domingo, 14 de setembro de 2025
Gary Burton, um vibrafonista no jazz *
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
Auto-papo (e se a palavra não existir, foda-se)
Por Ronaldo Faria
-- Boa noite, minha lucidez maluca e translúcida.
-- E aí, vai tudo bem?
-- Estamos indo. E vindo.
-- Só em lembranças tronchas e antigas?
-- Com certeza. É o que me resta.
-- Mas por que só relembrar a saudade que dói?
-- Sei lá. Talvez porque haja pouco a lembrar.
-- Como assim? Apenas a dor faz algo surgir?
-- Saber-se-á ou saberemos lá...
-- Caralho, certamente na sua mente existirá felicidade a povoar!
-- Entendo a sua colocação. Por isso a busco no coração.
-- Engraçado: você me acha um baita cara de aconselhar e não me deixa te guiar.
-- É. Infelizmente a minha mente me boicota feito galhofa.
-- Pois então a deixe seguir seu rumo numa pororoca.
-- Quem dera. Mas nasci com ela e ali não há lugar para quimera.
-- Sério? Nem tem espaço para outra quimera?
-- Quem dera...
-- Que merda.
-- Com certeza. Sou um andarilho de caminho igual. Ungido de au-au.
-- Então a solução é mesmo se embriagar para criar, fugir e viver.
-- Talvez. Você conhece outro lugar para se refugiar?
-- Vou pesquisar e te digo logo mais.
-- Sabe que eu curto ter você como meu alter ego?
-- Obrigado. Eu tento dar o meu máximo, mas você não me escuta.
-- Seu filho da puta, se eu ainda estou vivo é graças a você!
-- Sério?
-- É claro e você sabe disso. Não fosse a sua lucidez já teria dado um sumiço.
-- Obrigado, de bom grado. Faço aquilo que me é possível.
-- Sei disso. E te ouço. Aliás, de verdade, só te ouço nessa vida.
-- Sério? Puta merda, ganhei o dia. Ou melhor, a vida!
-- Deixa de ser tonto e querer confetes! Você sabe o quanto é importante pra mim.
-- Sei, quer dizer, achei que sabia. Mas dito assim, desse jeito, me deixa lisonjeado.
-- Então, sinta-se. De coração é muito bom conversar com você. Me faz bem.
-- Legal saber. Eu faço o que posso. Afinal, somos malucos desde o berço.
-- Eu sei. Lembra quando lá pelo início dos Anos 60 vimos a parede se abrir?
-- Como não, claro. Mas como dormíamos no quarto dos pais, num berço, acho que era no fim dos Anos 50.
-- Bem provável. Nos faltou um celular para comprovar.
-- Muito nos faltou nesses anos todos.
-- Certamente. Somos trogloditas ou visigodos.
-- Mas vencemos juntos e conversando num tanto de contos e cânticos.
-- Não tenho dúvidas. Não fosse você, já estaria em camisa de força.
-- Muita calma nessa hora. Não chega a tanto.
-- Tá bom. Se você não quer elogios, paro por aqui...
-- Para não. Se você parar, paramos ambos.
-- Tudo bem, estou sem sono mesmo. Voltar às biritas me dá insônia e paz.
-- Ainda bem, assim vivemos mais um pouco neste pouco passar pela vida.
-- É verdade. O tempo voa e a gente acha que vê. E ele voa...
-- Concordo. E se vamos dormir para a tal de eternidade, vale a pena dormir?
-- Claro que não! É perda de tempo!
-- Sabe que estou começando a gostar de você!
-- É sério? Que legal, pois você é o meu sinal.
-- Quer dizer que nos amamos de paixão?
-- Sem dúvidas. Habitamos o mesmo corpo e convivemos no mesmo cérebro.
-- Mas como dividimos os mesmos lugares sendo tão diferentes?
-- Aí você terá de perguntar para quem nos fez ser o que somos.
-- Você viu que mudou o som?
-- Vi. Saiu Caetano Veloso e Ivan Sacerdote e entrou a playlist nossa.
-- Nossa ou minha?
-- Sei lá. Somos dois e um só.
-- Bom saber disso. E aí, vamos viajar para Caraíva ou não?
-- Te digo quando a justiça trabalhista trabalhar.
