Por Ronaldo Faria
-- Meu, achei que era pra mijar, mas de repente bateu um
troção no meio. Surreal.
-- Ainda bem que a fila estava
pequena. Também, às três da manhã só tem louco querendo mijar ou gente num bar.
-- Que os tempos se mantenham
assim!
Os dois amigos tomavam a terceira
saideira benzedeira dos tempos maus à sombra da árvore que não dá mais sombra.
O que assombra na madrugada é
o silêncio ausente de vozes e trovas. Não há luz além de um ou outro carro
notívago e vago. Não tem arco-íris. Sequer rima há. Aos que ainda bebem, um
mundo à parte, o aparte entre a realidade e a fantasia. Aporte de nada. O porre
que só no próximo amanhecer dará seu ar soberano. Aos que já dormem o sono dos
injustos, nada a dizer. Talvez um nunca ver além das lentes sombrias dos óculos
que há muito não veem ósculos entre um lábio e a vagina, no rumo da angina
maior. Quem sabe a insanidade que faz esquecer do que é feita a emoção... No joelho,
uma torção irrita o cagão.
-- Acho que está na hora pra
casa rumar.
-- Bastião, traz a conta pro
bar poder fechar!
-- Bastião, põe na mão do Tuco
que o Tuco toca.
Ninguém sabe porque essa frase
surgiu, mas ela veio de dentro do peito, como afeita fosse ao feito final. A conta
veio. Soma de lá, diminui de cá, a festança dos números estava a se dar.
-- Trezentos e vinte e oito
reais não está demais?
-- Tirando você ter vomitado
no chão ao chegar, não...
-- Metade no débito!
-- A outra metade no crédito!
Ao fim, os dois se separam.
-- Meu Uber é Josivaldo.
-- O meu é Artur.
-- Nos vemos de novo na próxima
semana?
-- Vamos ver... se vivos
estivermos.
Em som de motor amiúde, os carros chegam. Cada um segue seu rumo. No prumo, o dono do bar cerra as portas, fecha o caixa e agradece pelos bêbados derradeiros entenderem de matemática como ele entende de the end, ou final.