Por Ronaldo Faria
Aliança de madeira quieta na porteira. Chuva batendo trêmula feito goteira. Um pássaro, miúdo, amiúde, gorjeia do lado de fora. A vida está perto da aurora final. No sonho, a brejeirice de Janaína a tecer saudade e poesia como fosse uma colcha de retalhos. Encostada na varanda, ela brinca de soltar sorrisos e rir e falar com os olhos. Menina e mulher da cidade de um rio que verte em corredeiras na rua do porto tardio, onde aportam bebedeiras, paixões e ilusões sem fio, vive seu mundo tardio. Onde correm mãos pelo corpo, lábios pelo copo, suores da pele a se esvair em desejo infindo. Tudo feito pintura de rosto, com tintura de índio e crença na infinita chegada de nada chegar.
No frio que se aquieta agora, cálido e inconsequente, o som que impregna a sala parece ser o fim e o meio, a partida e a chegada, o meio da meada. Sem mesclas, sem medo, sem nada. Como um caminhão sem boleia, estradão sem lugar para chegar, infinito que não há. Apenas a finitude nos braços da amante, entregue no seu colo, a invadir o umbigo com a língua, carente, descrente, rente à penugem que se joga aos lábios de carne e gozo. Senão, e porque não, o único momento onde não há que se ter tristeza ou lamento, feito corpos em cópula, língua feita de hóstia, emoções em monções sobre o quadrado do quarto. No meio da multidão, acorda um mundo atado de lençol e devassidão.
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