Por Ronaldo Faria
Desatino entre os amantes deixa
o contrabaixo solitário a tocar. Nas mesas ao redor, na rotativa retórica da
vida, um astrolábio ou uma bússola teriam enlouquecido no frenesi sem cessar. Talvez
o revés que há na contradição do amor e da dor, uma gargalhada hilária que
sobrevive plúmbea na efêmera felicidade que, já dizia o poeta, é uma pluma. Senão,
a rotina hedionda que faz dois corpos viverem ao longe, entre cópulas
postergadas e copos vazios. Na ânsia demasiada da fala que cala, o sorver de trôpegos
beijos, benfazejos, quiçá. O tocar de peles, no alisar da penugem que se agarra
entre o limiar e o prazer. A discrepante nostalgia tardia que existe quando o
sonho de juntar é somente um inseto a brincar na semente que brota. E ele sabe,
no seu voar desandado e desvairado, irá morrer antes mesmo da flor brotar. O
fruto, este perecerá sem o gosto que a língua molhada traz e refaz a cada
beijo. Mas, no desatino cretino que traz o choro para regar de lágrimas a
despedida nunca finda, o poema se renova e dá sombra àquele que, na ilusão
derradeira e fagueira, ainda crê que viver requer ser feliz. Na esquina
escondida pela luz queimada do poste, uma prostituta acena de volta...
Nenhum comentário:
Postar um comentário