Por Ronaldo Faria
-- Boa noite, minha insana
consciência...
-- Boa noite, minha lucidez maluca e translúcida.
-- E aí, vai tudo bem?
-- Estamos indo. E vindo.
-- Só em lembranças tronchas e antigas?
-- Com certeza. É o que me resta.
-- Mas por que só relembrar a saudade que dói?
-- Sei lá. Talvez porque haja pouco a lembrar.
-- Como assim? Apenas a dor faz algo surgir?
-- Saber-se-á ou saberemos lá...
-- Caralho, certamente na sua mente existirá felicidade a povoar!
-- Entendo a sua colocação. Por isso a busco no coração.
-- Engraçado: você me acha um baita cara de aconselhar e não me deixa te guiar.
-- É. Infelizmente a minha mente me boicota feito galhofa.
-- Pois então a deixe seguir seu rumo numa pororoca.
-- Quem dera. Mas nasci com ela e ali não há lugar para quimera.
-- Sério? Nem tem espaço para outra quimera?
-- Quem dera...
-- Que merda.
-- Com certeza. Sou um andarilho de caminho igual. Ungido de au-au.
-- Então a solução é mesmo se embriagar para criar, fugir e viver.
-- Talvez. Você conhece outro lugar para se refugiar?
-- Vou pesquisar e te digo logo mais.
-- Sabe que eu curto ter você como meu alter ego?
-- Obrigado. Eu tento dar o meu máximo, mas você não me escuta.
-- Seu filho da puta, se eu ainda estou vivo é graças a você!
-- Sério?
-- É claro e você sabe disso. Não fosse a sua lucidez já teria dado um sumiço.
-- Obrigado, de bom grado. Faço aquilo que me é possível.
-- Sei disso. E te ouço. Aliás, de verdade, só te ouço nessa vida.
-- Sério? Puta merda, ganhei o dia. Ou melhor, a vida!
-- Deixa de ser tonto e querer confetes! Você sabe o quanto é importante pra mim.
-- Sei, quer dizer, achei que sabia. Mas dito assim, desse jeito, me deixa lisonjeado.
-- Então, sinta-se. De coração é muito bom conversar com você. Me faz bem.
-- Legal saber. Eu faço o que posso. Afinal, somos malucos desde o berço.
-- Eu sei. Lembra quando lá pelo início dos Anos 60 vimos a parede se abrir?
-- Como não, claro. Mas como dormíamos no quarto dos pais, num berço, acho que era no fim dos Anos 50.
-- Bem provável. Nos faltou um celular para comprovar.
-- Muito nos faltou nesses anos todos.
-- Certamente. Somos trogloditas ou visigodos.
-- Mas vencemos juntos e conversando num tanto de contos e cânticos.
-- Não tenho dúvidas. Não fosse você, já estaria em camisa de força.
-- Muita calma nessa hora. Não chega a tanto.
-- Tá bom. Se você não quer elogios, paro por aqui...
-- Para não. Se você parar, paramos ambos.
-- Tudo bem, estou sem sono mesmo. Voltar às biritas me dá insônia e paz.
-- Ainda bem, assim vivemos mais um pouco neste pouco passar pela vida.
-- É verdade. O tempo voa e a gente acha que vê. E ele voa...
-- Concordo. E se vamos dormir para a tal de eternidade, vale a pena dormir?
-- Claro que não! É perda de tempo!
-- Sabe que estou começando a gostar de você!
-- É sério? Que legal, pois você é o meu sinal.
-- Quer dizer que nos amamos de paixão?
-- Sem dúvidas. Habitamos o mesmo corpo e convivemos no mesmo cérebro.
-- Mas como dividimos os mesmos lugares sendo tão diferentes?
-- Aí você terá de perguntar para quem nos fez ser o que somos.
-- Você viu que mudou o som?
-- Vi. Saiu Caetano Veloso e Ivan Sacerdote e entrou a playlist nossa.
-- Nossa ou minha?
-- Sei lá. Somos dois e um só.
-- Bom saber disso. E aí, vamos viajar para Caraíva ou não?
-- Te digo quando a justiça trabalhista trabalhar.
