segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Bromélias, mar e Bossa Nova

 Por Ronaldo Faria

Roberto Menescal é um compositor por quem eu tenho admiração profunda. Ou, como ele se mostra no seu site (https://www.robertomenescal.com.br) um instrumentista, compositor, cantor e produtor. Em boa parte, claro, por ter sido um dos caras da Bossa Nova. E como carioca e amante da música, sou bossa-novista convicto. Sei que pode ser retrô, vintage, coisa de velho, parado no tempo etc. Mas, num tempo onde o futuro já perde há muito para o passado, reminiscências valem muito. Ainda mais quando se remete ao Rio de Janeiro que era certamente uma cidade maravilhosa, solar, abençoada pela natureza, com uma gente que não tinha perdido a essência de viver e sonhar. Aonde a música nova chegava para encerrar a melancolia de dores mil e amores perdidos e traídos. 

Enfim, o que escolher do Menescal?  Minha opção foi o CD/DVD de 2017 gravado para um especial do Canal Brasil, em comemoração aos seus 80 anos. Uma raridade que inclui um time pra lá de incrível. O elenco musical que o acompanha em 17 músicas não tem como deixar de reverenciar: Marcos Nimrichter, Wanda Sá, Jorge Vercillo, Quarteto Do Rio, Luiz Pié, Paulinho Moska, Zélia Duncan, Marcos Valle, Zé Renato, Ney Matogrosso, Danilo Caymmi, Cris Delanno, Lenine, Verônica Sabino, Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Fernanda Takai e Leny Andrade. Sem dúvida, são 80 minutos de voltar no tempo, misturar lembranças e “cantanças”. De descobrir que vale a pena ter saudade.

Cada música é antecedida por uma explicação sobre ela. Assim é possível ouvir histórias do Ronaldo Bôscoli e seus amores que viravam composição para tentar salvar a barra com as amadas. Histórias das pescarias em Cabo Frio com a turma da Bossa Nova, onde um barco com problema a deriva acabou virando O Barquinho. Da noite devorando a beleza do entardecer solar a se transformar em Nós e o Mar. Um pouco da Nara Leão, musa da Bossa Nova, responsável por juntar a patota no seu apartamento e que roubou o coração na infância do Menescal e depois do Bôscoli. Aliás, ela foi a responsável por arrancar Menescal dos escritórios da PolyGram para devolvê-lo à música depois de 15 anos sem gravar ou tocar. Para cuidar de Nara, com câncer, ele optou por comprar um violão novo e retomar a vida de estrada.

Enfim, o documento dos 80 anos desse instrumentista, compositor, cantor e produtor é, sem dúvida, um libelo para os ouvidos. Como aqui é um espaço para mostrar a paixão pela música, independente das mil críticas, certamente muito mais elaboradas, que já saíram sobre este CD/DVD, vale mostrar meu agradecimento à Bossa Nova por ter ela existido. Certamente quem visitou seus acordes e viveu no Rio antes da perda da sua alma brejeira, sabe que há vida inteligente no planeta – excluindo críticas daqueles que acham que essa é uma expressão pueril de um povo da Zona Sul. Mas, cada um com seu cada qual.

Por fim, um final engraçado. Onde Menescal conta que uma repórter de tevê linda, de seus 22 anos, vai à sua casa fazer uma reportagem sobre bromélias. Ele tem como hobby o cultivo de bromélias. Sempre perguntando se estava bem arrumada nas passagens, ao fim a repórter resolveu dizer que tinha uma surpresa. Que ela queria saber que, se além de cultivar bromélias, ele tinha algum hobby. Para espanto da mocinha, ele falou que gostava de música e fazia música. Surpresa, ela fechou a reportagem dizendo que seu entrevistado, além de cultivar plantas, era músico. Logo, se você quiser ouvir um pouco desse “bromelista”, segue a dica: https://www.ouvirmusica.com.br/roberto-menescal

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