terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Quase lá e cá

 Por Ronaldo Faria

Meu São Pedro me ajude. Se aprume na brumada e traga fartura. Se não puder, deixe tudo como está. Afinal, já disse um palhaço que pior do que está não dá para ficar. Ou dá?

É noite, perto da madrugada tragada de tragos de goles e fumaça. No som, Cazuza na confusa dramaturgia que é nosso dia a dia. Na nossa próxima plateia há desde o crente a ateia. Em tudo, a limítrofe estrofe que a parcimônia da felicidade se fez e desfez. Na leitura do futuro há gentílicos, nunca um inglês. Na Indonésia, centenas. Quem será o mecenas? Às dezenas, o dízimo de quem doa o amor e os beijos. O cheiro da essência do incenso incendia o negror de luzes que sobrevivem acesas em quadrados cúmplices de não ser. No piscar que aos píncaros da luz traduz o fim de algo, a certeza de que algo há de ficar. Nem que seja só para sufocar a dor que a lâmina traduz no seu frio chegar.
 
Meu São Jorge, com sua espada cheia de sangue de um exangue dragão, me deixe continuar a escrever. Senão, culpa minha de amar. Mas que se algo vier, o façam réu até maior léu.
 
É noite, incongruente e demente. Gemente de si mesma. A acreditar que a insólita verdade seja a devoluta efeméride a se viver. E para o passado sorveram anos no ralo de um tempo qualquer. Na ilusão da felicidade, na falsa idade, na demérita incerteza de alguma rua de Copacabana, profana, que fez sonhos escorrerem em corretas sentenças de que a vida tem um final que nem o maior escritor soube traduzir. Fosse aquilo que quiséssemos, não haveria poesia, parágrafos, dor. Sequer haveria um bar, blasfêmias efêmeras, traduções traumáticas, louvor. Nem Arpoador, o melhor do bom, benesses e horror. Apenas as penas a que fomos impingidos, ungidos de crenças que não se sustentam.
 
Meu São José, porque não vivi uma puta no Barbarela às sete? Agora, numa ágora que não há, peço apenas que tenha pena do que restou das ruas vazias do incrédulo Baixo Leblon.
 
É noite, grandiloquente que nem merece trema e a trama insurgente que a gente acredita pode querer ser. Inócua, vitimizada e viralizada, guardada em poucos momentos e tormentos, quiçá excrementos que deixamos a cada lento viver, se faz viva. Por fim, no interregno precípuo que a falácia traduz como felicidade, um misto de lugar nenhum e cidade. Talvez o medo da descoberta que o choro primeiro e primário não valeu. Que a fuga desandou. Na bazófia do agora (seja lá o que isso for), a inclemente ausência que a premência de querer ter vivido ainda traz. Na loucura fortuita da vida, a certeza de que a anuência da ciência crível não há. Numa esquina um louco ainda está a cantar um eu te amo tanto.
 
Meu santo nenhum, satânico e satanizado em diásporas, me dê ao menos a resposta que tanto busco, posta em caminhadas sem volta e revoltas nunca correspondidas em olhares.

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