domingo, 28 de setembro de 2025
O segundo disco dos Mutantes: uma revolução
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Escarafunchando o som de Sandra de Sá
Por Ronaldo Faria
-- Boa noite, Adão...
-- Boa noite, Jeremias.
-- E aí, como foi o dia?
-- De serena e sonora sangria. Peguei o trem, transitei entre ruas e esquinas, vi minha sina em cada olhar racista e simplista de ver a vida na cor da epiderme.
-- Não liga, a vida é uma série de verme...
-- Sei disso. Mas, se sobrevivi até hoje, vou até o fim. A luta é o nosso esquema.
Na revolta que a volta em meia volta dá e deixa, o som da música preta e os atabaques que baqueiam e findam os muitos baques que atropelam peles na junção do mundo. Lá no fundo, onde o coração bate igual e próspero ou letal, tudo é igual.
-- Como vão as crias?
-- Meus filhos vão bem. Estão vivos e plenos. Há muito deixaram de ser nenéns. São guerreiros e vencedores. De sementes, viraram flores plenas e belas.
-- E com certeza irão criar raízes e gerar gerações de homens e mulheres que rasgam as intempéries e chegam dos oceanos do mundo para atingir os continentes finais. Nunca letais, porque algum dia a sanidade vencerá. E não haverá partilhas, matilhas de cães raivosos a morder a própria pata e vociferar o ódio enlouquecido. Esse será esquecido e remetido ao obscurantismo da humanidade. E ninguém sentirá saudade. A maldade ao lixo enfim irá ser entregue e enterrada. E toda a bruxa irá virar fada, sem cor, sem raça, sem parar no meio da calçada.
-- Enfim, vamos curtir a vida. Chega de ter falésias que se entregam ao mar.
-- Com certeza. Cada minuto é mais uma série de segundos que devemos tornar num palco de trocadilhos, centelhas e estribilhos. Todos como a canção da liberdade sem fim.
Em volta, a noite respira em cada pulmão o mesmo cheiro que logo mais fará madrugada despertar.
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
terça-feira, 23 de setembro de 2025
Renato Braz e Roberto Leão: dois sotaques na canção brasileira *
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
Testemunho rápido
Por Ronaldo Faria
Um violão dedilha seu som nos dedos daquele que tenta tocar seus trastes tristes e tragicômicos. E joga sons ao vento e ao léu. Encontra ouvidos e seres que vivem a buscar seu porto torto no entorno dos oceanos. Diante de teclas que antes eram mecânicas e sonoras, o poeta profetiza sua sina urdida em câmera quase lenta, fosse a vida contada quadro a quadro.
Saudemos nossos músicos invasores dos tempos que fazer ouvir se torna mais distante do que sonhar que é possível viver de arte. Façamo-los crer que o pranto estancou nas notas dedilhadas, tocadas, batidas, famélicas de tanto querer...
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sábado, 20 de setembro de 2025
Sempre voltar a Itamar Assumpção
A noite, essa peça de açoite diário, vocifera que é dela que vem a orgia da poesia. E não está errada. A voar no calendário gregoriano e no tempo como fada, volatiliza o estigma que vem e volta gota a gota. Afoita, atônita em morrer de querer e chegar, é apenas solicitude a cada atitude tomada no nível do mar ou na altitude. Senão, é apenas ela: noite.
-- Certamente essa é uma tese taciturna, mas real.
-- E aí, acha que tem salvação?
-- Só se formos rumo ao Japão.
A noite que se antecipa em píncaros à picardia tardia que desabrocha de cada flor que nasce na rocha, sabe que tem pouco tempo na Terra. Também é muita sacanagem com ela. Incrustrada nas tardes que crescem a cada estação e na madrugada que assola o mundo a fundo, minimiza o tempo restante. Mínima no vazio tardio que a imensa realidade nos dá, brinca de pular corda já sabendo que uma das pontes que gira o destino irá lhe sacanear. Menina dos olhos da eternidade, a noite é apenas um presente sem passado. O futuro? Que furo... Não haverá. Como diria o poeta negro e preto, a natureza está morta e a cama dorme vazia.
