terça-feira, 6 de maio de 2025
Billie Holiday, a dama em cetim*
segunda-feira, 5 de maio de 2025
Na pele, a brotoeja da peleja
Por Ronaldo Faria
-- E não é isso que é bom? Como diz o poeta, uma metamorfose ambulante. E ululante!
-- Pode ser, desde que para o Flamengo não deixe de torcer...
-- Ô português dos Açores, cure nossas dores. Desce mais!
Na velha máquina de fichas a tocar CDs, um chorinho diz que nada é maior do que o amor por você.
-- Tem dó, quem pode dizer algo assim?
-- Talvez alguém que acredita em destino e peleja para que tudo vire certeza um dia.
-- Esse é um tonto. Vai morrer que nem veio ao mundo: cheio de brotoeja!
Na tevê que está pendurada detrás do balcão, o rubro-negro leva uma sova do Fogão.
-- Mas aí já é merda demais para essa noite!
-- Calma, como disse a freira da catedral toscana, nem sempre se ganha!
-- Caguei pra trocadilhos. E se quiser um: pau no cu dos seus fundilhos!
E aí, no logo mais perspicaz que a prosopopeia faz quimera de poeta loquaz, o empregado pregado na cozinha grita que vai apagar o fogão.
-- Até você, Paraíba? Vai tirar sarro tomando formicida!
-- Calma, mano. Foi só uma derrota. Na próxima a gente faz samba dessa nota.
-- Quer saber, talvez você tenha acertado a canção. Vamos voltar a falar do Humberto, aquele vacilão. Foi no churrasco, com as carnes contadas porque ele só comia folha picotada, e devorou metade da churrasqueira. Ou seja, neguinho que ajudou na vaquinha ficou pistola com razão.
-- É. Mas ainda bem que ele voltou pro grupo. Achei que se ele continuasse igual ia encontrá-lo plantado num vaso a dividir espaço com vidro de colorau.
-- Já pensou ele servido como salada?
-- Ia fazer vomitar até a Salete, nossa fada.
Da caixa registradora, Adamastor se relata: “Moçada, a festa acabou! Amanhã tenho que ir logo cedo na Ceasa!”
-- Pelo menos sai a última?
Com a presteza de quem tem pressa para fechar ela logo chegou.
-- Agora, só de sacanagem, vamos enrolar pra tomar e pagar...
-- Melhor não, amanhã vamos ter de acabar voltando pra cá.
-- É justo. Afinal, vai que ele diz que a cerva está no final...
-- Ou nos serve só garrafa quente...
Indulgente, o tempo finda ao seu casual. No The End, os letreiros mostram que o técnico pediu desculpas pelo vexame e disse que foi tudo circunstancial. No próximo mês, milhares de caixas de Brahma ou Eisenbahn cairão na sua conta feito cifrão.
sábado, 3 de maio de 2025
Choramingando no choro
Por Ronaldo Faria
O lampião aceso, com odor de
percevejo queimado pela luz, ilumina a cena da praça e do coreto. Valfrido,
mítico tocador de violão, chora quieto. Seu choro sai baixinho, com direito a se
escutar os relâmpagos que surgem no negror. Nalguma tipografia clandestina a
hipocrisia da Corte está sendo descrita. Se tal escrita chegará em pasquim aos
raros leitores alfabetizados, saber-se-á. Do alto de um sobrado, Faustina espera
o pai ir dormir para a seresta que o seu amado lhe prometeu. “Mesmo com esse
tempo a prometer chuva e lamaçal no seu chegar, ele virá” – pensa a jovem no
seu virginal penhoar. Mas o seu consorte, infausto ser que se perde nas
tabernas entre as pernas das moçoilas que se vendem a vinténs, está largado a
ver lágrimas baterem nos degraus do coreto. Agora, nem um minueto o fará lembrar
da promessa. Certamente, insone e descrente defronte da rua encharcada de tudo que
desceu morro abaixo, Faustina será apenas uma donzela frágil, sem rima.
