanha, uma curiosa propaganda da Sony, tentando vender um CD player, com controle remoto e duas caixas de som, muito bonito por sinal, e que poderia ser comprado através de um tal de Sony Card, com "5% de volta" (o termo "cash back" ainda não havia sido adotado por aqui). E um aviso: a oferta só valia até 31 de dezembro de 2001. Logo, o CD é anterior a essa data, obviamente.
E foi em ótima hora que resolveram produzir um CD com muito mais músicas que cabiam num LP com o show (acho que completo) de Tony Bennett no Carnegie Hall.
É que sua performance permanece como um dos registros ao vivo mais emblemáticos da carreira de Bennett. Ainda mais em juma época (início da década de 1960) em que o rock começava a redesenhar o cenário musical e o jazz vocal já não ocupava o centro das atenções, Bennett demonstrou, na noite de 9 de junho, que a interpretação refinada, o equilíbrio entre técnica e emoção e o contato íntimo com o repertório clássico podiam alcançar níveis extraordinários quando sustentados por uma presença artística genuína.
O concerto foi idealizado pelo próprio Bennett e pelo maestro e arranjador Ralph Sharon. E foi pensado como uma síntese da versatilidade do cantor. Em vez de se limitar às canções que o haviam tornado um astro das paradas, Bennett estruturou o programa como uma verdadeira jornada musical, incluindo standards, números de jazz, baladas românticas, "spirituals" e até momentos de improvisação. Essa variedade, que poderia soar dispersa, ganha unidade justamente pelas ótimas interpretações de Bennett e pela excelente condução de Sharon.
Desde a abertura, com “Lullaby of Broadway”, o público é envolvido por um clima de celebração. Bennett canta com energia e com confiança explorando nuances dramáticas sem jamais perder a fluidez da frase.
O show mostra também o excepcional profissionalismo de todos os envolvidos, com uma relação quase telepática entre cantor e orquestra que, por sinal, é uma excelente big band, com uma seção de metais afiada e arranjos brilhantes, criando um ambiente propício para Bennett exibir todo seu talento de intérprete.
Entre os pontos altos do concerto está sua interpretação arrebatadora de “I Left My Heart in San Francisco”, então recém-lançada e não ainda o hino definitivo da cidade que se tornaria. No palco do Carnegie Hall, a canção ganha uma dimensão quase épica. Bennett explora a melodia com elegância, sustentando notas longas que revelam seu controle vocal e sua naturalidade para transmitir emoção sem artifícios. O público responde imediatamente, configurando um dos momentos mais emblemáticos já registrados em sua discografia.
O público, aliás, é um caso à parte nesse dia: os aplausos acontecem em praticamente todos os inícios das músicas, aumentando bastante no final. Ou seja, há uma recepção calorosa ao cantor por um público que quer demostrar que realmente aprecia o artista e sua obra.
Vale ressaltar ainda a importância do Ralph Sharon Trio dentro do concerto. O formato reduzido - piano, contrabaixo e bateria - aparece em momentos estratégicos, proporcionando proximidade e intimidade.
O impacto do álbum vai além da performance impecável. "Tony Bennett at Carnegie Hall" exibe uma etapa decisiva da carreira do cantor, mostrando que a sofisticação do repertório tradicional podia conviver com a efervescência cultural da década de 1960. Mais que isso, o disco serviu como um marco de resistência estética: enquanto muitos artistas buscavam se adaptar às novas tendências, Bennett reafirmava sua identidade, apostando na permanência do bom gosto, da elegância e da qualidade musical.
Tony Bennett, depois desse show, consolidou mais ainda sua carreira. Em 1962 ele estava com 36 anos. Pois viveu até 2023, se apresentando até poucos meses antes de sua morte, com uma carreira que beirou os 70 anos de grandes discos e grande performances nos palcos, além de discos fantásticos com outros cantores e cantoras.
