Por Ronaldo Faria
Voz e violão apenas. É pouco? Precisa mais? Cadê a banda? O backing vocal onde ficou? Acho que pouco importa. A junção dos dois, voz e instrumento, já traz à tona e alma aquilo que é essencial para quem ama a música: a certeza de que o intimismo do homem com as cordas far-se-á um só. Em Solo Contigo, Geraldo Azevedo consegue isto. E certamente não precisava mais do que isso. Gravado no Rio de Janeiro em 6 de Setembro de 2018, no Imperator - Centro Cultural João Nogueira, o show traz 24 músicas de uma carreira que “começou” aos cinco anos, quando ganhou um violão do pai, feito pelo próprio. A partir daí o caminho para uma obra expressa em 25 discos/CDs e três DVDs – Solo Contigo, Uma Geral do Azevedo e Salve São Francisco (além das três edições de O Grande Encontro). Aqui vou me ater ao primeiro da lista, que é o último lançado, em 2019.
Nele, Geraldo Azevedo se atira ao cerne da sua obra. Vê-se
a parceria com o grande ator e poeta Mário Lago, Fausto Nilo, Nando Cordel,
Alceu Valença, Capinan e Zé Ramalho, entre outros. Há ainda canções de Vital
Farias, Chico César, Sérgio Peres e Luiz Melodia onde ele se faz intérprete.
Hoje, aos 77 anos completos no último dia 11 deste mês de janeiro, o artista se
aventura pelos palcos junto com Chico César no espetáculo Violivoz. Ou seja, vitalidade não falta aos nossos quase
octogenários musicais. Para nossa felicidade.
Aos poucos, à medida que o tempo passa e os ídolos musicais
vão envelhecendo também, parece que parte da vida fica estagnada. Mas
Geraldinho, Chico, Caetano, Gil, Zé Ramalho, Milton, Tom Zé, Gal, Bethânia,
Alceu e outros mostram que não. Que há vida produtiva e solar àqueles que
sempre foram grandiosos. Não é saudosismo apenas. Afinal é impossível não
reviver momentos que marcaram junção entre canção e emoção com “Veja
(Margarida)”, “Dia Branco” (que é cantado num coro afinado da plateia),
“Caravana”, “O Charme das Canções”, “Você Se Lembra”, “Canta Coração”, “Sabor
Colorido” e “O Princípio do Prazer”. Como não redescobrir a força que sempre
houve em “Dona da Minha Cabeça” e “Bicho de 7 Cabeças II”. Aliás, nessa última
Geraldo Azevedo volta com o solo que leva o público ao delírio. Ele e o violão
continuam amigos do peito e em simbiose.
O fim do espetáculo vem com “Táxi Lunar” e a vontade de
entrar num desses para fazer o tempo voar à frente ou voltar aos tempos bons,
rompendo com a velocidade da luz esses tempos sombrios de agora, se torna uma
catarse entre o artista e a plateia. Em cerca de uma hora e 22 minutos, é
possível determinar que a saudade se faça palavra extinta dos dicionários para
cravar em som o presente final – aquele em que achamos que é possível eternizar
a plenitude numa concha qualquer, que mar ou maré nenhum levarão. Enfim, Solo Contigo é uma joia rara nesses dias
de pouca criatividade, a rememorar canções que já comemoraram maioridade há
anos. Mas não é a maioridade a sentença de que atingimos o melhor de nós? Ou
não? Na dúvida, cravo aposta no sabor a na emoção.
Solo Contigo está no Spotify, no Deezer Music e no Amazon Music.
Aqui, 35 sucessos do Geraldo Azevedo: https://www.youtube.com/watch?v=jKiZxqkM_8g
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