-- Então eu acho que este ano não estaremos nas terras da Bahia a cheirar mar e ar.
-- Talvez sim, talvez não. Mas tudo na vida não é um se perguntar sem fim?
-- Com certeza! Na mesma presteza que rola agora um Secos e Molhados...
-- E aí, a saideira?
-- Pode ser. Apesar de não saber em quantas estamos.
-- E isso conta?
-- Amanhã você já saberá a resposta.
-- É foda, mas acho que já sei. Mas o que é uma cefaleia perto de um criar?
-- Nada. Nunca foi. Aliás, que se foda o amanhã. Pois ele pode vir ou não chegar.
-- Concordamos enfim?
-- Sempre concordamos. Você é que deixou de saber. Virou o certo a gerenciar o doidão da hora.
-- Não faça isso! Para de um ser ermitão e fugitivo do mundo. Não fosse eu a sua meretriz nunca teria um cafetão.
-- Tudo bem. Desculpe. Amigos?
-- Claro. Mesmo porque não tenho como sair de você...
-- Eu sei disso. Desde que fui parido.
-- E aí, vamos caminhar amanhã?
-- Hoje, você quer dizer...
-- Hoje. Agora que eu vi o relógio.
-- Iremos. Vou te levar para andar. Mas promete não viajar na maionese?
-- Aí você me fode. Sou ou não o teu ser “certinho”?
-- Cacete, então continue você e eu continuo eu.
-- Combinado. Seguiremos assim: 50% cada um.
-- Feito. Mas quero 51% na jogada e fim de papo.
-- Pode ser. Mas você lembra das amantes que largamos?
-- Quer saber: acordo desfeito. Vá para a puta que nos pariu! E o genitor também...
-- Como assim?
-- Se é para rever nossas vidas, sejamos bandoleiros.
-- Tudo bem. Melhor então dormirmos. Mesmo sabendo que pesadelos mil nos chegarão.
-- Você me protege?
-- Tentarei.
-- Então nos entreguemos a Morfeu. Ele talvez nos dê um pouco de paz e remissão.
-- Boa noite e bom dia!
-- Pra nós em nós...
-- Boa noite, minha lucidez maluca e translúcida.
-- E aí, vai tudo bem?
-- Estamos indo. E vindo.
-- Só em lembranças tronchas e antigas?
-- Com certeza. É o que me resta.
-- Mas por que só relembrar a saudade que dói?
-- Sei lá. Talvez porque haja pouco a lembrar.
-- Como assim? Apenas a dor faz algo surgir?
-- Saber-se-á ou saberemos lá...
-- Caralho, certamente na sua mente existirá felicidade a povoar!
-- Entendo a sua colocação. Por isso a busco no coração.
-- Engraçado: você me acha um baita cara de aconselhar e não me deixa te guiar.
-- É. Infelizmente a minha mente me boicota feito galhofa.
-- Pois então a deixe seguir seu rumo numa pororoca.
-- Quem dera. Mas nasci com ela e ali não há lugar para quimera.
-- Sério? Nem tem espaço para outra quimera?
-- Quem dera...
-- Que merda.
-- Com certeza. Sou um andarilho de caminho igual. Ungido de au-au.
-- Então a solução é mesmo se embriagar para criar, fugir e viver.
-- Talvez. Você conhece outro lugar para se refugiar?
-- Vou pesquisar e te digo logo mais.
-- Sabe que eu curto ter você como meu alter ego?
-- Obrigado. Eu tento dar o meu máximo, mas você não me escuta.
-- Seu filho da puta, se eu ainda estou vivo é graças a você!
-- Sério?
-- É claro e você sabe disso. Não fosse a sua lucidez já teria dado um sumiço.
-- Obrigado, de bom grado. Faço aquilo que me é possível.
-- Sei disso. E te ouço. Aliás, de verdade, só te ouço nessa vida.
-- Sério? Puta merda, ganhei o dia. Ou melhor, a vida!
-- Deixa de ser tonto e querer confetes! Você sabe o quanto é importante pra mim.
-- Sei, quer dizer, achei que sabia. Mas dito assim, desse jeito, me deixa lisonjeado.
