Por Ronaldo Faria
Eu idolatro Angenor de
Oliveira por ele ser mangueirense e fundador da Verde e Rosa ou eu idolatro a
Mangueira por ela ser berço de Angenor de Oliveira e tantos mais? Eis a
questão. Até hoje não fechei essa equação. Mas Cartola, assim como Nelson
Sargento, Carlos Cachaça e Jamelão, entre tantos outros, são um momento à parte
deste mundo chamado Samba, pelo qual sou um apaixonado. Este ano, aliás, se
houver Carnaval no Sambódromo, ele, Jamelão e Delegado (mestre-sala maior da
escola) serão os homenageados, com justa razão.
Mas Cartola, razão deste texto, é um daqueles
casos onde o destino esqueceu e depois lembrou, para as bênçãos da música, que
existia e produzia obras-primas do samba. Do Bloco dos Arengueiros que seria a
essência para fundação da Verde e Rosa em 1928, Cartola teve sambas gravados na
década de 1930 por nomes como Araci de Almeida (musa de Noel Rosa), Carmem
Miranda (nossa embaixadora nos Estados Unidos), Sílvio Caldas (o eterno
seresteiro), Francisco Alves (Chico Viola ou Rei da Voz) e Mário Reis (o
Bacharel do Samba). Contudo, apenas aos 66 anos, em 1974, ele foi a um estúdio
gravar o primeiro daquele que daria espaço a mais três discos, até a sua morte
em 1980, aos 72 anos.
Mas eu não vou discorrer aqui sobre nenhum
desses quatro discos do Mestre Cartola. Mas falarei noutros textos, deles e de
outros em sua homenagem, como um do Arranco de Varsóvia. Vou ficar aqui em um
que surgiu em 2008 – o Chora Cartola. Esse é um CD instrumental com 15 canções do
Mestre em forma de samba/choro ou choro/samba. À exceção da última faixa “A
Canção Que Chegou”, todas são um discorrer de notas e harmonias musicais com
Carlos Malta (flautas e sax), Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Joel
Nascimento (bandolim), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Beto Cazes (percussão)
e Rildo Hora (gaita). Na derradeira música, a voz de Moyseis Marques. E há
outros músicos esporádicos e convidados em algumas faixas.
Na verdade, este CD mostra que o samba de
Cartola é de uma profusão de tal beleza que nas mãos de solistas incríveis se
enche ainda mais de ternura e musicalidade. Esse é um disco que merece ser
ouvido num final de tarde, numa noite de lua, numa madrugada de brisa fresca,
numa manhã de sol a brilhar. Enfim, a toda a hora. Tem as clássicas “As Rosas
Não Falam”, “Alvorada”, “Tempos Idos”, “O Sol Nascerá”, “Acontece”, “O Mundo É
Um Moinho” e “Divina Dama”, entre outras canções que se eternizaram no mundo
sonoro da MPB. Como toda a obra de Angenor de Oliveira, este CD é lirismo e
samba da melhor qualidade. Logo, que este ano a Mangueira possa homenageá-lo no
Sambódromo, ou não, se a pandemia impedir. E se impedir, falhará no seu
intento. Afinal, Cartola vive hoje e eternamente em cada acorde que o coração
faz pulsar. E isso nenhum vírus vai matar.
Ps.: este disco você encontra no Spotify.
Para ouvir um pouco do Mestre (150 músicas): https://www.ouvirmusica.com.br/cartola/
Para saber mais sobre Cartola: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartola_(compositor)
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