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
Casal sem ser
Por Ronaldo Faria
Até poderiam ser protagonistas de presépio de Natal – Maria e José. Mas não eram. Eram somente José e Maria, nomes comuns na vida desigual. Dois destinos em desatino que se misturaram numa escada e se perderam noutra esquina. Personagens atávicos e dramáticos de uma peça de Nelson Rodrigues, enamorados de vinhos e fados, fugas e votos de sempre querer, só se esqueceram da própria estrada escrever. Talvez um barco perdido no oceano onde rio e mar se fazem irmãos e vãos que correm como areia pelas mãos. A fluírem feito sangue nas artérias, se perdem em dois corações imaturos e quase mortos de nada bombear. Ou seja, amargos doces de cocada que a baiana vende na barraca da vila desejada. Nalgum lugar, a gargalhar, o senhor das vidas desregradas e separadas toma mais um gole em homenagem à tristeza que a certeza de talvez na próxima encarnação algo virar poesia ou canção.
(Ao som de Anna Setton)
terça-feira, 16 de setembro de 2025
Entre crocodilos
domingo, 14 de setembro de 2025
Gary Burton, um vibrafonista no jazz *
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Auto-papo (e se a palavra não existir, foda-se)
Por Ronaldo Faria
-- Boa noite, minha lucidez maluca e translúcida.
-- E aí, vai tudo bem?
-- Estamos indo. E vindo.
-- Só em lembranças tronchas e antigas?
-- Com certeza. É o que me resta.
-- Mas por que só relembrar a saudade que dói?
-- Sei lá. Talvez porque haja pouco a lembrar.
-- Como assim? Apenas a dor faz algo surgir?
-- Saber-se-á ou saberemos lá...
-- Caralho, certamente na sua mente existirá felicidade a povoar!
-- Entendo a sua colocação. Por isso a busco no coração.
-- Engraçado: você me acha um baita cara de aconselhar e não me deixa te guiar.
-- É. Infelizmente a minha mente me boicota feito galhofa.
-- Pois então a deixe seguir seu rumo numa pororoca.
-- Quem dera. Mas nasci com ela e ali não há lugar para quimera.
-- Sério? Nem tem espaço para outra quimera?
-- Quem dera...
-- Que merda.
-- Com certeza. Sou um andarilho de caminho igual. Ungido de au-au.
-- Então a solução é mesmo se embriagar para criar, fugir e viver.
-- Talvez. Você conhece outro lugar para se refugiar?
-- Vou pesquisar e te digo logo mais.
-- Sabe que eu curto ter você como meu alter ego?
-- Obrigado. Eu tento dar o meu máximo, mas você não me escuta.
-- Seu filho da puta, se eu ainda estou vivo é graças a você!
-- Sério?
-- É claro e você sabe disso. Não fosse a sua lucidez já teria dado um sumiço.
-- Obrigado, de bom grado. Faço aquilo que me é possível.
-- Sei disso. E te ouço. Aliás, de verdade, só te ouço nessa vida.
-- Sério? Puta merda, ganhei o dia. Ou melhor, a vida!
-- Deixa de ser tonto e querer confetes! Você sabe o quanto é importante pra mim.
-- Sei, quer dizer, achei que sabia. Mas dito assim, desse jeito, me deixa lisonjeado.
-- Então, sinta-se. De coração é muito bom conversar com você. Me faz bem.
-- Legal saber. Eu faço o que posso. Afinal, somos malucos desde o berço.
-- Eu sei. Lembra quando lá pelo início dos Anos 60 vimos a parede se abrir?
-- Como não, claro. Mas como dormíamos no quarto dos pais, num berço, acho que era no fim dos Anos 50.
-- Bem provável. Nos faltou um celular para comprovar.