Um pouco distante, no
matadouro do lugarejo, um porco dá seu último respiro de dor. Suas tripas caem
na gamela. Seu sangue deixa retinto o chão de tijolos queimados. Um pouco mais
de tempo e estará na venda ou na feira antes de ferver nas panelas de barro.
Seu novo cheiro, cercado de temperos e esmero da mucama, irá se sobrepujar ao
da lenha que chora num crepitar de cor brilhante e pujante. Chegará à mesa dos
comensais com a destreza da receita para ninguém reclamar da falta de sais. Irá
forrar estômagos e, nas sobras, aliviará a fome daqueles serviçais que não têm
com o que sonhar. Seus ossos, atirados ao léu, irão virar manjar aos cães das
ruas. E seu destino estará feito. Com rabo, orelha e focinho...
Mas e Valfrido e sua Faustina?
Que infausto destino o mundo lhes dará? Na pequena igrejinha (na redundância de
sua pequenez), o sacerdote conta o dote que o barão, morto e enterrado, deixou
à irmandade. “Devia ter buscado servir a Deus numa melhor cidade”, pensa o enviado de Deus. Com as
portas abertas, aos poucos velhas beatas, com seus véus sujos e encardidos de promessas
vãs, se sentam para ouvir as palavras divinas. A maioria, já surda pela
idade, se satisfará em comer a hóstia. E todas voltarão para suas casas irmanadas
como filhas de Maria. Menos Isaltina. Essa tentará mais uma vez, em vão, sentir
o padre fungando no seu cangote. Ele, porém, tem mais o que fazer na sacristia.
A balançar o incenso está Desidério, o coroinha. Assim, na ignóbil fé das
verdades que permeiam livros sagrados, o ágrafo parágrafo que diz que a verdade
é coisa de cada um no seu quadrado.
Mas e Valfrido e sua Faustina? Que infausto destino o mundo lhes dará? Devagar, o sol surgiu ensimesmado e redondo para expulsar as poucas nuvens negras que teimavam em lavar o chão encharcado e enxaguado. No aguardo inútil e fútil, a formosa dama, ainda virgem e carente, dorme num sono que não há gente que a desperte. Já seu poeta e esteta, depois de encher de tristeza a escadaria sombria do coreto, decide ir para baixo da janela da petiz já mulher. Mas, para azar o seu, Major Clemêncio, já desperto e com seu revolver à mão, sem clemência o expulsou a tiros do local. “Se voltar aqui eu prometo te acertar e, depois de catar o seu corpo morto, arrancar os bagos e dar para o bicho que quiser comê-los!” Passada a cena, a jovem apaixonada, agora acordada, teve a notícia de que estava prometida a Galhardo, filho de um conde de título comprado mas que tinha a galhardia de um nunca bastardo. Sem poder sequer contestar, calou-se e foi para seu quarto chorar. Já o antigo e nunca apaixonado no aguardo, que fugiu dos tiros como um tornado, desagua a certeza de estar vivo na casa de Filomena, a amena dona do bordel fatal. No derredor, há quem diga que tudo está melhor...
quinta-feira, 1 de maio de 2025
“Bota na tua cabeça que isso aqui vai render” (Ou à Letrux)
Por Ronaldo Faria
Translúcido no púlpito da igreja forrada de bancos de madeira, imagens de santos e orações fálicas, o padre ora pela salvação dos transeuntes que passam depressa pela rua na pressa de quem sabe que o próximo minuto será menos um. Nas praças prosaicas se misturam mães, babás, bebês e bêbados largados nos bancos. Os cheiros de almoço futuro permeiam tudo. Haverá peixes fritos, linguiças picantes, bifes e fritas, feijão por cima ou debaixo do arroz. Teremos também sinas insolúveis: “Odeio jiló, você sabe! Quer me foder ou se separar?” No final, uma xícara de café solúvel. Sofrível, um solilóquio se fará de duas vidas. Para quantificar tudo que acontece no lugar, somente o ganido do cão abandonado pelo tutor.
