Por Ronaldo Faria
segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Zé dá o Tom final
sábado, 14 de setembro de 2024
Vem Tom Zé
Por Ronaldo Faria
Concreto que traz o feto e até
tátil texto. Na textura da pele que sombreia o sol no meio de paralelepípedos e
epítetos do poeta informal, o calor, infernal, não dá happy ou end. No urro que
o sussurro traz, a loucura insípida dá sinais que inépcia de quem da filosofia
dá tal resposta surge certa. Na posta do prato feito, rarefeito e morto, o
peixe surge como mestre-sala diante das batatas que brigam entre si para serem
porta-bandeira. Nenhuma delas sequer quer ser passista ou rainha de bateria. Profana
gama de possibilidades, a felicidade vê na cidade sua concretude e ataúde num
desabar sobre os homens. Nos balaústres trágicos que escondem vidas perdidas e
urdidas, feito japoneses da Liberdade como kamikazes, o mundo vai abreviando o
tanto que a chuva não trouxe em enchentes e mentes. Desavisado e catártico, o
mendigo da Praça da Sé nem sabe o que é fé. Seu marco central é uma garrafa de
pinga e aquilo que a vagina da louca do crack deixa ser. Nos bairros nobres,
onde apenas as pernas dos barões do passado têm acesso, o poste aceso pranteia
o fim. No asfalto infausto por onde passam milhões de faróis e vidas, a
crueldade do dinheiro no bolso ou no cartão de plástico se impõe.
II
Nas priscas eras, São Paulo, com um imperador comedor de suas vassalas mil, foi palco de uma liberdade eufórica, utópuca, dramática e quase antecipação do carnaval. Entre cavalos, burros e seguidores promíscuos, disse que o Brasil era livre para ser dominado por seu legado. No alvorecer de algum lugar, fez surgir um país em que a propina em tudo dá. É só plantar. E como se plantou em centenas de anos... Os alqueires que nem a mais remota Vila Valqueire carioca sabe expressar, logo se transformaram em milhares de fidalgos. Barões, condes, viscondes, puxa-sacos, coronéis, fiéis seres de revés, todo o tipo de gente virou agente perfumado e programático. Na maledicente história que a escória não sabe lembrar, a solícita solicitude que se faz somente pandeiro e violão. Na feira, o peixeiro grita que o seu produto acabou de sair da água. Só se for do Rio Tietê. Como tempero há mil e umas doenças a se pegar e florescer. Vamos, portanto, nos agregar. Mas é promoção! Esqueçam a futura emoção! A morte para todos é certeza de unção. Logo, sejamos seres inocentes e tementes, indecentes e proeminentes. Nos postes e luzes, argonautas do asfalto, infaustos seres concretos, nos transformemos em insanos poetas bêbados e vívidos nos lingotes de ouro que nunca chegarão nem perto de nossos cangotes. Frangotes, continuemos a brigar pelo creme dental, esse ser fatal para nossos dentes não despencarem podres na ponte da água estagnada e estaiada...
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
A pintura da beleza da rua
Por Ronaldo Faria
Josualdo, crente convicto, invicto nas tramas do amor, que nunca tinha tocado um lábio sequer, no passado quase um seminarista, não fosse semianalfabeto, parou aquilo que fazia. Achou que a mãe de Jesus, mulher de José e fecundada por uma pomba igual a que cagava, estava a entrar. Só de maldade, um raio de luz invadiu pelo vitral mais limpo o lugar. E bateu direto no rosto da mulher. “Meu bom Senhor, o amor será isso? Desejo, criatura e flor? Flor a nascer no louvor?” Simplório, temeu enfartar sem sequer sentir alguma dor.
À medida que Pafúncia andava sobre o mármore rosa encerado que a igreja mostrava aos pobres de espírito, Josualdo suava em cântaros e cantava loas de louvor. Mas via, no meio de sua calça, algo crescer e endurecer em clamor. “Senhor, aqui não! Tenha dó de quem sempre em ti se dedicou!” Mas a mulher, que nenhum homem com seu hímen deixaria de sonhar, se criava e surgia mais forte que o medo da morte no inferno chegar. Sem ágio de mercado, ela era o naufrágio de tantos anos perdidos. Era o lumiar e o vazio juntos e untados.