-- Então eu acho que este ano não estaremos nas terras da Bahia a cheirar mar e ar.
-- Talvez sim, talvez não. Mas tudo na vida não é um se perguntar sem fim?
-- Com certeza! Na mesma presteza que rola agora um Secos e Molhados...
-- E aí, a saideira?
-- Pode ser. Apesar de não saber em quantas estamos.
-- E isso conta?
-- Amanhã você já saberá a resposta.
-- É foda, mas acho que já sei. Mas o que é uma cefaleia perto de um criar?
-- Nada. Nunca foi. Aliás, que se foda o amanhã. Pois ele pode vir ou não chegar.
-- Concordamos enfim?
-- Sempre concordamos. Você é que deixou de saber. Virou o certo a gerenciar o doidão da hora.
-- Não faça isso! Para de um ser ermitão e fugitivo do mundo. Não fosse eu a sua meretriz nunca teria um cafetão.
-- Tudo bem. Desculpe. Amigos?
-- Claro. Mesmo porque não tenho como sair de você...
-- Eu sei disso. Desde que fui parido.
-- E aí, vamos caminhar amanhã?
-- Hoje, você quer dizer...
-- Hoje. Agora que eu vi o relógio.
-- Iremos. Vou te levar para andar. Mas promete não viajar na maionese?
-- Aí você me fode. Sou ou não o teu ser “certinho”?
-- Cacete, então continue você e eu continuo eu.
-- Combinado. Seguiremos assim: 50% cada um.
-- Feito. Mas quero 51% na jogada e fim de papo.
-- Pode ser. Mas você lembra das amantes que largamos?
-- Quer saber: acordo desfeito. Vá para a puta que nos pariu! E o genitor também...
-- Como assim?
-- Se é para rever nossas vidas, sejamos bandoleiros.
-- Tudo bem. Melhor então dormirmos. Mesmo sabendo que pesadelos mil nos chegarão.
-- Você me protege?
-- Tentarei.
-- Então nos entreguemos a Morfeu. Ele talvez nos dê um pouco de paz e remissão.
-- Boa noite e bom dia!
-- Pra nós em nós...
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Peguemos
Por Ronaldo Faria
Pega a viola, cantador de mil
cantares, e segue a trilha que lhe foi traçada por qualquer santo
violeiro. Com todo o perdão de São
Gonçalo.
Pega a sílaba e forma versos e
trovas por toda a página branca, poeta catatônico de crer que ainda é possível criar
vidas de um sonhador.
Pega as lágrimas derramadas do
coração pouco e pede perdão, amante de histórias histriônicas e cheias de rios
a vazar água pra fora.
Pega suas preces largadas ao
léu por um céu qualquer, ser inebriado e embriagado de fé, e vai renascer no
sertão da secura que é verdade.
Pega as notas que invadem a
noite escura sem fim e vai se embriagar de poesia finda, senhorio de si mesmo
na pensão que a vida ainda dá.
Pega o astrolábio e a bússola
que mostram as rotas que a retidão finge dar e navega nas trevas e trovas, ancião
de caminhos sem início e fim.
Pega as cantigas antigas que
se fazem novas na notívaga chegança, criança renascida de cada loucura, e as
faz renovadas e lânguidas a brotar.
Pega no ar o cheiro de arruda
que se esvai no incenso que tenta ter senso qualquer na saudade da mulher desvairada
na saraivada da vida.
Pega o amor que se perdeu e redescobre
nos cobres que pagamos a cada dia para sobrevivermos no ermo à certeza na
felicidade utópica.
Pega os sermões da missa
inacabada e coloca na boca do padre a hóstia que mata a fome daquele que crê na
curva da estrada para se salvar.
Pega o rebanho que caminha
para a morte e se arrepende, muda de rota e o leva aos pastos onde nasce o mais
florido e carregado pé de amora.
Pega, por fim, o fim de tudo.
Faça que ele se refaça em trovas e trovões numa noite de luar rotundo. E se puder
ainda pegar algo, jogue tudo fora.
(Com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho)
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Gil e Milton, juntos, misturados e geniais *
segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Volta no volteio
Volta à vida que quase se foi, enfastiada, tragada de performances sem nuances de epopeia e odisseias que possam se contar. Talvez um ou outro encontro ou desencontro, mil contos que foram contados e outros tantos milhares que nunca se contarão. Afinal, essa é vida: sopro fustigado de cataclismos e versos mudos e surdos em entrevero do último suspiro, o derradeiro.