Nos pudores da Tijuca, tragicômica pantomima de um passado desgarrado da sina, Germano lambe Alice, mas se pensa no meio das pernas de Doralice. A se entregar ao furor do sabor do sexo e volatilizar sua solidão sem nexo por onde for. A migrar de cinema em cinema, nas sessões ininterruptas e góticas, a chupar dropes de anis ou hortelã. Em casa a sua avó tenta terminar o cachecol de lã. “Mas o que é correr entre máquinas do elevador emperrado depois de subir paredes feito lagartixa com medo da morte?” Na esquina o pipoqueiro deixa o pipocar do grão do milho estourar no desejo de quem ainda enseja o ensejo derradeiro. Sorrateiro, o pivete apenas espera alguém marcar ao tirar a carteira do bolso para pagar. No céu, o sol sombreia a pereira que resiste no quintal da casa que pede para não cair. Nela, um cacho, maduro, espera algum dente lhe mostrar que valeu brotar...
terça-feira, 29 de abril de 2025
Sim e não
Por Ronaldo Faria
-- Sim e não. É foda, mas quem disse em sã consciência que foda é ruim? Além disso, quem foge do seu destino, dizem, é um fraco. Logo, que possamos cair lutando.
-- Tem razão. Deoclécio, manda mais uma, daquelas de canela de pedreiro...
Os amigos, triviais seres fortuitos, se jogam à resenha feito mulher prenha de primeira vez a tirar as dúvidas com o obstetra. Na destrambelhada avenida que corre na noite que permeia o lugar, gente trafega e se esfrega na retreta ofegante de um lumiar.
-- Dizem que o dia amanhã vai nascer mais cedo.
-- Não creio. Por quê?
-- Só pra dizer que mais um dia soube raiar. Nos raios de sol ou fim do luar...
-- Desde quando você virou poeta?
Fabrício tinha virado escriba do amor desde a chegada de Maria na sua vida. Morena de olhos com cor de marrom claro feito barro lavado de chuva matinal, dessas que mata a sede das árvores sedentas de vida, ela tinha refeito seu desejo de viver.
-- Sabe, Porfírio, a rima e a poesia surgem assim: botam pra foder a cabeça da gente, de repente, num rompante ou num repente, e brotam feito planta invasora de vaso, pilantra da botânica.
-- Sei. Coisa de nordestino perdido em São Paulo.
-- Pode ser. Pau de arara também encontra o galho onde botar o seu ninho.
-- Com certeza. Afinal, ovos têm que se colocar nos cestos...
-- Se bem que eu prefiro os cor de rosa. Deoclécio, manda ver dois ovos coloridos que vão apodrecer aí!
Numa mesa logo perto, um desafeto da vida espera que a chuva desabe torrencial, feito juízo final. A felicidade dos outros é limiar sob um fio. A esse, até mulheres que se vendem teimam em chamar de tio. Fim de carreira. Como solução da cisão, carreiras batizadas de gesso ou farinha na farinha pura são a solução nos soluços solitários da falsa orgia.
-- Me diz, de verdade, tem coisa melhor do que um amor?
-- Tem. Dois!
-- Aí não tem coração que aguente...
-- Mas não é quando o coração para que a gente morre? Então que se morra de paixão.
Os dois, calejados na vida, com seus cajados quase gastos de tanto buscar o lado certo da metade de uma laranja lima, agora só divagam e vagam nas vagas que levam as caravelas com suas velas rasgadas na busca de um porto que nunca se revela.
-- Acho que já deu...
-- Sério?
-- Amanhã tem trampo. Hora de pegar o trem lotado, virar sardinha sem óleo, que esse está custando caro.
-- Então valeu. Deoclécio, fecha a comanda!
