Por Ronaldo Faria
-- Magda, é você?
-- Poeta, meu esteta? Sou eu sim...
A resposta bastou, mesmo curta e simples. Primeiro o abraço apertado, desses que dá vontade e desejo de se acordar e dormir com ele. Depois, o afago carinhoso, tinhoso por mostrar que nada irá parar por aí. Então, como já era de se esperar, um beijo longo e repleto de línguas, saliva, sabores e saudades.
-- E aí, como você está? Quanto tempo...
-- Pois é, um tempão. Teria dado tempo até de ver nosso rebento formado em qualquer doutor, se algum rebento tivéssemos tido.
-- É, até teríamos. Mas a tirania do destino assim não o quis.
-- Mas se falávamos tanto numa revolução no passado, porque não a fizemos em nós mesmos?
-- Acho que nos faltou o ímpeto e a coragem que invadem os verdadeiros revolucionários da vida.
Agora duas risadas soltas e loucas, dessas que mostram dentes, cáries e obturações, dão lugar à mesa do bar. Uma mistura de felicidade e arrependimentos forjados e fechados a unguentos que o tempo traz e dá toma conta do lugar. Os olhos dos reatados amores se entrelaçam feito condores na busca da presa. Sem pressa, feito remessa de cartas de quando eram jovens e demoravam um sentimento para caírem nas caixas de correios correlatas, se beijaram outra vez e outras vezes mais. Eram como reses soltas no pasto verde sem saberem em que matadouro irão terminar.
-- O que você fez de bom nesse tempo?
-- Estudei. Muito. Hoje eu sou doutora. Dou aula em universidade, moro na mesma cidade e tenho até nome de espaço do saber. E você?
-- Continuo o mesmo: um contínuo na mesma firma chamada destino. Acordo, ando, desando, sonho, escrevo, enlouqueço, padeço, rimo alhos com bugalhos, me embriago e sonho com nós dois. Às vezes sou um pouco alegre, outras tantas vivo nas tristezas devagar.
-- Nada deu certo naquilo que você dizia ser um incesto popular?
-- Deu. Acredito que pude deixar minhas marcas nalgum lugar. Se foi em areia fina, pântano ou beira de mar, sei lá. Vivi em mim e meus personagens, aqueles que sem me sondar antes invadem meu mundo e me transformam em tantos centenas ou milhares demais.
-- Ser muitos e tantos deve ser bom demais.
-- Talvez sim. Talvez não. Mas, hoje, me basta estar aqui com você.
Riram muito outros tantos, se tocaram, entreolharam, beberam, beijaram, desejaram, venceram décadas demais, submergiram nas coisas que não há como explicar. Terminaram num quarto, a gozar. Depois, um banho longo, ela dependurada nele com a água quente a jorrar e as pernas e braços a segurar o gozo que se esvai. E voltaram ao amor que tanto queriam recuperar, se borraram de cores que tal amor traz, transpassaram pernas e braços, em amassos se amassaram e amansaram e amainaram tanto tempo perdido e urdido no ardido que dois corpos têm para se dar.
-- E agora?
-- O que agora?
-- Vamos assim continuar?
-- Você quer?
-- Pergunta de homem para mulher?
-- É!
Resposta não houve. Ambos se enroscaram em felicidade plena e amena, dessas de comercial de remédio para dor de cabeça. Foram vistos depois num boteco de beira-mar a comerem torresmo e couve. Creiam, enfim, que fim feliz também há pra se narrar. Na avenida defronte um velho sonhador joga para Iemanjá a sua derradeira flor.
-- Poeta, meu esteta? Sou eu sim...
A resposta bastou, mesmo curta e simples. Primeiro o abraço apertado, desses que dá vontade e desejo de se acordar e dormir com ele. Depois, o afago carinhoso, tinhoso por mostrar que nada irá parar por aí. Então, como já era de se esperar, um beijo longo e repleto de línguas, saliva, sabores e saudades.
-- E aí, como você está? Quanto tempo...
-- Pois é, um tempão. Teria dado tempo até de ver nosso rebento formado em qualquer doutor, se algum rebento tivéssemos tido.
-- É, até teríamos. Mas a tirania do destino assim não o quis.
-- Mas se falávamos tanto numa revolução no passado, porque não a fizemos em nós mesmos?
-- Acho que nos faltou o ímpeto e a coragem que invadem os verdadeiros revolucionários da vida.
Agora duas risadas soltas e loucas, dessas que mostram dentes, cáries e obturações, dão lugar à mesa do bar. Uma mistura de felicidade e arrependimentos forjados e fechados a unguentos que o tempo traz e dá toma conta do lugar. Os olhos dos reatados amores se entrelaçam feito condores na busca da presa. Sem pressa, feito remessa de cartas de quando eram jovens e demoravam um sentimento para caírem nas caixas de correios correlatas, se beijaram outra vez e outras vezes mais. Eram como reses soltas no pasto verde sem saberem em que matadouro irão terminar.
-- O que você fez de bom nesse tempo?
-- Estudei. Muito. Hoje eu sou doutora. Dou aula em universidade, moro na mesma cidade e tenho até nome de espaço do saber. E você?
-- Continuo o mesmo: um contínuo na mesma firma chamada destino. Acordo, ando, desando, sonho, escrevo, enlouqueço, padeço, rimo alhos com bugalhos, me embriago e sonho com nós dois. Às vezes sou um pouco alegre, outras tantas vivo nas tristezas devagar.
-- Nada deu certo naquilo que você dizia ser um incesto popular?
-- Deu. Acredito que pude deixar minhas marcas nalgum lugar. Se foi em areia fina, pântano ou beira de mar, sei lá. Vivi em mim e meus personagens, aqueles que sem me sondar antes invadem meu mundo e me transformam em tantos centenas ou milhares demais.
-- Ser muitos e tantos deve ser bom demais.
-- Talvez sim. Talvez não. Mas, hoje, me basta estar aqui com você.
Riram muito outros tantos, se tocaram, entreolharam, beberam, beijaram, desejaram, venceram décadas demais, submergiram nas coisas que não há como explicar. Terminaram num quarto, a gozar. Depois, um banho longo, ela dependurada nele com a água quente a jorrar e as pernas e braços a segurar o gozo que se esvai. E voltaram ao amor que tanto queriam recuperar, se borraram de cores que tal amor traz, transpassaram pernas e braços, em amassos se amassaram e amansaram e amainaram tanto tempo perdido e urdido no ardido que dois corpos têm para se dar.
-- E agora?
-- O que agora?
-- Vamos assim continuar?
-- Você quer?
-- Pergunta de homem para mulher?
-- É!
Resposta não houve. Ambos se enroscaram em felicidade plena e amena, dessas de comercial de remédio para dor de cabeça. Foram vistos depois num boteco de beira-mar a comerem torresmo e couve. Creiam, enfim, que fim feliz também há pra se narrar. Na avenida defronte um velho sonhador joga para Iemanjá a sua derradeira flor.


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