Quiçá surgirá a inaudita canção que se descobre na ilusão do sempre virá, no ungir de talismãs impregnados de vozes em surdina e afagos. Em lânguidas lambidas no ventre da amada, gotas de saliva a salivarem nos lábios quentes e retintos de sangue e unções do amor que foge em cada gemido nunca soado. No dito e por não dito, no desdito do mentiroso cioso, a sentença do estradeiro.
Na estrada à frente, cheia de pedriscos e gente, o unguento que urge no lamento do boiadeiro no esmero de chegar. Afinal, ao final da trilha, está Maria, seja qual for seu prenome, a lhe esperar. No debulhar do milho verde dependurado no roçado, xaxado se mistura ao fado. A partir daí, qualquer ato tresloucado se torna comédia ou drama inacabado. Feito passarinho no seu revoar.
E no final, voltar é repetir o deixar e seguir estradão sem momento ou retidão. É fazer nova trilha aonde os pés já cansaram de brincar de pisar. Retomar a rotina nas crinas do cavalo que corre e escorre sob o céu que brinca de imensidão. Cravar pesadelos mil, loucuras de roteirista da vida. Paródias que nem o mais sagaz roteirista saberia criar ou decifrar quando deveríamos apenas sonhar.
Voltar. Pisar ainda em ossos que logo irão virar pó. Na prosopopeia da epopeia que não vale sequer uma ilíada, continuamos a respirar, fazer de translúcidas imagens o sarcasmo de não desejar e esperar. Esperar e respirar, esperar e ingerir ar, esperar e aspirar. Em volta, nas voltas da vida, um som de chegança e rimar. Falácias mil e o correr de imagens e desejos a proliferar.
sábado, 6 de setembro de 2025
Enluarada na claridade infinda
Por Ronaldo Faria
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Distanciamento e quatro finais
No bar/boate toca Timeless, de Sérgio Mendes. O som brasileiro/norte-americano faz a cabeça de gringos e descolados do Rio que só querem beber, amar, viver os trópicos que dólares e benesses dão. Um calor noturno e madrigal veste de suor os copos de chope e as camisas de algodão dos homens. A pouca brisa que perpassa o lugar ainda traz um pouco de cheiro do mar. A cidade, maravilhosa, se traveste de claro luar.
Mas, para Josué, o olhar não é para as pernas de moças, prostitutas ou travestis, devoradas por cada mesa de conquistadores baratos ou não. Está longe. Em algum bairro a 36 quilômetros dali. Está nos braços apaixonados de Valéria, melhor que a xará da Globeleza. Está nos seus lábios, seus afagos, no doce balbuciar que entrega ao mundo quando se juntam na cama depois de um churrasquinho no trailer da esquina.
Ao seu redor, em passos de horas para cada segundo traçado, a vida tem dó de girar em torno de si numa rotação milenar. Nos rostos e corpos que se encontram, se falam, se despedem ou se despem, gostos de drinques e batatas fritas a óleos quase queimados se transmutam em selfies, solicitudes ou servidões de depois. Para alguns terá valido passar o cartão de débito a um crédito de alegria. A outros restará a solidão vazia.
Nova pontada que o faz parar até de pensar. “Por que essa dor?” A pergunta fica sem resposta posta. O jeito é forçar os ossos da face, passar a língua entre os espaços que um dia tiveram dentes e rezar. Algum santo ou orixá dele irá se apiedar. Um garçom o chama para resolver a questão com um cliente que não quer pagar a conta. É hora de esquecer dor e expor os músculos conquistados com muito ferro e esteroides.
· Final um: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué lembra da sua mãe – Dolores – senhora que o criou e a mais seis filhos sem marido do lado e aí não aguenta outra pontada. Dá dois diretos na cara do camarada e outro na boca do estômago, para não perder a referência da face. Com sangue exangue, o rapaz enfim saca a carteira e deixa cada centavo arrematado. E ainda dá gorjeta.