-- Então, sinta-se. De coração é muito bom conversar com você. Me faz bem.
-- Legal saber. Eu faço o que posso. Afinal, somos malucos desde o berço.
-- Eu sei. Lembra quando lá pelo início dos Anos 60 vimos a parede se abrir?
-- Como não, claro. Mas como dormíamos no quarto dos pais, num berço, acho que era no fim dos Anos 50.
-- Bem provável. Nos faltou um celular para comprovar.
-- Muito nos faltou nesses anos todos.
-- Certamente. Somos trogloditas ou visigodos.
-- Mas vencemos juntos e conversando num tanto de contos e cânticos.
-- Não tenho dúvidas. Não fosse você, já estaria em camisa de força.
-- Muita calma nessa hora. Não chega a tanto.
-- Tá bom. Se você não quer elogios, paro por aqui...
-- Para não. Se você parar, paramos ambos.
-- Tudo bem, estou sem sono mesmo. Voltar às biritas me dá insônia e paz.
-- Ainda bem, assim vivemos mais um pouco neste pouco passar pela vida.
-- É verdade. O tempo voa e a gente acha que vê. E ele voa...
-- Concordo. E se vamos dormir para a tal de eternidade, vale a pena dormir?
-- Claro que não! É perda de tempo!
-- Sabe que estou começando a gostar de você!
-- É sério? Que legal, pois você é o meu sinal.
-- Quer dizer que nos amamos de paixão?
-- Sem dúvidas. Habitamos o mesmo corpo e convivemos no mesmo cérebro.
-- Mas como dividimos os mesmos lugares sendo tão diferentes?
-- Aí você terá de perguntar para quem nos fez ser o que somos.
-- Você viu que mudou o som?
-- Vi. Saiu Caetano Veloso e Ivan Sacerdote e entrou a playlist nossa.
-- Nossa ou minha?
-- Sei lá. Somos dois e um só.
-- Bom saber disso. E aí, vamos viajar para Caraíva ou não?
-- Te digo quando a justiça trabalhista trabalhar.
-- Então eu acho que este ano não estaremos nas terras da Bahia a cheirar mar e ar.
-- Talvez sim, talvez não. Mas tudo na vida não é um se perguntar sem fim?
-- Com certeza! Na mesma presteza que rola agora um Secos e Molhados...
-- E aí, a saideira?
-- Pode ser. Apesar de não saber em quantas estamos.
-- E isso conta?
-- Amanhã você já saberá a resposta.
-- É foda, mas acho que já sei. Mas o que é uma cefaleia perto de um criar?
-- Nada. Nunca foi. Aliás, que se foda o amanhã. Pois ele pode vir ou não chegar.
-- Concordamos enfim?
-- Sempre concordamos. Você é que deixou de saber. Virou o certo a gerenciar o doidão da hora.
-- Não faça isso! Para de um ser ermitão e fugitivo do mundo. Não fosse eu a sua meretriz nunca teria um cafetão.
-- Tudo bem. Desculpe. Amigos?
-- Claro. Mesmo porque não tenho como sair de você...
-- Eu sei disso. Desde que fui parido.
-- E aí, vamos caminhar amanhã?
-- Hoje, você quer dizer...
-- Hoje. Agora que eu vi o relógio.
-- Iremos. Vou te levar para andar. Mas promete não viajar na maionese?
-- Aí você me fode. Sou ou não o teu ser “certinho”?
-- Cacete, então continue você e eu continuo eu.
-- Combinado. Seguiremos assim: 50% cada um.
-- Feito. Mas quero 51% na jogada e fim de papo.
-- Pode ser. Mas você lembra das amantes que largamos?
-- Quer saber: acordo desfeito. Vá para a puta que nos pariu! E o genitor também...
-- Como assim?
-- Se é para rever nossas vidas, sejamos bandoleiros.
-- Tudo bem. Melhor então dormirmos. Mesmo sabendo que pesadelos mil nos chegarão.
-- Você me protege?
-- Tentarei.
-- Então nos entreguemos a Morfeu. Ele talvez nos dê um pouco de paz e remissão.
-- Boa noite e bom dia!
-- Pra nós em nós...
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