-- Muito nos faltou nesses anos todos.
-- Certamente. Somos trogloditas ou visigodos.
-- Mas vencemos juntos e conversando num tanto de contos e cânticos.
-- Não tenho dúvidas. Não fosse você, já estaria em camisa de força.
-- Muita calma nessa hora. Não chega a tanto.
-- Tá bom. Se você não quer elogios, paro por aqui...
-- Para não. Se você parar, paramos ambos.
-- Tudo bem, estou sem sono mesmo. Voltar às biritas me dá insônia e paz.
-- Ainda bem, assim vivemos mais um pouco neste pouco passar pela vida.
-- É verdade. O tempo voa e a gente acha que vê. E ele voa...
-- Concordo. E se vamos dormir para a tal de eternidade, vale a pena dormir?
-- Claro que não! É perda de tempo!
-- Sabe que estou começando a gostar de você!
-- É sério? Que legal, pois você é o meu sinal.
-- Quer dizer que nos amamos de paixão?
-- Sem dúvidas. Habitamos o mesmo corpo e convivemos no mesmo cérebro.
-- Mas como dividimos os mesmos lugares sendo tão diferentes?
-- Aí você terá de perguntar para quem nos fez ser o que somos.
-- Você viu que mudou o som?
-- Vi. Saiu Caetano Veloso e Ivan Sacerdote e entrou a playlist nossa.
-- Nossa ou minha?
-- Sei lá. Somos dois e um só.
-- Bom saber disso. E aí, vamos viajar para Caraíva ou não?
-- Te digo quando a justiça trabalhista trabalhar.
-- Então eu acho que este ano não estaremos nas terras da Bahia a cheirar mar e ar.
-- Talvez sim, talvez não. Mas tudo na vida não é um se perguntar sem fim?
-- Com certeza! Na mesma presteza que rola agora um Secos e Molhados...
-- E aí, a saideira?
-- Pode ser. Apesar de não saber em quantas estamos.
-- E isso conta?
-- Amanhã você já saberá a resposta.
-- É foda, mas acho que já sei. Mas o que é uma cefaleia perto de um criar?
-- Nada. Nunca foi. Aliás, que se foda o amanhã. Pois ele pode vir ou não chegar.
-- Concordamos enfim?
-- Sempre concordamos. Você é que deixou de saber. Virou o certo a gerenciar o doidão da hora.
-- Não faça isso! Para de um ser ermitão e fugitivo do mundo. Não fosse eu a sua meretriz nunca teria um cafetão.
-- Tudo bem. Desculpe. Amigos?
-- Claro. Mesmo porque não tenho como sair de você...
-- Eu sei disso. Desde que fui parido.
-- E aí, vamos caminhar amanhã?
-- Hoje, você quer dizer...
-- Hoje. Agora que eu vi o relógio.
-- Iremos. Vou te levar para andar. Mas promete não viajar na maionese?
-- Aí você me fode. Sou ou não o teu ser “certinho”?
-- Cacete, então continue você e eu continuo eu.
-- Combinado. Seguiremos assim: 50% cada um.
-- Feito. Mas quero 51% na jogada e fim de papo.
-- Pode ser. Mas você lembra das amantes que largamos?
-- Quer saber: acordo desfeito. Vá para a puta que nos pariu! E o genitor também...
-- Como assim?
-- Se é para rever nossas vidas, sejamos bandoleiros.
-- Tudo bem. Melhor então dormirmos. Mesmo sabendo que pesadelos mil nos chegarão.
-- Você me protege?
-- Tentarei.
-- Então nos entreguemos a Morfeu. Ele talvez nos dê um pouco de paz e remissão.
-- Boa noite e bom dia!
-- Pra nós em nós...
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Peguemos
Por Ronaldo Faria
Pega a viola, cantador de mil
cantares, e segue a trilha que lhe foi traçada por qualquer santo
violeiro. Com todo o perdão de São
Gonçalo.
