Por Ronaldo Faria
Terra terral, derradeira estrada matinal e marginal. Talvez um tempo, uma têmpora, um final. Pouco ou nada a se desgarrar do lugar. Um derrear de galope e trotar. Seara esquecida entre pesadelos e desmazelos do passado. Na incerta canção, a unção de um cantar que se desdobra entre as vozes caladas e as urdidas paixões de um nunca poder chegar.
-- Vai boiadeiro, corre sobre
o cavalo o tempo que termina sem intervalo. Segue entre cinzas de um quente cansaço
forte e torpe. Do queimado do mato far-se-á o verde do regaço onde o corpo nu
da mulher se entregará ao amado.
Terra letal, inimaginável mãe
de tanto lugar. Quem sabe um alpendre além do sertão, uma cantoria largada entre
um abraço desbragado e um senão. A inércia que vem depois do amar, feito ilha
que vive em desassossego além-mar. Nas ondas de um canavial a brigar com o
vento, a canseira de guardar a derradeira e primeira saudade que nunca se dá.
-- Vai andarilho em cima de um
tordilho que corre na poeira o trágico lamento da anunciação que não se fará.
No colo da amada, arfada de tanto querer e criar, a infindável canção. Acordes
que se dão ao acordar desmesurado do dia.
Terra do amante, vendilhão de
corações e unções. Na caminhada que para diante do nada, o alforje se enche de
poesias e promessas. Agruras e bromélias verdejam os cantos da estrada. Há
cheiro de mata virgem e virgem desvirginada. Logo além dos olhos, um céu de
azul calcinado. A cobrir os pés, um chinelo cheio de pó e de muitos calos.
-- Vai poeta na seca que se atira para longe do rio que brota brancura da areia e do calor. Vai calar teus versos profanos e mundanos no mundo de meu deus. Lá do alto, altaneiro e servil, teu demônio sucumbirá em fogo no frio do tempo senil.