Por Ronaldo Faria
Ele e ela, Marivaldo e
Lisbela, dançam agarrados e atarracados no pouco salão. Um xote descompassado
se arrasta no chão que recebe as notas do sanfoneiro e no batuque do triângulo
e zabumba. Longe da terra da rumba, parecem dois dançarinos de qualquer
tragédia grega a se rir da flor que cai do pé de tangerina.
Ele e ela, dois a brincarem de
doar o dízimo do amor, entregue a qualquer maledicente pastor, viviam seus
passos a se cruzarem e revirarem pernas e desejos. No ensejo que tem mote até na
onça mais ferina, subiam e desciam no céu que vive diante da retina. No rosto
dele, no rosto dela, metamorfose de uma incoerente quimera.
Ele e ela, Marivaldo e
Lisbela, mistura de mar e Oswaldo, Elisabeth e coisa bela, nem se lembravam de
que a vida é só passagem e logo ali, noutra paragem, outra paisagem far-se-á. Com
certeza, o forró não existirá, o trio que toca agora será apenas tempo frio e a
melodia, ao contrário de uma orgia, pedirá fim e muita agonia.
Ele e ela, a verem jorrar água
de moringa nos corpos suados, aguados nas ondas de um amor distante,
equidistante ao traçado planejado do destino, vão ao desatino na rima de um chororô.
Mas agora, nessa hora, o que conta é rodopiar e se atirar no mundo da ilusão. Se
já são, o serão. Corpos colados, agarrados e atarracados no salão. O que virá
depois? Nesse momento, unguento do amor, pouco importa o que a porta da casa de
forró lhes dará. Outra vida, decerto, se tudo der certo, mesmo nessa vida finda
um dia virá.
Do palco o sanfoneiro pede uma
pausa para fazer xixi...
(Aos grupos de forró)
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