Por Ronaldo Faria
Roberto
Menescal é um compositor por quem eu tenho admiração profunda. Ou, como ele se
mostra no seu site (https://www.robertomenescal.com.br) um instrumentista,
compositor, cantor e produtor. Em boa parte, claro, por ter sido um dos caras
da Bossa Nova. E como carioca e amante da música, sou bossa-novista convicto.
Sei que pode ser retrô, vintage, coisa de velho, parado no tempo etc. Mas, num
tempo onde o futuro já perde há muito para o passado, reminiscências valem
muito. Ainda mais quando se remete ao Rio de Janeiro que era certamente uma
cidade maravilhosa, solar, abençoada pela natureza, com uma gente que não tinha
perdido a essência de viver e sonhar. Aonde a música nova chegava para encerrar
a melancolia de dores mil e amores perdidos e traídos.
Enfim,
o que escolher do Menescal? Minha opção foi o CD/DVD de 2017 gravado para
um especial do Canal Brasil, em comemoração aos seus 80 anos. Uma
raridade que inclui um time pra lá de incrível. O elenco musical que o
acompanha em 17 músicas não tem como deixar de reverenciar: Marcos
Nimrichter, Wanda Sá, Jorge Vercillo, Quarteto Do Rio, Luiz
Pié, Paulinho Moska, Zélia Duncan, Marcos Valle, Zé Renato, Ney
Matogrosso, Danilo Caymmi, Cris Delanno, Lenine, Verônica Sabino, Joyce Moreno,
Leila Pinheiro, Fernanda Takai e Leny Andrade. Sem dúvida, são 80 minutos de
voltar no tempo, misturar lembranças e “cantanças”. De descobrir que vale a
pena ter saudade.
Cada música é antecedida por uma explicação sobre ela. Assim é possível ouvir
histórias do Ronaldo Bôscoli e seus amores que viravam composição para tentar
salvar a barra com as amadas. Histórias das pescarias em Cabo Frio com a turma
da Bossa Nova, onde um barco com problema a deriva acabou virando O
Barquinho. Da noite devorando a beleza do entardecer solar a se transformar
em Nós e o Mar. Um pouco da Nara Leão, musa da Bossa Nova, responsável por
juntar a patota no seu apartamento e que roubou o coração na infância do
Menescal e depois do Bôscoli. Aliás, ela foi a responsável por arrancar
Menescal dos escritórios da PolyGram para devolvê-lo à música depois de 15 anos
sem gravar ou tocar. Para cuidar de Nara, com câncer, ele optou por comprar um
violão novo e retomar a vida de estrada.
Enfim, o documento dos 80 anos desse instrumentista, compositor, cantor e
produtor é, sem dúvida, um libelo para os ouvidos. Como aqui é um espaço para mostrar a paixão pela música, independente das mil
críticas, certamente muito mais elaboradas, que já saíram sobre este CD/DVD,
vale mostrar meu agradecimento à Bossa Nova por ter ela existido. Certamente
quem visitou seus acordes e viveu no Rio antes da perda da sua alma brejeira,
sabe que há vida inteligente no planeta – excluindo críticas daqueles que acham
que essa é uma expressão pueril de um povo da Zona Sul. Mas, cada um com seu
cada qual.
Por fim, um final engraçado. Onde Menescal conta que uma repórter de tevê
linda, de seus 22 anos, vai à sua casa fazer uma reportagem sobre bromélias.
Ele tem como hobby o cultivo de bromélias. Sempre perguntando se estava bem
arrumada nas passagens, ao fim a repórter resolveu dizer que tinha uma
surpresa. Que ela queria saber que, se além de cultivar bromélias, ele tinha
algum hobby. Para espanto da mocinha, ele falou que gostava de música e fazia
música. Surpresa, ela fechou a reportagem dizendo que seu entrevistado, além de
cultivar plantas, era músico. Logo, se você quiser ouvir um pouco desse
“bromelista”, segue a dica: https://www.ouvirmusica.com.br/roberto-menescal
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