Eles começaram a jornada em 1969 e ficaram na
estrada até 2023, mais precisamente, 15 de dezembro de 2023, quando, num show
no Walt Disney Concert Hall, foi anunciado o fim do grupo.
Nesse mais de meio século de carreira, o grupo vocal
Manhattann Transfer gravou dezenas de discos, ganhou dezenas de prêmios (vários
Grammys, inclusive um com um disco só com músicas de compositores brasileiros),
teve várias formações, se dedicou a vários tipos de música e marcou a música
pop e o jazz do mundo com suas espetaculares vocalizações, sensacionais
arranjos e uma empatia com plateias de todo o mundo.
Em 1969, Tim Hauser formou um grupo vocal em Nova York
chamado The Manhattan Transfer, inspirado no romance de John Dos Passos. O
grupo era composto por Hauser, Erin Dickins, Marty Nelson, Pat Rosalia e Gene
Pistilli. O grupo lançou um álbum, Jukin' (Capitol, 1971), que abordava o jazz
do passado, bem como os gêneros rock e country, diferentemente das versões
posteriores do grupo. A Capitol Records não renovou o contrato do grupo para um
segundo álbum, e o grupo se separou em 1973.
Com o correr dos anos, o grupo foi mudando sua formação por
vários motivos. A segunda versão do grupo, formada em 1972, já mais ligada no
jazz, era composta por Hauser, Alan Paul, Janis Siegel e Laurel Massé.
A terceira e mais comercialmente reconhecida formação do
grupo ocorreu em 1979, quando Massé teve que deixar o grupo após se ferir
gravemente em um acidente de carro e foi substituída por Cheryl Bentyne. Esta
edição do Manhattan Transfer apresentou pop eletrônico, soul, funk e música
rítmica, obtendo sucesso na década de 1980.
A quarta edição do grupo, desde a década de 1990, era
originalmente composta por Hauser, Paul, Siegel e Bentyne, e tocava
principalmente jazz cool e smooth. Também contava com vários membros rotativos
em turnê, e o pianista veterano Yaron Gershovsky acompanhou o grupo em turnês e
atuou como diretor musical. Trist Curless, originário do grupo a cappella de
Los Angeles "m-pact", tornou-se membro permanente em outubro de 2014,
após a morte de Hauser.
Tenho dois discos do grupo. Um é uma coletânea e o outro,
motivo desse artigo, é "The Offbeat of Avenues", lançado em 1991.
Trata-se de um marco na discografia do Manhattan Transfer,
cheio de sofisticação e ousadia. Neste álbum, o quarteto mergulha fundo na
experimentação, incorporando elementos contemporâneos do jazz, pop, funk e
música urbana, sem abandonar a assinatura harmônica que os consagrou.
Estão presentes aqui os elementos todos que fizeram o
sucesso do grupo: vocalizações intricadas, fusão de estilos e um espírito de
reinvenção constante. Com "The Offbeat of Avenues", dá pra dizer que
eles chegaram a um novo patamar artístico, não apenas interpretando canções,
mas também participando ativamente da composição — algo relativamente raro em
álbuns anteriores. De fato, este foi o primeiro disco em que os quatro
integrantes contribuíram significativamente para o repertório autoral, oferecendo
uma visão mais pessoal e contemporânea do grupo.
A faixa de abertura, “The Offbeat of Avenues”, já revela
a intenção do álbum: ritmos quebrados, vocais sincopados e uma letra que pinta
um retrato urbano da vida moderna. A cidade pulsa no andamento irregular da
música, refletindo as tensões e possibilidades do cotidiano. Essa abordagem
também se estende para faixas como “Sassy”, que mistura swing com um groove
quase hip-hop, e “Ten Minutes Till the Savages Come”, cuja crítica social sutil
é embalada por uma levada quase cinematográfica.
Mas o álbum não deixa de lado a sofisticação vocal.
“Gentleman with a Family” e “Women in Love” trazem arranjos intrincados que
revelam o domínio técnico do grupo. A harmonia vocal é impecável, com linhas
melódicas entrelaçadas como instrumentos de uma orquestra. O uso de técnicas
como o vocalese — gênero em que letras são criadas para solos instrumentais de
jazz — segue presente, embora com roupagem mais moderna.
A produção, assinada em boa parte por Tim Hauser e colaboradores
como Jeff Lorber e Ian Prince, é marcada por um som polido, com sintetizadores,
baterias eletrônicas e efeitos digitais que situam o disco nos anos 90, mas sem
soar datado. O equilíbrio entre elementos acústicos e eletrônicos é bem dosado,
e o resultado é um jazz-pop urbano, sofisticado e radiofônico.
Um dos grandes destaques do álbum é a faixa “Soul Food to
Go (Sina)”, co-escrita com Djavan. A canção, com letra em inglês e português,
traz uma batida brasileira vibrante e vocais exuberantes. É um exemplo claro da
habilidade do Manhattan Transfer de dialogar com culturas musicais diversas e
transformar essas influências em algo genuinamente seu. A colaboração com
Djavan foi especialmente elogiada e rendeu à banda reconhecimento
internacional, incluindo uma indicação ao Grammy.
De fato, "The Offbeat of Avenues" levou o
prêmio Grammy de Melhor Arranjo Vocal por “Sassy”, consolidando a excelência
técnica e criativa do grupo. Foi também um álbum que abriu portas para novos
públicos, especialmente os interessados em uma fusão mais moderna do jazz com
pop e R&B.
Apesar de menos comercial do que álbuns anteriores como
"Extensions" ou "Vocalese", "The Offbeat of
Avenues" é uma obra madura, ousada e artisticamente coesa. Ele captura um
momento em que o Manhattan Transfer resolveu sair da zona de conforto,
explorando “avenidas fora do comum” — como sugere o título — para renovar sua
identidade artística.
Trinta anos após seu lançamento, o álbum continua atual
em sua proposta de integração entre estilos e sua abordagem vocal inovadora. Para
fãs do grupo ou para quem deseja conhecer uma das facetas mais criativas do
vocal jazz contemporâneo, "The Offbeat of Avenues" é uma viagem
sonora que vale cada compasso fora do lugar.
O disco pode ser comprado por aí, nos bons sites do ramo
e ouvido na íntegra no Youtube em
https://www.youtube.com/watch?v=MjyWnz4qJqM&list=OLAK5uy_my3sunDtYVxtibGT_wH_XJji9DaCqwpi8&index=2
*A pesquisa para este artigo foi auxiliada
pela IA do Chat GPT.
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