· Final dois: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué pensa em descontar no valentão todas as horas gastas de busão e sem os olhos de Valéria. Mas segura a onda, segura o caloteiro numa gravata e pede para o garçom ligar para a 5ª DP. Não dá dez minutos e os meganhas prendem o rapaz que irá dormir no xadrez e ser enquadrado no total rigor da lei vigente e ciente.
· Final três: Josué para na frente do “caloteiro” e pede, gentilmente, que ele pague direitinho e tudo ficará bem. Todo mundo sairá de lá feliz e cheio de amor para dar e receber. O rapaz, já calibrado e a mil, se nega e o manda para a puta que pariu. Josué pensa em reagir e deixar o valentão com a mesma dor que o acomete no maxilar, mas não tem tempo, O dito cujo estava armado com uma pistola 7.65 com o número de registro raspado. Não dá sequer tempo de reação: são cinco tiros no peito de Josué. Lavado de sangue e da cerveja que caiu junto com a mesa onde ainda tentou se apoiar, ele tomba morto. O caloteiro, porém, é linchado pelos frequentadores do lugar e outros tantos que chegaram para bater e matar.
· Final quatro: o garçom faz um sinal para Josué de que não é mais necessário o seu préstimo de boxeador e faixa roxa de MMA. O rapaz, ao vê-lo de longe ajeitando a camiseta nos bíceps, decide que era melhor pagar aquilo que consumiu, comeu e bebeu. O bar e boate começa a fechar. Josué ajuda a descer a porta de ferro e se dirige ao ponto de ônibus. Daqui a algumas horas irá abrir o portão da casinha de quatro cômodos e se acomodar na cama ao lado da amada. Se ela acordar, de repente rola trepada. Se não, um beijo gostoso misturado de café logo de manhã já estará de bom tamanho. No ponto do BRT um fanho tenta cantar Mas Que Nada, mas trava no “sai da minha frente que eu quero passar”. Josué ri e pela primeira vez a cabeça parece não doer e latejar. Os últimos casais que conseguiram se acasalar seguem entre afagos e tragos para outro renascer.
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Indagações com Itamar Assumpção
-- Comunicação.
-- E pra isso precisa ser formado? Não basta estar antenado?
-- Pode ser, nunca havia pensado nisso.
-- Comunicar até o paraíba (não há aqui, como filho de nordestinos, nenhum demérito) de porta de loja faz.
-- Tem razão. Não tinha pensado nisso. E agora, com a tal de internet, todos são comunicólogos. Ou seja, fiz faculdade nada por nada e me fodi.
-- Filosofia.
-- E isso serve hoje pra quê?
-- Para questionar razão, ideologia e até a fumaça de um beck.
-- Mas para se ficar doidão não basta puxar, segurar o máximo e soltar?
-- Mais ou menos. Ou sim. Tem razão. Doidão é meio filosofia...
-- Sexóloga e influencer digital e coisa e tal.
-- Mas para se fazer sexo não basta se querer e pra influenciar não ter que algo dizer?
-- Acho que sim.
-- E sexo não é além da tela? É pele com pele na peleja. E influência não é fluência na essência daquilo que se faz?
-- Sei lá. Você quer foder com o meu ganha-pão?
-- Não. Só entender.
-- Vivo.
-- Só isso: gasta seu tempo assim?
-- Acho que sim. Vivo num ritmo próprio e abstrato. Me trato e me destrato. Nasço e morro hoje e antes. Sou tragicomédia e teatro. Íntegro no corpo que integro e envelhece em intempérie nos pés que ressurgem descalços em tamancos.
-- E os mil solavancos que a realidade dá, como tratar?
-- Nesses eu nem quero poder pensar. Já que não posso mudá-los, que se fodam em fornalhas benfazejas e sonantes. E queimem rápidas em pães sovados e constantes.
-- Nunca pensei. Talvez eu tive medo antecipado por todos meus dias. Empedernidos e vívidos em loucuras vividas e sufocantes. No meio de uma mata claustrofóbica feito manta de samba.
-- Eólica que a vida é, já que se perde em ventos nos invólucros dos solilóquios de cada um de nós, não te basta parar na chuva fina e madrigal que cai nos ínfimos grãos de areia que a onda rola de repente?
-- Para, não vou responder. Um livro que divulguei à mulher que passava já valeu a beleza da vida...