Ao comando da voz, o ensimesmado dono do bar traz a dolorosa.
-- Tem certeza de que a coisa de servir duas e marcar três não virou?
Deoclécio nem responde. Recoloca o pano de prato no ombro e vai em direção ao balcão.
-- Se tiver dúvida da minha honestidade, não pague. E vá se juntar à sua mãezinha...
Conta paga, os amigos caminham trôpegos e voláteis pela rua encruada na metrópole atropelada pelo tempo. Quando o novo dia chegar, quando o cartão bater no som da fábrica que fabrica luxo para o patrão, eles seguirão seu destino como a dúvida entre o sim e o não. Mas, quem foge do seu destino, diria o senhor da eternidade, no depois e após das nuvens claras, puto da vida de nada ter ensinado: “Não fode!”
domingo, 27 de abril de 2025
Tony Bennett desplugado *
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Destino em desatino
Por Ronaldo Faria
-- Não sei. Acho que eles inspiram. E expurgam nossos pecados. Se é que eles existem no amor. Pra mim, não há nada a se arrepender quando o destino junta dois e decide nunca deixar largar de mão a estrada desconjurada que segue lado a lado, mesmo que em direção oposta.
-- Tudo como uma aposta da vida?
-- Acho que não. A posta do peixe que nada na correnteza contrária e pega uma calmaria ou tempestade está na mesa de qualquer jeito. Destino em desatino... não aposta.
-- Parece fácil falando assim.
-- Mas quem falou que seria fácil? Os grandes romances, os épicos, os que valeram história, livros e peças, são um enrosco só. Quase uma tragédia, não terminassem bem. Pode demorar o tempo que for, mas a coisa se ajeita. De um jeito ou de outro, tudo se ajeita. Difícil, talvez. Impossível, nunca. Feito beijo na nuca.
-- Torço por isso.
-- Não precisa torcer. Sabe aquele ditado de o que é do homem o bicho não come? Pois é a mais pura verdade. Ele vence tempo, ausência e saudade. Mas finda em chegar no lugar.
-- Espero, de coração aberto, que sim.
-- Pois será...
O casal, no seu castelo de sonhos e realidade, desses que se constrói com cada pedra de beijos longos, longas noites, longínquas falácias que a vida dá, amores de camas e sofás, pés na areia e no asfalto, entre entremeios de vozes e meios escritos de tinta em rotativas que escorrem histórias e histriônicas crônicas que só quem ama sabe contar está, a saber. Na solidão que põe os dois em portos opostos, a solicitude da atitude que deixa o tempo, em ampulhetas, sorver o que tiver de ser, até a hora chegar.
-- Quer outro vinho?
-- Prefiro um beijo, com gosto de vida...
No apartamento pequeno, largado entre outros tantos apartamentos igualmente diminutos, vivem seus minutos em fim de tormento. A paz se transborda de carícias e gozos, num unir que se mastiga feito pimenta ardida, coisa urdida para sempre ficar. De mãos dadas e entrelaçadas, na caçada de entrega ao outro, dois rostos se entreolham em olhos sedentos pelos dentes que as línguas lambem sem fim. Do lado de fora, no aforismo final, outros tantos casais tateiam as ruas escuras na esperança de que um pedaço do amor dos dois tenha escorrido pelo ralo para onde escorrem canções e unções que habitam seus corações.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Perguntinhas tacanhas e tontas
Por Ronaldo Faria
A trágica realidade do derradeiro pulsar? A sentença da perfídia que qualquer clamídia traz? A incerteza trágica do vangloriar por nada conquistar? E a pipoca do colégio na Tijuca, como comprar sem ter grana, saber-se-á qual seja ela? E tem o pirulito do Zorro, a bala assassina Soft, o chocolate comprado antes de pagar o barbeiro e quase levar a sova única que era, talvez, melhor do que o olhar severo. Mas e a parede que se abriu para nos levar no berço do quarto do casal casual? Foi sonho? Se o tivesse sido, por que permanece vivo até hoje? Saber-se-á. Saberemos um dia, no acolá. Agora, prestes a lembrar que apertei a mão de Luís Carlos Prestes no auditório da PUC, formato da formatura sem fotos ou gramaturas. Se muito a brisa no apartamento de Ipanema em meio a entremeios fugazes. Depois, cada um com seu cada qual infame ou não como inhame que brota do chão. Assim, por fim, de saudades e efemérides casuísticas e cáusticas, vivamos cantigas de paz. Afinal, que tempo diferente era esse há quase 70 anos? Pra nós, quase 50. Com certeza um tempo de cartas demoradas, talvez um telegrama fugaz, um telefonema de fichas às dezenas a pingar no aparelho maldito, a incerteza célere de momentos felizes, como diria o poeta maior, no penar. E como saberíamos que agora viajamos pelo universo do verso em devaneios bêbados sem destilados tragados? Tempo, senhor da vida, nos traga o trago ensandecido que, como diz a música, já sabemos que descolorirá...