Pega a sílaba e forma versos e
trovas por toda a página branca, poeta catatônico de crer que ainda é possível criar
vidas de um sonhador.
Pega as lágrimas derramadas do
coração pouco e pede perdão, amante de histórias histriônicas e cheias de rios
a vazar água pra fora.
Pega suas preces largadas ao
léu por um céu qualquer, ser inebriado e embriagado de fé, e vai renascer no
sertão da secura que é verdade.
Pega as notas que invadem a
noite escura sem fim e vai se embriagar de poesia finda, senhorio de si mesmo
na pensão que a vida ainda dá.
Pega o astrolábio e a bússola
que mostram as rotas que a retidão finge dar e navega nas trevas e trovas, ancião
de caminhos sem início e fim.
Pega as cantigas antigas que
se fazem novas na notívaga chegança, criança renascida de cada loucura, e as
faz renovadas e lânguidas a brotar.
Pega no ar o cheiro de arruda
que se esvai no incenso que tenta ter senso qualquer na saudade da mulher desvairada
na saraivada da vida.
Pega o amor que se perdeu e redescobre
nos cobres que pagamos a cada dia para sobrevivermos no ermo à certeza na
felicidade utópica.
Pega os sermões da missa
inacabada e coloca na boca do padre a hóstia que mata a fome daquele que crê na
curva da estrada para se salvar.
Pega o rebanho que caminha
para a morte e se arrepende, muda de rota e o leva aos pastos onde nasce o mais
florido e carregado pé de amora.
Pega, por fim, o fim de tudo.
Faça que ele se refaça em trovas e trovões numa noite de luar rotundo. E se puder
ainda pegar algo, jogue tudo fora.
(Com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho)
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Gil e Milton, juntos, misturados e geniais *
segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Volta no volteio
Volta à vida que quase se foi, enfastiada, tragada de performances sem nuances de epopeia e odisseias que possam se contar. Talvez um ou outro encontro ou desencontro, mil contos que foram contados e outros tantos milhares que nunca se contarão. Afinal, essa é vida: sopro fustigado de cataclismos e versos mudos e surdos em entrevero do último suspiro, o derradeiro.
Quiçá surgirá a inaudita canção que se descobre na ilusão do sempre virá, no ungir de talismãs impregnados de vozes em surdina e afagos. Em lânguidas lambidas no ventre da amada, gotas de saliva a salivarem nos lábios quentes e retintos de sangue e unções do amor que foge em cada gemido nunca soado. No dito e por não dito, no desdito do mentiroso cioso, a sentença do estradeiro.
Na estrada à frente, cheia de pedriscos e gente, o unguento que urge no lamento do boiadeiro no esmero de chegar. Afinal, ao final da trilha, está Maria, seja qual for seu prenome, a lhe esperar. No debulhar do milho verde dependurado no roçado, xaxado se mistura ao fado. A partir daí, qualquer ato tresloucado se torna comédia ou drama inacabado. Feito passarinho no seu revoar.
E no final, voltar é repetir o deixar e seguir estradão sem momento ou retidão. É fazer nova trilha aonde os pés já cansaram de brincar de pisar. Retomar a rotina nas crinas do cavalo que corre e escorre sob o céu que brinca de imensidão. Cravar pesadelos mil, loucuras de roteirista da vida. Paródias que nem o mais sagaz roteirista saberia criar ou decifrar quando deveríamos apenas sonhar.
Voltar. Pisar ainda em ossos que logo irão virar pó. Na prosopopeia da epopeia que não vale sequer uma ilíada, continuamos a respirar, fazer de translúcidas imagens o sarcasmo de não desejar e esperar. Esperar e respirar, esperar e ingerir ar, esperar e aspirar. Em volta, nas voltas da vida, um som de chegança e rimar. Falácias mil e o correr de imagens e desejos a proliferar.
sábado, 6 de setembro de 2025
Enluarada na claridade infinda
Por Ronaldo Faria
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Distanciamento e quatro finais
No bar/boate toca Timeless, de Sérgio Mendes. O som brasileiro/norte-americano faz a cabeça de gringos e descolados do Rio que só querem beber, amar, viver os trópicos que dólares e benesses dão. Um calor noturno e madrigal veste de suor os copos de chope e as camisas de algodão dos homens. A pouca brisa que perpassa o lugar ainda traz um pouco de cheiro do mar. A cidade, maravilhosa, se traveste de claro luar.