Enlouquecido, sem saber o que acontecia consigo e seu corpo, até então oco, Josualdo correu para a rua. Desnorteado, sem norte ou sul, correu para longe da egrégia igreja. Queria apenas ter respostas que a hóstias já não lhe davam. E tanto mais correu e caiu, levantou, correu. Queria ficar o mais longe possível do pecado. Era isso. Aquela mulher de seios fartos e coxas que dançavam ao vento fátuo era o demônio a lhe cobrar crença. Exausto da vida, no cadafalso que todos nós um dia subimos, não vê que um ônibus chega rápido. Mal tem tempo de dar o último suspiro. Na igreja, Pafúncia recebe a ligação de mais um cliente.
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Trânsito a transitar
Por Ronaldo Faria
domingo, 8 de setembro de 2024
Ella e Louis
Segundo CD:
- Let's Call the Whole Thing Off (George e Ira Gershwin)
- These Foolish Things [Remind Me of You] (Harry Link, Jack Strachey e Hilt Narvell)
- I've Got My Love to Keep Me Warm (Irving Berlin)
- Willow Weep for Me (Ann Ronell)
- I'm Putting All My Eggs in One Basket ((Irving Berlin)
- A Fine Romance (Jerome Kern e Dorothy Fields)
- Ill Wind (Harold Arlen e Ted Koehler)
- Love Is Here to Stay (George e Ira Gershwin)
- I Get a Kick Out of You (Cole Porter)
- Learnin' the Blues (Dolores Silvers)
Os dois discos, o simples e o duplo, estão à venda nos bons sites do ramo.
O primeiro disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Vh7oIP-QSHs&list=PLL-NbN8uTOijqTJxQ9BMFcDe7UiWDMVwc
O YouTube também disponibiliza o segundo: https://www.youtube.com/watch?v=dtLerPwneMw&list=PLC-4c-dTv6N2o_QYwb9yVPWh2qHxNdsYm
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
A mosca moscando
Por Ronaldo Faria
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
Manhã de Marisa
Por Ronaldo Faria
terça-feira, 3 de setembro de 2024
Seal
Por Edmilson Siqueira
Mas, se não precisa provar nada, não foi fácil chegar aonde chegou. Foi criado por um padrasto e uma madrasta até os quatro anos. Voltou para a mãe aos prantos, acabou indo para o pai (separado da mãe), que era violento. O pai é que provocou o "brasileiro" na biografia dele - Francis Samuel, de quem nada se sabe nos Googles da vida.
Seal nasceu em Londres, acho que nunca conheceu o Brasil e sua música não tem nada a ver com a nossa, o que não impede de ser muito boa.
Ouvi várias interpretações dele na internet, todas muito convincentes e tenho o último CD que ele gravou, em 2018, que se chama Standards. Gravar clássicos do jazz e do pop não é pra qualquer um. É aquele tipo de disco em que o cantor, ciente do seu talento e sucesso, pega grandes hits norte-americanos e ingleses, principalmente do jazz, e faz um disco que, obviamente, vai ser comparado com os discos de "standards" de outros grandes cantores. E Seal não fica devendo nada a ninguém, pois é ótimo cantor.
Seal conseguiu a atenção inicial do público com a canção Killer, de Adamski, em 1990. O single chegou ao número um das paradas no Reino Unido. Em seguida, Seal foi contratado pela gravadora ZTT Records e lançou seu álbum (Seal) de estreia, produzido por Trevor Horn, em 1991. Depois desse lançamento, todos os seus outros discos tiveram grandes produções e alcançaram expressiva venda.
"Standards" tem onze faixas e não dá pra dizer que esta é melhor que aquela, pois ele interpreta bem todas elas e todas são sobejamente conhecidas.
1 - Luck Be A Lady (Frank Loesser) abre o álbum e é uma boa mostra do que virá a seguir. Grande arranjo orquestral e Seal completamente à vontade, sem buscar novidades na interpretação, mas seguindo o ótimo ritmo da música.
2 - Autumn Leaves (Joseph Kosma, Johnny Mercer, Goeffrey, Parsons e Jacques Prévert) é mais que um clássico, pois alcançou sucesso mundial em várias línguas, inclusive português, sendo tocada por inúmeros e grandes jazzistas. Seal vai na linha romântica, com muitos violinos, dando a dimensão da grandiosidade sonora que a música proporciona.