terça-feira, 22 de abril de 2025
O blues elétrico em estado puro*
segunda-feira, 21 de abril de 2025
À Rita eterna Lee e tantos mais
Por Ronaldo Faria
-- Ronaldo, isso é pergunta a se fazer?
Porra, surge Toquinho a tocar.
-- E se Vinicius de Moraes estivesse vivo?
-- Aí seria o paraíso em Terra!
-- E se Adoniran estivesse aqui?
-- Nesse caso seria sacanagem para virar eternidade de bar.
-- Mas qual bola? Tudo no fim não vira a mesma merda?
-- Infelizmente. Parece que sim...
-- Então é o passado que conta?
-- Parece que sim.
sábado, 19 de abril de 2025
Trovadores urbanos
Por Ronaldo Faria
-- Gabriela! Já pra dentro!
A menina quase mulher feita de todo, obedece a matriarca. O jovem, rapaz que ainda irá demorar a virar um homem inteiro, sai de fininho do lugar. Ele sabe que é hora de esperar. A boca de Gabriela ainda lhe voltará ofegante a chegar. De tantos dias que faltam para a vida virar, é certo que isso acontecerá.
Na rua, chorões tocam para a amada que, deitada na cama com lençol de cetim, sonha em ser como as mulheres que se escondem na casa de luzes vermelhas e sons de vitrola de 86 rotações esganiçada e real. No poste prostrado até que a rua vire avenida e seja derrubado, o cachorro vira-lata urina um mijo quente e fortuito. No boteco perto, amigos se embriagam em tragos homéricos. Logo, em périplo, seguirão para suas casas. Todos soturnos e macambúzios chegarão decerto nalgum lugar. Sobre eles, um utópico e róseo luar. Talvez a estrada que trilhamos, mas nunca conseguiremos findar. Ao meio dela haverá um coração que irá parar, uma poesia taciturna que não findará, um amanhecer que chegará sem o respirar. No largar do tempo, o lagar fugidio e misterioso que as respostas que fazemos no “se fosse diferente” não têm respostas postas.
-- Gabriela, te amo!
O grito, entre quatro paredes, paradoxo da paixão, surge surdo para aquela que se deseja. Mas ela saberá do que foi dito e redito. Famigerado e esfomeado de línguas e cuspes que adentram a garganta infanta, o poeta ouve o tango cantado de um paulistano que ouvimos sem saber o destinatário real. Sem olvidarmos o mal, translúcidos e lúcidos ao dia que logo irá raiar sem muito a dizer ou virar, ficamos à espera de um alvorecer disseminado de lampejos de canções.
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Sem remediar o futuro
Por Ronaldo Faria
-- Não, não pode.
Quase de bode, Belisário, emissário de si mesmo, concorda com tudo que ainda o faz acordar. De acordo com as premissas que nem o padre consegue dissecar na missa, segue impoluto. Um mero puto, diriam.