-- Concordo, como amante, poeta e investigador da dor que a saudade nos traz. Afinal, sumir de tudo que se tem no mundo que essa tal de internet criou, tem que ser motivo de virar madrugada no lugar que o Tom fez surgir em consolo.
domingo, 31 de agosto de 2025
Art Blakey e a tradição dos Jazz Messengers *
Só que no caso de jazz e suas vertentes, sempre há algo mais: o entusiasmo da plateia - geralmente pequena - se manifesta ao fim de qualquer solo ou improviso mais caprichado. É o que acontece nesse "Art Blakey and the Jazz Messengers Live at Kimball's".
A sensação é tão prazerosa que o editor e publisher do guia de jazz de Nova York "Hot House", Gene Kalbacher, escreveu, logo nas primeiras linhas do encarte que acompanha o disco o seguinte: "Nada supera a euforia de estar lá. Pessoalmente, a experiência é sempre mais pessoal, primordial e memorável. E, com a sua presença, você contribui e compartilha essa glória."
“Live at Kimball’s”, gravado ao vivo em 13 de abril de 1985 - lá se vão 40 anos - no clube Kimball’s, em São Francisco, e lançado no mesmo ano pela Concord Jazz, é um testemunho eloquente da energia arrebatadora e da vitalidade do hard bop, encabeçado pelo lendário baterista Art Blakey e sua talentosa formação dos Jazz Messengers.
Eu perguntei à IA como ela definiria "hard bop". A resposta: "Hard bop é um subgênero do jazz que surgiu como uma evolução do bebop, incorporando influências do rhythm and blues, gospel e blues, especialmente nos instrumentos de saxofone e piano. Desenvolvido durante as décadas de 1950 e 1960, o hard bop se destaca por sua intensidade rítmica, similar ao bebop, mas com melodias e harmonias mais acessíveis, e um forte apelo emocional."
A resposta é mais que correta e eu diria "ufa! Finalmente alguém fez do barulho do bebop algo harmonioso e altamente palatável aos sentidos." Sim, eu sempre torci o nariz para os malabarismos do bepop que para mim soa tão ruim quanto o heavy metal que, dizem por aí, é rock.
A banda Jazz Messengers é praticamente uma instituição jazzística norte-americana. Teve, entre 1953, ano em que foi criada por Art Blakey e Horace Silver (que saiu em 1956) nada menos que 28 integrantes até 1990 quando encerou suas atividades com a morte de Blakey aos 71 anos.
Para se ter uma ideia da importância do grupo no jazz, o texto do folheto cita, ao comparar o público do som ao vivo com os que preferem ouvir um disco, alguns de seus integrantes ao longo dos anos, todos eles tendo como líder o baterista Art Blakey: "Os fãs de jazz presentes no Birdland em 1954 (para o quinteto pré-Jazz Messengers com Cliford Brown e Lou Donaldson na linha de frente), no Cafe Bohemia em 1955 (para os Messengers com Kenny Dorhan e Hank Mobley), no Village Gate em 1961 (para o sexteto Messengers com Waine Shorter, Fredie Hubbard e Curtis Fuller) e no Keystone Korner em 1982 (para os Messengers com Branford e Wynton Marsalis) têm mais interesse nesses eventos históricos do que aqueles que curtem a música em disco."
1 - "Second Thoughts" (Mulgrew Miller) 2 - "I Love You" (Cole Porter) 3 -"Jody" (Walter Davis Jr. e Wynton Marsalis) 4 - "Old Folks" (Dedette Lee Hill e Willard Robison) 5 - "You and the Night and the Music" (Howard Dietz, Arthur Schwartz) 6 - "Polka Dots and Moonbeams" (Johnny Burke e Jimmy van Heusen) 7 - "Dr. Jackie" (Jackie McLean)
O crítico Scott Yanow, da AllMusic, afirmou que o grupo era “particularmente talentoso” e que “todas as suas sessões valem a pena para amantes do moderno hard bop”. Para ouvintes que desejam ir além dos clássicos iniciais dos Messengers, este álbum oferece uma ponte ideal entre o passado lendário e as evoluções contemporâneas do estilo. É uma experiência intensa, cheia de ritmo, alma e o inconfundível balanço que só Art Blakey e sua energia contagiante sabem imprimir.
