Por Ronaldo Faria
Odor de sete ervas a sair de um incenso para tentar aplacar a dor.
A
sobressair o gosto de sol ou de sal.
Com a lata d’água a derramar gotas que escorrem do metal e percorrem o asfalto frio do anoitecer geral, segue a voz de Elza Soares a soar em vendaval. Na casa de madame, outra preta veste um avental para saber-se tal e qual. No morro, envelopado e mágico entre pontos cardeais e mortais, voláteis e letais, corpos se entregam ao zinco que já não existe e insistem em viver na xepa da feira. Logo mais, canta, haverá Carnaval. No palco, a deusa em ébano e cores apresenta a plateia geral. Noutro lugar, gozo tardio, fastio escondido em olhares de neto e dias mortos por serem sempre iguais no igual. No desigual calendário que o mais sedentário amor traduz em flow, torpor.
II
Quisera, à primazia da fera que habita cada um de nós, que a quimera prevalecesse diante da inércia acidental ou ocidental. Na subida do morro, o barulho de atabaques que entoam louvores aos santos que descem dos céus para viver o sonho de verter mil pesadelos febris.
Quisera, agora no odor da arruda, ao menos encontrar o cursor que teima em invadir a segunda tela. Na feira das emoções tardias, barracas oferecem dúzias de saudades, pencas de esperanças, quilos de esperas entre danças e contradanças que nunca voltarão a existir.
Quisera, grandiloquente e temente da poesia seguinte, que o batuque envolvente e quente daqueles que se embriagam a ver o rebolado da passista como única verdade. Mas o tempo é extemporâneo e final. Em cacos de vidro e goles de baba, bebe-se a frágil maresia corporal.
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