-- Lembrar do Leblon, do Méier, da Tijuca, das desventuras e bem-aventuranças do passado é um erro?
-- Acho que não. Mas quem sou eu, um não-sonhador, para responder?
Cheio de nenhuma resposta e postas de peixe que nunca chegaram para ele comer, Belisário é apenas uma pena volátil que cai do céu onde nunca saberemos o fim. O pássaro que a largou em pleno voo poderá ser uma mera pomba pública e voraz ou um beija-flor no seu parar de asas a rimar poesia e fútil cruz.
-- Amanhã será já sabemos como. Mas fugir do seu destino em desatino é muita covardia?
-- Essa eu sei responder. É!
Menino e solitário, no sacrário que o destino concebeu, Belisário permanece concebido e enternecido, renascido, no silêncio que a noite traz. O que lhe apraz? Pouco ou nada. Rouco quando redescobre a alegria de viver nas mesas de bar, cercado de gente que à pena ser, seu caminho é um desritmado surgir de tempos em tempos, transversos caminhos fúteis, famigerados e famélicos aninhos entre os seios da amada, a acordar na madrugada para fazer a cama, enlouquecida, viajar e rodar no quarto.
-- Com certeza. Na frieza da realidade, a fugidia ternura dormirá retinta de sangue que o coração apaixonado ainda tinge a cada madrugada vadia.
Depois de tal explicação, Belisário, arcaico senhor de suas saudades suadas e ímpias, entre lagoa de sapos e porres de vodka nas ondas do mar, se submete à vida. Logo mais dormirá, terá pesadelos, anginas, prazeres refeitos. Será, enfim, um ser normal. No local, ninguém, em sã consciência, dará aval.
terça-feira, 15 de abril de 2025
No arco-íris irado
Por Ronaldo Faria
domingo, 13 de abril de 2025
Miles Davis, Gil Evans e uma obra prima
sexta-feira, 11 de abril de 2025
A lua rosa
Por Ronaldo Faria
-- Qual?
-- A lua rosa, cheia, mas da mesma cor. Branca.
-- Por acaso, não. Não tenho tempo de olhar para o céu.
No palco inexato da paródia, como um paradoxo ácido e ávido de ser algo real, os dois traziam a verborragia dos bêbados à cena ideal. Letal, a cachaça descia tardia pela Rua do Lavradio. Pelos paralelepípedos, em epíteto trágico e volátil das palavras, escorria o verbo do verso no esgoto cercado de lodo. Um louco vaticinava o cenário que a cidade desbravava. Um grupo de idosos descia tempo a fora com suas bengalas e passados em passadas curtas. Uma pomba cagava sobre o carro importado sem se importar com a pintura cristalina. Uma ou outra nuvem iluminava o rosto da jovem anuviada pelo amor perdido e perfeito. No vazio de um peito atormentado, dentadas de bocas banguelas comiam o resto de farofa que o restaurante de luxo jogava no lixo. Nos lábios molhados e sedentos dos amantes púberes, a plúmbea lua rasgava as nuvens que se misturavam cinzas e límpidas. Em alguma nau catarineta o poeta marginal buscava o que rimar com ...
Como, raro leitor? O que aconteceu com Miriam Lane? O chá de bebê dela e do Pinguim está marcado para o próximo mês. Eles pedem, encarecidamente, por fraldas descartáveis. O super-homem, que poderia salvar a trama, estava de férias em Andrômeda e não ouviu os gritos da ex-amada do morcego que descansava em Bangu 8.
Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito
Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...

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Por Edmilson Siqueira Sergio Mendes é, sem dúvida, o mais bem sucedido artista brasileiro no exterior. E não só nos Estados Unidos. Seus di...
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Por Ronaldo Faria O CD Cazas de Cazuza – A Ópera-Rock é de 2000. Dez anos após a sua morte, vítima da Aids. Dos discos que homenagearam d...