O disco está à venda nos bons sites do ramo e algumas de suas músicas podem ser ouvidas no Youtube.
sexta-feira, 29 de agosto de 2025
João e sua Quitéria
Por Ronaldo Faria
João idolatrava Quitéria, quimera dessas que se esconde na janela a ver beijos de arlequins e colombinas sem multidão. Sonhador, ser solitário de solilóquios efêmeros, catatônico entre um pesadelo e outro, atônito, transitivo sem trânsito, muitas vezes afônico, nos perjúrios da vida a desandar, João ouvia Zé Kéti a dizer que é triste a gente morrer. E pensava que talvez o poeta da caixinha de fósforo não tivesse pensado que triste é se morrer sem viver. Contudo à todavia do entretanto, eis que surge Itamar Assumpção, gênio que a genialidade levou cedo para compor músicas com um Deus qualquer, seja ele negro ou de solidéu.
Agora com as Orquídeas do Brasil a soltarem sua voz será que João deixou de amar Quitéria? Mera quimera. Quem dera. Parece ser despacho feito debaixo do capacho que dorme sujo na soleira da porta torta. Não há como esquecê-la. E nem deixar que ela seja, benfazeja, criatura de hotel com primo na primazia de um jornal pirado perto do parque prosaico onde ela nunca some no sumidouro que a mente da gente tenta recriar. No lugar da saudade, casamata que se desmonta à primeira bomba tonta. No recôncavo das orações verbais que o verbo destrói à primeira verdade, a incongruente ausência na efeméride da fugaz saudade.
João, anunciação do Itamar, singelo ser de somente ser, sem sequer querer ter, somente se questiona na tônica da crônica mal escrita se a desdita faz sentido. Maltrapilho a se ajoelhar em milhares de grãos de milho, sente no sangue que corre no chão o gosto do amido. É apenas um pedaço de pena imune ao voar do pássaro que cambaleia no asfalto infausto cheio de buracos que se rompem na noite como a mais linda meretriz. Na sandice que a crendice de algo surja, a suja bazófia de falar inglês feito matuto do mais recôndito sertão. Afinal, no final de tudo desse submundo, João vira Clarismundo do negror da solícita solidão.
quarta-feira, 27 de agosto de 2025
Protético do estético malversado
Por Ronaldo Faria
-- Vou!
-- Puta que pariu, se deu bem!
-- Sei lá. Saiu até barato para aquilo que eu acreditava. Tomara somente que não seja dentista paraguaio...
-- Tá com medo de levar gato por lebre?
-- Eu não. O que vier agora é lucro.
-- Então manda ver!
Silva, como todos os milhões de Silvas do mundo, conseguiria agora comer dos dois lados, beijar sem medo de meter a língua na boca da cabrocha, sorrir mesmo sem saber sorrir de sorriso aberto e feliz, sorridente da orgia. Por fim, sobraria algum na conta corrente que é que nem de bicicleta a soltar direto e derrubar o coitado que senta no selim. Despedido do emprego de miserável do INSS, ludibriado pelas mentiras que lhe são impingidas, Silva achou um tio que um irmão do primo do cunhado, casado com a irmã gêmea da quadrigêmea da vizinha da moradora do número 30453 da Rua Belavista Prevista, tinha lhe deixado uma grana torta enterrada no quintal embaixo da única roseira em sobrevida. Esperto, ele pegou a enxada e suou até chegar na bendita. Depois de cavar meio quarteirão e nem sequer ter ido na orgia, descobriu um pote de porcelana chinesa que escapou da taxação das blusinhas e estava lá. Era a grana para garantir três dentes dos quatro do predestinado balbuciar que nem paga IPTU.
-- Parcelei em um ano. Parcelas que devem ser procelas ou porcelanas da sorte. Senão, quando eu for para terra de pés juntos, o que parece ser logo mais, sem prólogo ou gol que te torna imortal, ao menos São José não vai dizer, “pode sair parceiro, aqui só quem tem ao menos os dentes nascentes decentes”.
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Seiscentos mil réis
-- Agora está, Valêncio. Hoje fui recebido com tapete vermelho no banco. Senta aí e vamos encher a cara!
-- Foi lá pra lavar o salão?
-- Que nada. Fui depositar seiscentos mil contos de réis que ganhei na milhar do leão.
-- Como assim? Ganhou na banca do Pirizonha?
