Por Ronaldo Faria
Mas o ano tem poucas horas
apenas para entrar nas páginas do passado. Virar lembrança de uma dança que o
par deixou de rebolar no salão em que as luzes se escondiam na penumbra da
noite escura. Loucura? Só quando os olhos fecham para o sono insone. A seguir
nos segundos frágeis que tentam ser minutos e horas para virarem dias e meses,
o ano amuado se perde para o calendário de um tal Gregório, a que chamem de
gregoriano. Carcomido e devorado, tragado e lavrado em cartório, introdutório
de algo logo mais na frente, passeia ente Cartola e Candeia. Permeia a primeira
ilusão que nasce da escuridão e pede para a folhinha de papel ser mel e não fel.
Findo na felicidade que angustia quem não a tem, se vê perplexo a rimar música
e sina.
Num atalho que ata e desata traduções
e unções mil, o tempo segue milimétrico nas métricas que o tempo lhe dá. O ano,
sabedor da finitude, voa de galho em galho à busca de um atalho. Na churrasqueira,
pão com alho. O enxovalho que ficou para trás já procrastinou o abecedário.
Poucas letras poderão medir o que ficou no passado recente. O destino agora
mira o derradeiro presente. O futuro, proletário e atávico, se prepara, de
branco, para caminhar na sua rota. Na gruta que chamam de grotão as palavras se
perdem em negror na luz do computador. No mar as ondas se preparam para pulos de
crenças e discrepâncias. Anchas, as vozes gritam que “agora vai”! Fogos espocam
longe-perto, feito luzes coloridas em presto. Na janela aberta ao horizonte
incólume que se vê vindouro, até diáspora se torna ouro. Num canto, quieto,
2024 se põe a chorar.
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