Por Ronaldo Faria
Mariângela, filha de pais
apaixonados por Ângela Maria, está na Pedra do Arpoador a ver mais um fim de dia
que brilha no Morro Dois Irmãos. Logo o sol estará batendo forte no Japão. E
lá, quem sabe, outra Mariângela de olhos puxados estará sentada em alguma pedra
a ver a luminosidade chegar por detrás do Monte Fuji.
-- Posso sentar do seu lado?
O pedido, vindo de Afonso (mas só um pouco depois ela saberia o nome do rapaz), surgiu solene, quase de joelhos, não fosse correr o risco de sangrar no corte que uma ponta de gnaisse quartzo feldspático de granulação fina pudesse fazer.
-- Claro que pode. O lugar é público e o por do sol é de todos.
Bethânia, moça que os pais,
baianos, colocaram o nome em homenagem à própria irmã de Caetano, está sentada
no Ponto dos Mentirosos, a assistir o mesmo sol que morre a se perder num
pedaço que o Rio Caraíva dá em majestade para a natureza plena. Igualmente, uma
mulher da Austrália espera a sua chegada solar.
-- Posso sentar do seu lado?
A voz de Sérgio (mas só outro tanto depois também descobriria ele assim se chamar) soou firme e convicta ao colocar uma garrafa de cerveja na mesa e dizer que a vida era bela demais, desde que fosse vivida na sua plenitude e amplitude.
-- Claro que pode. Desde que pague a conta do que consumir depois.
No Arpoador, um chope depois,
uma caminhada do Leme até o Leblon e conversas mil para deixar a noite chegar ao
antever da madrugada que teimou numa chuva fina e o som de motores de carros e
luzes de neon.
Em Caraíva, algumas cervejas
mais, pastéis de arraias, o barulho do mar logo perto, as pequenas marolas que
o rio traz. Daí, seguir para o Forró do Pelé e descobrir que não há tempo entre
o tênue luar e o amanhecer.
Mas, maledicente, o sol
resolve voltar. Mariângela e Afonso, tontos de drinques e efemérides mil,
beijos tresloucados e canções que uma cidade maravilhosa traz, se despedem e pedem
que a Pedra do Arpoador seja eterna e terna.
Na mesma forma sacana da
claridade real, Bethânia e Sérgio se despem e se atiram ao mar. A água começa a
misturar o sal em seu verde ao doce do rio marrom. Em volta não há nada que
queira acordar. O efêmero já se tornou dono do lugar.
-- Posso sentar do seu lado?
O pedido, vindo de Afonso (mas só um pouco depois ela saberia o nome do rapaz), surgiu solene, quase de joelhos, não fosse correr o risco de sangrar no corte que uma ponta de gnaisse quartzo feldspático de granulação fina pudesse fazer.
-- Claro que pode. O lugar é público e o por do sol é de todos.
-- Posso sentar do seu lado?
A voz de Sérgio (mas só outro tanto depois também descobriria ele assim se chamar) soou firme e convicta ao colocar uma garrafa de cerveja na mesa e dizer que a vida era bela demais, desde que fosse vivida na sua plenitude e amplitude.
-- Claro que pode. Desde que pague a conta do que consumir depois.
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