Por Edmilson Siqueira
Uma revista chamada Audio News, que nem sei se ainda existe (parece que agora é só digital e se chama Audio Vídeo Magazine), costumava publicar, junto com as matérias técnicas de aparelhos de sons e congêneres e culturais de música, um CD como brinde para os leitores. Esses CDs andaram por aí, ganhando vida própria nos sebos e, apesar do indefectível aviso "exemplar promocional - venda proibida", eles eram (e são) comercializados, alguns como raridades.
Eu tenho um desses, nem sei se é raro e devo ter comprado na Hully Gully Discos, do meu amigo Osny.
No pequeno texto do encarte que acompanha o CD, a promotora escreveu que a seleção era uma junção do que já era clássico com artistas contemporâneos. E que o disco veio pronto da série especial da Movie Play "Remember CD Collection".
O disco se chama "The Best - Música Americana" e a primeira faixa é "Kiss" (Gillespie e Newman) cantada por... Marilyn Monroe, que, evidentemente não poderia entrar numa lista de "the best" das vozes da música norte-americana. Talvez seja até uma brincadeira da seleção, embora ela cante direitinho essa música. O fato é que, depois dela, surgem Nat King Cole, Frank Sinatra, Fred Astaire (um grande cantor também), Al Johnson, Ray Charle e Betty Carter, Pat Boone, Sammy Davis, Jr. e Shirley Bassey entre outros. Ou seja, um time que merece estar entre os melhores mesmo.
Há, ainda, Judy Garland e Marlene Dietrich. Ambas se notabilizaram por suas atuações nas telas muito mais que nos discos, mas, se não estão entre as melhores cantoras, não estragam a seleção. Enfim, o disco é gostoso de ouvir, tem alguns clássicos, mas acho difícil de encontrar por aí. Se ajuda, ele fez parte da edição 55 da Audio Vídeo.
Marilyn Monroe, na abertura do disco, aparece com sua voz quase sussurrada, cheia de "sex appeal", com um coro masculino a auxiliá-la, deixando a faixa toda muito agradável aos ouvidos.
Nat King Cole vem a seguir, com "Sweet Lorraine" (Burwell e Parish), gravação da primeira fase do cantor, logo que ele deixou de ser apenas o condutor do seu trio de jazz e passou a usar o vozeirão e o talento para nos encantar.
O clássico "Smile" (Chaplin, Turner e Parsons) é a terceira faixa na voz de Judy Garland, gravação ao vivo como acusam as palmas no final. A música fez parte da trilha sonora do filme "Tempos Modernos", de Charlie Chaplin, de 1936. No filme, a música que é de Chaplin e David Raksin, ainda não tinha letra, o que só aconteceu em 1954, por obra de John Turner e Geoffrey Parsons.
A quarta faixa nos traz Frank Sinatra cantando Cole Porter: "You Do Something To Me", música feita para um musical de 1929 ("Fifty Million Frenchmen ") e que Sinatra gravou em 1961.
Outro clássico, "Cheek to Cheek", (Irving Berlin) nos é apresentado por Fred Astaire. Detalhe: essa foi uma das muitas músicas feitas para o ator, bailarino e cantor Fred Astaire apresentar em seus filmes. Muitas hoje são clássicos da música norte-americana. "Cheek to Cheek" foi escrita por Berlin para o musical "Top Hat". Nele, Astaire canta a música para Ginger Rogers num número de dança.
Al Johnson, que nasceu na Lituânia e se consagrou como cantor nos EUA, canta a sexta faixa, "Sonny Boy" (De Sylvia, Henderson, Browm e Jolson). Com estilo lacrimoso dos cantores dos anos 1930, Al faz bem o contraste entre o "antigo" e o "moderno" que a selação pretende.
A sétima faixa traz de novo o som "atual" do fim dos anos 1950, com Peggy Lee cantando "Fever" (Davenport e Cooley), que foi gravada por vários cantores. Ao som de um contrabaixo, com repercussão de dedos estalando e pequenas intervenções da bateria, essa versão tornou-se a mais conhecida, com letras reescritas e um arranjo musical alterado. Foi top 5 na Inglaterra e na Austrália, além de ter ficado entre os dez primeiros nos EUA e na Holanda.
Frank Sinatra volta com seu velho e bom estilo para cantar outro clássico: "Night and Day" (Cole Porter), música feita em 1932 para o musical "Gay Divorce" (gay não tinha, à época, o significado de hoje). O musical tinha Fred Astaire cantando o futuro hit. Segundo a imprensa da época, três meses depois da estreia, nada menos que 30 cantores já haviam gravado "Night and Day".
A nona faixa traz a "cantora" Marlene Dietrich que até cantou "Luar do Sertão" no Brasil, numa visita ao Rio de Janeiro. Aqui ela canta "Lili Marlene" (Schultzel e Leip), canção alemã que se popularizou no Estados Unidos depois do filme "Julgamento de Nuremberg", onde a própria Marlene canta trechos da música ao lado de Spencer Tracy.
A dupla Ray Charles e Betty Carter, que gravou um disco sensacional, é a responsável por outro clássico deste disco: "Ev'ry Time We Say Goodbye" (Cole Porter). A gravação, que abre o disco da dupla, foi feita em 1961.
O cantor Pat Boone que arrastava multidões em seus shows, é o responsável pela faixa número 11 desta seleção: "April Love" (Webster e Fain). Típica balada romântica norte-americana, Pat Boone nos entrega aqui a mesma qualidade de sempre.
Peggy Lee volta para mais um número na décima-segunda faixa: "Black Coffee" (Webster e Burke). Tíco jazz novaiorquino, Black Coffee, a música foi gravada inicialmente num LP de 10 polegadas, em 1953. Três anos depois, Peggy voltou aos estúdios e gravou mais algumas faixas para um novo disco, desta vez de 12 polegadas, tamanho que foi o consagrado na indústria fonográfica.
A décima-terceira faixa é mais pop que jazz: "The Candy Man" (Bricuse e Newley), cantado pelo grande Sammy DAvis, Jr. A música foi feita para o filme "Willy Wonka & the Chocolate Factory", de 1971. Apesar do sucesso na voz de Sammy, ele jamais gostou dela.
Por fim, "Send in the Clowns" (Sondhein), com a sempre ótima Shirley Bassey, encerra a coletânea. A música foi feita para o musical "A Little Night Music" em 1973.
Ao pesquisar no Mercado Livre, descobri que este CD não é raro: há vários exemplares à venda por preços irrisórios, entre 15 e 25 reais. Não encontrei no Youtube ou em outros sites de música.