segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Thelonious, "The Genius"

 Por Edmilson Siqueira

Na apresentação que fiz no blog, escrevi que um disco do Thelonius Monk, comprado na loja Raposa Vermelha, de Campinas, fez minha cabeça em relação ao jazz. Agora, relembrando mais um pouco os meus primórdios do Jazz, lembrei-me que não foi um disco apenas que comprei lá. Houve um segundo que havia me fugido da memória, afinal, já se passaram mais de 40 anos. Remexendo na discoteca, quando bati os olhos nos jazzistas que começam por "C", deparei com uma fieira de Charles Mingus, o que me remeteu ao texto de apresentação. Havia um LP de Mingus também na minha iniciação jazzística. Lembrei-me até do nome, embora ele não esteja mais comigo, nem em CD: "Three or Four Shades of Blues". Era mais uma fusão entre blues e jazz, mas que serviu para que eu conhecesse um universo musical que já vinha me paquerando em alguns filmes há um bom tempo. Trios de jazz e orquestras que apareciam em filmes norte-americanos eram, muitas vezes, minha parte preferida no filme.

Feita a correção, resolvi dar uma ouvida acurada em "The Genius", título dado a um disco de Thelonious Monk que comprei na primeira e única visita que fiz à lendária Tower Records de Londres (que não existe mais) em 2001. Tinha 50 libras para comprar CDs, acabei gastando 100 e saí de lá olhando pra trás, com vontade de voltar e gastar o que eu não tinha. Era um andar inteiro (dos quatro do prédio) só de jazz. Eu me lembro de ter visto uma seção só de Brazilian Music, onde reinava absoluta a bossa nova e uma estante ao lado, só com "Milton Nascimento" e quejandos. Deduzi que não conseguiram enquadrar o nosso grande Milton e a turma do Clube da Esquina em gênero algum...

Esse CD de Monk é uma coletânea e, pelo título que foi dado, pode-se imaginar o tamanho de sua fama, bem-merecida, aliás. Ela foi produzida com as músicas de dois LPs gravados na Blue Note em 1951 e 1956 reunidas em 1989 e depois também lançadas em CD na série Giants of Jazz. 

Logo de cara, o grande sucesso de Monk, "Round Midnight" que ele compôs em 1944 e até hoje é regravada. Diz a Wikipedia sobre a música: "'Round Midnight" rapidamente se tornou um padrão do jazz e foi gravada por uma grande variedade de artistas. Uma versão gravada pelo quinteto de Monk foi adicionada ao Grammy Hall of Fame em 1993. É um dos standards de jazz mais gravados composto por um músico de jazz.

E a genialidade do "The Genius" se faz notar por todas as 21 faixas do CD, sendo 14 dele e as restantes de outros compositores, exceto uma, fruto de uma parceria entre Monk e K. Clark. Embora as gravações já tenham entre 60 e 70 anos, a qualidade é muito boa. Como eram também os participantes dos conjuntos, com destaque para Art Blakey na bateria, que viria a se tornar um bandleader dos grandes, Milt Jackson (vibrafone), Billy Smith (sax tenor), Danny Quebec West (sax alto) que tinha 17 anos à época, Shadow Wilson (bateria), Gene Ramey (baixo), o cantor Kenny "Pancho" Hagood, que comparece em duas faixas e o ótimo trompetista Idrees Sulieman.

Os discos foram considerados à época como "jazz moderno" devido às inovações apresentadas, hoje totalmente normais em qualquer grupo de jazz que se preze. Thelonious não era bem-visto pela crítica, que entortava o nariz tanto à sua postura ao piano (ele tocava bem curvado) quanto aos improvisos, executados com pouquíssimas notas, porém certeiras. 

Seu estilo foi confundido com o bepop no princípio, mas com o passar do tempo ele adquiriu um jeito próprio de tocar e compor, tanto que algumas criações suas viraram standards do jazz, como "Epistrophy", "'Round Midnight", "Blue Monk", "Straight No Chaser" e "Well, You Needn't", das quais, as duas primeiras podem ser conferidas aqui. 

Esse CD em particular, não encontrei disponível no YouTube, mas no link abaixo, estão várias das músicas do "The Genius" além de outras mais. 
https://www.youtube.com/watch?v=NYj61DQzaQs&list=PLBZmD4G_qXo68jkEOw5a18qujtuiTB_zA

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