terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Adeus samba, até 2025

 Por Ronaldo Faria

 


Na avenida o samba já nem se lembra que desfilou e fez a alegria da passista e do compositor. Para ela vieram os desejos carnais de tantos carnavais, para ele a cantoria de milhares de vozes vorazes em si como vestais a cantarem os versos desiguais.
-- Jerônimo, homônimo heteronômico fugaz, vale a pena achar que os carnavais do passado foram a verdadeira delicadeza?
-- Sei lá... Ou melhor, sei. Um deles ao menos foi. Mas só um, que permanece vivo no eterno relembrar.
 
Fevereiro de algum ano do Século XX, vinte para quem faltou nas aulas de números romanos. Jerônimo, a amada e outros interlocutores anônimos para a prosa brincavam no salão. Antes, ambos estavam na avenida. Logo mais estarão na cama, a brincar de fim de folia, a fazerem a cama correr os poucos metros quadrados e enquadrados no depois e após apócrifo do senão. Tudo começava na parede e parava na porta, como querendo sair sala a fora, abrir um portão, descer escadaria e se largar na rua que descia para encontrar a avenida.
-- Foi bom esse Carnaval?
-- Como assim? Quer que o paraíso se perpetue?
Claro que Camila, personagem essencial para se entender a história, queria. Mas havia realidade e passado, a fatalidade tardia, tríade de rebentos que já não chorava pelos peitos mas prendia desejos e carências infindos, pendia entre o desejo de ser feliz e a obrigação de fazer outrem feliz.
-- Vamos simplesmente viver?
No estupor do momento o silêncio e o lamento da vida se fazem notícia de jornal na voz de Camila. No final de qualquer coisa,,metros e metros quadrados, guardados na lembrança que não se esvai.
-- Está lembrando o que, Jerônimo?
-- Nem eu sei. Talvez fosse melhor esquecer de vez. Mas como seguir adiante se não houver algo a lembrar, a nos mostrar que a tal felicidade existe de fato, mesmo sem ser unanimidade? E se por um momento fátuo, inócuo, fizemos parte dessa minoria? Se pudemos de uma forma efêmera, macho e fêmea, acharmos que fomos felizes?
-- Talvez você tenha razão. Mas de que vale a razão de antemão? Afinal, mil e tantas variantes existem entre um início, o meio desatinado e o pseudo fim?
-- É, afinal o que é a razão? Mero e destrambelhado tesão? Um slow motion do passado arfado e calado em si? Sorrisos e afagos que dançaram de forró a fado? Fatalidade de duas vidas cruzadas em teclas e teclados, separadas na esquina fatídica do não...
Na décima e algo se saberá de que os amigos exaustos de quererem encontrar respostas para a vida se entregam à saideira. Nessa hora a certeza do fim derreou, o momento já não há, o tormento do amanhã vira deletéria imprecisão. Das tantas caixas de um acústico sonoro surge a noite enfim. Logo mais o caminhão de lixo surgirá para carregar recicláveis e emoções do passado.
 
(Com Celso Fonseca a rolar)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito

 Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...