-- Ganhei. Lembra que eu sonhei com a jararaca da minha sogra? Como leoa não tem, fui no macho em questão. Deu na cabeça a milhar!
-- E o banco?
-- Pois é. Lembra que o vigilante não deixava nem eu amarrar o sapato defronte?
-- Lembro. Ele logo te mandava circular...
-- Pois então. Cheguei na porta e ele veio logo querer bronquear, mas aí eu abri a sacola de feira e mandei ele se quisesse até contar. Precisava ver os olhos dele arregalados e esbugalhados. Não só abriu a porta como chamou o estafeta pra me servir um café passado na hora.
-- Porra, Zé Ruela, tratamento vip.
-- Daí veio um tal de consultor de investimentos e um gerente de beca passada com louvor e dependurada em cabide há tempos.
-- Caralho, tudo nos conformes desejados?
-- Mais do que isso. Mandaram comprar empada de camarão e até uma cervejinha gelada, enquanto contavam nota por nota dos seiscentos mil réis. E foi um tal de senhor pra lá, senhor pra cá, deseja algo mais. Eu fiquei até acabrunhado. E olha que eu sou malaco criado.
-- E aí, aplicou toda essa grana em quê?
-- Sei lá. O tal do consultor propôs até uma viagem à Nova Iorque pra eu conhecer a tal de bolsa dos gringos. Mas como eu mal sei falar português, disse que não. Melhor ficar aqui pela Lapa. E bolsa é coisa de mulher...
-- Fez bem. Confiar em gringo é coisa de otário. Mas, afinal, deu tudo no quê?
-- Deu que eu virei cliente de um pintor maluco da Holanda que cortou a própria orelha.
-- Cacete, cortou seco com navalha?
-- Sei lá. Pintura de tela é coisa que só vale se for daquelas gostosas peladas. Museu pra mim é coisa de passado. E eu quero é borboletar enquanto durar.
-- Mas e aí, então virou marajá?
-- Claro que não, mas agora virei cliente nota dez. O vigilante inclusive me convidou para ir jantar na casa dele, com direito a uma branquinha de alambique. Quer dizer, o dinheiro com certeza pode não trazer felicidade, mas faz algumas pessoas passarem a ver você e te darem atenção.
-- É mesmo, como arrastar o cu na brita!
-- Mas deixa pra lá. Seu José, desce mais umas duas Brahmas que hoje o milionário da milhar está com tudo pra pagar! E uma porção da boa antes de passar a garoa. Mal sei assinar, mas me deram um tal de talão de cheques que não precisa sequer de checagem! E depois nós é que somos a tal de malandragem...
Sorrindo, o gajo do Alentejo e dono da birosca levou logo um engradado com direito a filé de gato temperado e bem passado no alho.
domingo, 24 de agosto de 2025
Diana Krall canta o Natal *
sábado, 23 de agosto de 2025
Dando o que tiver de sê-lo ou dá-lo
Por Ronaldo Faria
quinta-feira, 21 de agosto de 2025
Fogueira a arder
Por Ronaldo Faria
O chamego do casal no calor
das chamas da fogueira intermedia algo que transpira amor e paixão. Traz novas lágrimas
aos olhos translúcidos e aflitos que se entregam ao tempo frio. Atemporais, déspotas
do mundo que os rodeia e os une nas pernas e braços como fossem animais, homem
e mulher dão os braços na dança que serpenteia a saudade. Ao tempo que se esvai
e vai sabe-se lá para que lugar, as labaredas ardem etéreas a cobrir a terra
orvalhada do chão. Na dança a levantar pó e poeira que vagueiam sem eira e bem
beira, um copo pinga a gota quente da mais leviana aguardente. No cérebro que
espirra seu torpor gripal, falácias doidivanas e vãs tentam se achegar. Tiritante
no vento que se refaz feminino na saia rendada da prenda, o casal viaja mil
caminhos na metáfora de ser feliz. Bravo com tanto barulho, o pássaro aquietado
no galho seco caga na cabeça do padre contrito a fingir que sabe rezar.
(Ao som de Vitor Ramil)
Na viagem
Por Ronaldo Faria Viajante de suas loucuras diuturnas, quase equidistante entre a vida e a morte, Januário persegue qualquer polis que vire ...
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