Por Ronaldo Faria
Imaginária imensidão, entregue imberbe ao mundo da solidão. Catarse de
um tempo em que a os passos repassam o movimento do vento e vão à vontade do
senão...
Livrai-me, senhor do nada, dos males que toda a saudade traz. Não fecha a ferida, mas dá ao corpo uma ermida para curar nas minhas rezas o que se preza derradeiro e primeiro. Dai-me a ausência do corpo da amada como um passado recente, presente e futuro. Dos seus olhos, faz-me ver o sorriso impreciso e ciente da falta do siso. Deixa-me beber nos seus lábios ausentes e ainda quentes, dormir entre seu corpo gemente e sua língua. Embriaga-me de porres loucos e etéreos, terrenos e plenos, em praias mansas e quentes. Se puder, me aquiesça um pouco de esperança de que ainda tocarei suas tranças e verei suas ancas. E quando a noite chegar de forma presta naquilo que resta do final, me entrega à trégua que só aqueles que amam querem voltar na eterna guerra entre a realidade e o querer.
Explicai-me, douto mestre da ignorância plena, porque a efêmera lembrança deixa tanto a reviver e sonhar. Às madrugadas que nos tragam em tragos e perfídia, nos faça correr pelas ruas escuras e vazias que os cães usam apenas para urinar. Se puder, na prudência que dá aos loucos e embriagados, nos largue famélicos de pudor e amor. Desnude-nos às vozes que crescem no coração partido, nos vista de pele nua em perjúrios mil. E se não soubermos de que forma nos entregarmos na cidade que se volatiliza ao picadeiro da fatalidade, nos dê um banco de praça limpo e de madeira onde a derradeira fantasia se fará verdade. Lá, nos deixe dormir e fingir que as flores florescem no escuro, as estrelas iluminam o universo e a paixão sabe que a parcimônia, no verdadeiro amor, não tem lugar.
(Ao som de Cacaso)
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