Por Ronaldo Faria
Melancolia antropofágica em
cacófago. Sem saber se é ou se será. Comiserada de si mesma. Envolta em
tragédias, falácias e palavras que ninguém entende ou lê. Como um carro que
roda sem relê. Falácias entremeadas de sílabas e notas, todas dissonantes e
caladas. Calcinadas de si mesmas. Benfazejas e encruadas dentro do peito. Como
sonetos ou sonatas. Sob a batuta do maestro que rege o ensejo diverso. Ao
autor, resta o verso. Um relembrar de mãos juntas e untadas de viver. Tristezas
assassinadas pelo prazer. Pés que subiam o cadafalso como fossem à igreja
rezar. À que Deus? Esse nem precisava estar. Quietos e senhores de si, em todos,
desnudos e rotos, bastavam calar. Línguas em perfídias, passagens de mudar de
lugar. Aos desejos, o largar. Um lagar infinitamente só. De fundo, um piano
transforma suas teclas em valsas diversas. Há corpos que se transmutam
corpóreos para o infinito tão perto do fim que parecem anjos ou querubins. Nas
vestes, cetins que se jogam ao chão desnudos do que se for, por fim. Centelhas de
mil azuis a cantarolarem a despedida finita e crível em cruz. No sorriso final,
a certeza de que existe o mal. De bom, o bem que vai e volta, traz luxúria e
revolta, se aconchega de bem-querer. No frio da certeza, a madrugada em açoite.
A incerteza certa de que o amor nunca há de morrer. Na nota que vence os
ouvidos trôpegos e torpes, a rítmica e sombria realidade da noite. Os carros
que se arrastam sem saber aonde chegar, as chagas untadas de além-mar. Nos poros
que secam ao degredo do tempo, unge de frescor o vento. A dissonante chegada
dos minutos que se foram como aforismos da canção. No momento, o sentimento se
embriaga de ilusão. Pensamentos como unguentos que nunca se irão passar. Agora,
esbaforido de tanto correr e tentar, o poeta se aconchega em sopas de letras e rimas só
para tentar rimar. À toda ilusão, cabe o vil sonhar.
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