3 - I Put A Spell On You (Joy Hawkins) era, para mim, uma música pop, gravada por um conjunto de rock nos anos 1960. Depois de ouvir muita gente cantando, descobri que se tratava de mais um clássico. Com agudos certos na hora certa e um trompete fazendo solos, Seal dá o tom pop exato à faixa, que conta também com background vocal de três cantoras.
4 - They Can't Take That Way From Me (George e Ira Gershwin) tem gravações soberbas na discografia norte-americana, como Frank Sinatra e Tonny Bennett entre muitos outros. Seal parece não se abalar com isso, dando à famosa canção sua interpretação e deixando-a agradável como sempre.
5 - Anyone Who Knows What Love Is (Arbuckle, Newman, Seely e Sheenan) é uma canção meio épica, também já bastante gravada que aqui conta também um background vocal muito bem colocado, dando uma base sólida para Seal mostrar suas qualidades.
6 - Love For Sale (Cole Porter). Talvez nessa faixa resida um pouco do sangue brasileiro que corre nas veias de Seal, já que a música de Cole Porter pode ser interpretada quase como bossa nova, num compasso meio sambinha.
7 - My Funny Valentine (Lorenz Hart e Richard Rodgers) é outra música que ultrapassa os conceitos de sucesso. Gravada por quase todo mundo do jazz, a música ganhou também interpretações e cantores e cantoras nas mais variadas línguas. Seal lhe presta a sobriedade de praxe dos grandes cantores.
8 - I've Got You Under My Skin (Cole Porter) - O que dizer desse outro clássico de Cole Porter? Seal lhe presta a devida reverência, cantando como a música foi concebida, alcançando ótima performance.
9 - Smile (Charles Chaplin, Geoffrey Parsons e John Turner) - O grande sucesso do criador de Carlitos, que até hoje ganha novas interpretações, é encarado por Seal com a sobriedade que merece. Um arranjo simples que destaca a voz do cantor caiu muito bem para a música.
10 - I"m Begginning To See The Light (Duke Ellington e Jonhy Hadges) traz o ritmo marcante do jazz com a preciosa colaboração no backing vocal do excelente grupo The Pupini Sisters.
11- It Was A Very Good Year (Erwin Drake) fecha o disco e não é, como todas as outras, um standard dos mais conhecidos. Um arranjo lento e uma melodia um tanto quanto difícil de ser interpretada. Mas Seal dá conta do recado.
E mais uma boa notícia: no YouTube está disponibilizado o disco inteiro na versão "DeLuxe", o que significa mais três faixas que não constam do meu CD. Sorte sua. O endereço é https://www.youtube.com/watch?v=PyzKgBI535M&list=OLAK5uy_lX6sHaf6YaJDt-DwB8PTEm0bsf8gyGx2Q&index=2
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Bosco e Aldir
Por Ronaldo Faria
Era para parar, mas com João Bosco e Aldir Blanc, como fazê-lo?
Quatro pra cá e dez por lá. A bater noutros casais e ao menos ter a compostura de pedir desculpas, Bia e Ariovaldo dançavam em garranchos de reviravoltas e voltas tresloucadas que nem a banda de tantos anos de bailes conseguia seguir. “Onde será que esses malucos aprenderam a dançar?” – se pergunta o maestro sem saber como acompanhar a dupla que beijava-se na boca.
Dez pra lá, saber-se-ia contar ou descontar quantos pra cá (onde é o tal cá?). O dia já está brincando e brigando com o tempo pra tentar se achegar e chegar. No freezer, outra lata tenta ficar gelada o bastante às loucuras inglórias que surgem no dedilhar. “Por isso você não para! Não basta o que já se fez parar?” Sem respostas, o aprendiz de poeta defeca letras, sílabas, parágrafos, pseudo estrofes e versos. Um italiano dirá que é vero. A brincar de palácios fálicos que surgirão nos seus pesadelos e os desmazelos de acordar várias vezes na noite brejeira, Ariovaldo chama Bia para brincar de quem pensa um dia ser papai e mamãe. Na estação do rádio, diria o poeta, o locutor viu um cisco no olho entrar logo no momento que o único craque do jogo faria um gol de placa. No pasto perto, uma vaca comia, tranquila, sua alfafa.
Zé dá o Tom final
Por Ronaldo Faria “Em quantos mililitros parar? Não enquanto existir espaço vago e vazio nalgum lugar e banheiro altaneiro em rota segura n...
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