Ela morreria no
ano seguinte, mas, em 1958, gravou um dos discos mais emocionantes e comoventes
da história do jazz: "Lady in Satin". Foi o penúltimo álbum de
estúdio de Billie Holiday e seu último trabalho concluído antes de sua morte,
em 1959. A obra se destaca não apenas pelo talento vocal da cantora, mas,
também pela carga emocional de sua interpretação, que reflete sua vida marcada
por adversidades e sofrimento.Ao contrário dos álbuns anteriores, que
frequentemente traziam o acompanhamento de pequenos grupos de jazz, "Lady
in Satin" aposta em uma sonoridade orquestral sofisticada, conduzida pelo
arranjador Ray Ellis. A seleção de canções enfatiza temas de amor, perda e
resignação, sendo um espelho da própria vida de Billie Holiday. Algumas das
faixas ressoam como confissões dolorosas da artista.
O maestro e arranjador Ray Ellis, no relançamento do disco em CD, em 1997,
escreveu um texto para o rico folheto que acompanha a obra. Nele, Ellis se
recorda do choque que levou ao ouvir o playback da primeira música gravada:
"Quando começamos a gravar e eu ouvi o primeiro playback, fiquei chocado.
A qualidade da voz de Billie estava realmente deteriorada. Isso ficou evidente
para mim depois de ouvir todos os seus discos anteriores. Eu me lembro quão
intimidada Billie parecia quando chegou para a primeira sessão e viu uma
orquestra de 40 músicos esperando por ela. Eu a apresentei e os músicos todos
deram a ela um educado round de aplausos. O que pareceu acalmá-la".
E talvez essa
fragilidade vocal - aos 42 anos, sua voz estava visivelmente desgastada devido
ao abuso de drogas, álcool e anos de dificuldades pessoais - seja o que torna
"Lady in Satin" uma obra tão impactante. A rouquidão, a respiração
ofegante e as notas por vezes falhas se tornam parte da narrativa do álbum,
conferem uma sinceridade brutal a cada palavra cantada. Se tecnicamente sua voz
não tinha mais o brilho dos primeiros anos, emocionalmente ela nunca havia sido
tão expressiva.
O maestro Ray
Ellis expressou admiração pela maneira como Billie Holiday interpretou as
canções. A combinação entre os arranjos exuberantes e a voz frágil e cheia de
experiência de Holiday criou um efeito contrastante que dividiu críticos e
público na época do lançamento. Muitos estranharam a abordagem orquestral, considerando-a
uma moldura inadequada para a voz marcada pelo tempo da cantora. Outros, no
entanto, reconheceram no álbum um testamento artístico incomparável.
Ray Ellis, ao se
recordar das gravações encerra assim seu pequeno artigo escrito 39 anos depois:
"Olhando pra trás, eu sinto que tive muita sorte ao ser envolvido nesse
álbum. Eu nunca havia notado o impacto que o disco teve até quando estive em
Madri, na Espanha, em 1990. Um amigo me apresentou a um conhecido seu que não
falava inglês. E eu não falo espanhol. Mas quando ouviu o meu nome ele disse:
'Ray Ellis? Billie Holiday?'"
Com o passar dos
anos, Lady in Satin foi sendo redescoberto e reavaliado. Hoje, é considerado um
clássico, reverenciado por sua autenticidade e pela maneira como captura a
essência de Billie Holiday em seus momentos finais de estúdio.
Os críticos à
época escreveram que "Lady in Satin" não é apenas um álbum de jazz:
"É uma experiência emocional profunda, um testemunho da resiliência de uma
artista que transformou sua dor em música."
Eu já ouvi o
disco muitas vezes, mas a cada audição, se percebe não só a genialidade de
Billie, mas ouve-se a própria vulnerabilidade humana transformada em
arte.
O CD que tenho
foi lançado em 1997, numa edição caprichada. São 13 músicas, sendo que duas
delas tem 3 versões cada. E uma delas mostra as tentativas de gravação, com
Billie errando e acertando o tom e a afinação. Essa versão tem 9 minutos e 49
segundos. É uma preciosidade. Sendo assim, o disco acaba tendo 16 faixas.
- I'm A Foll To
Want You (J. Wolf, J. Herron e F. Sinatra)
- For Heaven's
sake (S. Edwards, E, Bretton e D. Meyer)
-You Don't Know
What Love Is (D. Raye e G. Depaul)
- I Get Along
Without You Very Well (H. Carmichael)
- For All We
Knoiw (J.F. Coots e S. Lewis)
- Violets For
Your Furs ((Addair e Dennis)
- You've Changed
(M. Carrey e C. Fisher)
- It's EasyTo
Remember (B. Rodgers e L. Hart)
- But Beautifuk
(J. Burke e J. Van Hausen)
- Glad To Be
Unhappy (R. Rodgers e L. Hart)
- I'll Be Around
(A. Wilder)
- The End Of A
Love Affair (E. Redding)
- I'm A Fool To
Want You (Take 3)
- I"m A
Fool To Want You (Take 2)
- The End Of A
Love Affair: The Audio Story)
- The End Of A
Love Affair (Stereo)
O disco pode ser
ouvido na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=gncbydxqE4Y . E pode ser
comprado, tanto em LP (mais caro) como em CD nos
bons sites do ramo.
*A pesquisa para este artigo foi auxiliada
pela IA do ChatGPT
Nenhum comentário:
Postar um comentário