O destaque maior desse final de carreira, talvez seja seu último trabalho, com Lady Gaga que rendeu um grande disco. Sua última apresentação, aliás, foi com a cantora no Radio City Music Hall em agosto de 2021 em Nova York, no show "One Last Time". Há um vídeo desse show que mostra o encontro - emocionante - dos dois. O cantor morreu em casa na cidade de Nova York em 21 de julho de 2023 aos 96 anos.
A lista das músicas do CD duplo é a seguinte:
CD 1:
"Lullaby of Broadway" (Al Dubin, Harry Warren)
"Just in Time" (Betty Comden, Adolph Green, Jule Styne)
"All the Things You Are" (Oscar Hammerstein II, Jerome Kern)
"Fascinating Rhythm" (George Gershwin, Ira Gershwin)
"Stranger in Paradise" (Alexander Borodin, Robert Wright, George Forrest)
"Our Love Is Here to Stay" (G. Gershwin, I. Gershwin)
"Love Look Away" (Hammerstein, Rodgers)
"Climb Ev'ry Mountain" (Hammerstein, Richard Rodgers)
"Put on a Happy Face"/"Comes Once in a Lifetime" (Lee Adams, Charles Strouse)/(Comden, Green, Styne)
"My Ship" (Kurt Weill, I. Gershwin)
"Speak Low" (Weill, Ogden Nash)
"Lost in the Stars" (Maxwell Anderson, Weill)
"Always" (Irving Berlin)
"Anything Goes" (Cole Porter)
"Ol' Man River" (Hammerstein, Kern)
"Lazy Afternoon" (John Latouche, Jerome Moross)
"Sometimes I'm Happy (Sometimes I'm Blue)" (Irving Caesar, Clifford Grey, Vincent Youmans)
"Have I Told You Lately?" (Harold Rome)
"That Old Black Magic" (Harold Arlen, Johnny Mercer)
"A Sleepin' Bee" (Arlen, Truman Capote)
"I've Got the World on a String" (Arlen, Ted Koehler)
"What Good Does It Do" (Arlen, Yip Harburg)
"One for My Baby (And One More for the Road)" (Arlen, Mercer)
CD 2:
-"This Could Be the Start of Something" (Steve Allen)
"Without a Song" (Vincent Youmans, Billy Rose, Edward Eliscu)
"Toot Toot Tootsie (Goodbye)" (Gus Kahn, Ernie Erdman, Dan Russo) – It Amazes Me" (Cy Coleman, Carolyn Leigh)
"Rules of the Road" (Coleman, Leigh)
"Firefly" (Coleman, Leigh)
"The Best Is Yet to Come" (Coleman, Leigh)
"I Left My Heart in San Francisco" (George Cory, Douglas Cross)
"How About You?"/"April in Paris" (Ralph Freed, Burton Lane)/(Vernon Duke, Harburg)
"Chicago (That Toddlin' Town)" (Fred Fisher)
"(In My) Solitude" (Eddie DeLange, Duke Ellington, Irving Mills)
"I'm Just a Lucky So-and-So" (Mack David, Ellington)
"Taking a Chance on Love" (Vernon Duke, Ted Fetter, John La Touche)
"My Heart Tells Me (Should I Believe My Heart?)" (Gordon, Warren)
"Pennies from Heaven" (Arthur Johnston, Johnny Burke)
"Rags to Riches" (Richard Adler, Jerry Ross)
"Blue Velvet" (Lee Morris, Bernie Wayne)
"Smile" (Charles Chaplin, Geoffrey Claremont Parsons, John Turner)
"Because of You" (Arthur Hammerstein, Dudley Wilkinson)
"Sing You Sinners" (Sam Coslow, W. Frank Harling)
"De Glory Road" (Clement Wood, Jacques Wolfe)
O CD e os LP (simples e duplos) ainda podem ser comprados nos bons sites do ramo. E pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=Hzf1X4-_RXk&list=PLIJmYQvaDU3G4x_mpbfO8IXw3zmGxqA0K .
*A pesquisa para este artigo teve auxilio da IA do ChetGPT.