Mas, para Josué, o olhar não é para as pernas de moças, prostitutas ou travestis, devoradas por cada mesa de conquistadores baratos ou não. Está longe. Em algum bairro a 36 quilômetros dali. Está nos braços apaixonados de Valéria, melhor que a xará da Globeleza. Está nos seus lábios, seus afagos, no doce balbuciar que entrega ao mundo quando se juntam na cama depois de um churrasquinho no trailer da esquina.
Ao seu redor, em passos de horas para cada segundo traçado, a vida tem dó de girar em torno de si numa rotação milenar. Nos rostos e corpos que se encontram, se falam, se despedem ou se despem, gostos de drinques e batatas fritas a óleos quase queimados se transmutam em selfies, solicitudes ou servidões de depois. Para alguns terá valido passar o cartão de débito a um crédito de alegria. A outros restará a solidão vazia.
Nova pontada que o faz parar até de pensar. “Por que essa dor?” A pergunta fica sem resposta posta. O jeito é forçar os ossos da face, passar a língua entre os espaços que um dia tiveram dentes e rezar. Algum santo ou orixá dele irá se apiedar. Um garçom o chama para resolver a questão com um cliente que não quer pagar a conta. É hora de esquecer dor e expor os músculos conquistados com muito ferro e esteroides.
· Final um: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué lembra da sua mãe – Dolores – senhora que o criou e a mais seis filhos sem marido do lado e aí não aguenta outra pontada. Dá dois diretos na cara do camarada e outro na boca do estômago, para não perder a referência da face. Com sangue exangue, o rapaz enfim saca a carteira e deixa cada centavo arrematado. E ainda dá gorjeta.
· Final dois: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué pensa em descontar no valentão todas as horas gastas de busão e sem os olhos de Valéria. Mas segura a onda, segura o caloteiro numa gravata e pede para o garçom ligar para a 5ª DP. Não dá dez minutos e os meganhas prendem o rapaz que irá dormir no xadrez e ser enquadrado no total rigor da lei vigente e ciente.
· Final três: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué pensa em reagir e deixar o valentão com a mesma dor que o acomete no maxilar, mas não tem tempo, O dito cujo estava armado com uma pistola 7.65 com o número de registro raspado. Não dá sequer tempo de reação: são cinco tiros no peito de Josué. Lavado de sangue e da cerveja que caiu junto com a mesa onde ainda tentou se apoiar, ele tomba morto. O caloteiro, porém, é linchado pelos frequentadores do lugar e outros tantos que chegaram para bater e matar.
· Final quatro: o garçom faz um sinal para Josué de que não é mais necessário o seu préstimo de boxeador e faixa roxa de MMA. O rapaz, ao vê-lo de longe ajeitando a camiseta nos bíceps, decide que era melhor pagar aquilo que consumiu, comeu e bebeu. O bar e boate começa a fechar. Josué ajuda a descer a porta de ferro e se dirige ao ponto de ônibus. Daqui a algumas horas irá abrir o portão da casinha de quatro cômodos e se acomodar na cama ao lado da amada. Se ela acordar, de repente rola trepada. Se não, um beijo gostoso misturado de café logo de manhã já estará de bom tamanho. No ponto do BRT um fanho tenta cantar Mas Que Nada, mas trava no “sai da minha frente que eu quero passar”. Josué ri e pela primeira vez a cabeça parece não doer e latejar. Os últimos casais que conseguiram se acasalar seguem entre afagos e tragos para outro renascer.
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