Por Ronaldo Faria
Cancioneiro do cansaço. Ancho. Grave e agudo. Groove no ar. Gancho entre a montanha e o mar. Eterno ir e ficar. Lá fora, luar. Ensimesmado, trôpego, entre um e outro trago, o homem fez-se gago. Refém de um afago. A rotunda luz que desce da grua para filmar na íris o corpo da mulher seminua. A eterna saudade a gargalhar. A boca no gargalo a vazar. Entre os dois corpos, amar.
No homem, dores estranhas, odores das
entranhas. Na estrofe delimitada pela chama, a sanha. No quarto, entre um
respiro e outro, a manha. Uma metade de lua, um terço de sincretismo e um
quinto da teia de aranha na manhã. Que sobe e desce, aquiesce e aquece. Estremece no
pêndulo à veia, na meia. Pênsil como Pôncio Pilatos, entre a verdade e o rumo
dos seus atos.
Nas células, meiose. Osmose de vozes.
Verborragia e orgia. Leite entre café e nozes. À noite, odes. Clarividência de
quem se entrega à saudade e a morte. Que passa a cada dia entre a inércia e a
hipnose. Um tanto de uísque e outro de cerveja. E eu que a ame e a veja:
inteira, entregue na cama como um frango na mesa.
Disputa atroz entre as pernas e a
coxa. De sobremesa, a ostra. Ostracismo e cataclismo. Samba e rumba. Bunda. Pés
e viés. És ou não és? Um misto de parcimônia e amônia. Certeza agônica.
Realidade cômica. Joia lapidada à antiga (sem forma ortográfica). Resistência
ao aprendizado do passado apreendido na certeza de um analfabeto calado. Um ser
amalgamado. A ouvir de rock and roll a fado.
E assim passa o tempo, entre chuvas,
calor e vento. Como advento de um ilógico lamento. Longe, um rebento. E eu aqui
ao relento. Entre riso, beijo, sopro e lamento. Tudo como a falta de vento. Ao
menos não estou a suar. Há brisa largada no ar. Hoje, gostaria apenas de amar. Saber
que daqui há um tanto a trilhar ou outro monte a jogar. Na brincadeira que fica
e repica a zoeira de continuar sem saber para onde se vai ou quando parar.
Ao som de divas negras
brasileiras
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