sexta-feira, 14 de março de 2025

Sem segredo e degredo

 Por Ronaldo Faria

Simone, homônima sem nome, passeia no seu passo pequeno como fosse aneurisma desses que a gente não espera e cega nosso fim feito fera. E derrama no enlevo dos segredos o degredo que nem o coração consegue ter. Mulher de enigmas, nascida em manjedoura em pleno cataclismo, está sempre entre amor e cismo, ensimesmada de tanto torpor e dor. 

Mulher na fé e no dissabor, parturiente de um ente que espera a paz, sublime na vastidão que o fim traz, escapa por um triz do fotógrafo que busca a foto que bate entre a realidade e os esmeris. No seu corpo, riso tosco, o fosco que ofusca o capô do velho Fusca. Decerto e na certa no próximo sinal ou semáforo haverá um amor para lhe pedir perdão e acasalamento.
Simone, clone de falácias e velozes sonhos que eclodem, segue entre livros e louvores a tracejar traços e troças àqueles que a amam em vão. Desvão de mil e milhares palavreados e rimas, sinas e sinais, desses que não se finda ou se funda nem no Monte Sinai, deixa seus olhos de amêndoa a romper bastiões e bandeiras. Nalgum momento, em desalento, o tormento irá virar brisa leve na tormenta.
E como fosse um fóssil encravado no coração dos homens que visitam a Paulista numa Paulicéia nunca destravada ou desvairada, Simone, essa insone lamúria que pousa feito pomba na plúmbea janela, se esmera na férrea linha que os trilhos de aço não dão ao chegar. E vai a jogar sua fumaça cinza e colorida na vida fragilizada daqueles que a esperam no hangar. 
Na mesmice que volatiliza a brisa da noite, fratricida no dia que o amanhã fará despertar, o largar de infaustos desejos e palavras tresloucadas e que surgem inalteradas de algum lugar. Em todas, blasfêmias que nem mesmo as fêmeas mais fragilizadas irão repetir. Ao fim de tudo, no submundo da perfídia inconsequente e ciente, sentimentos voláteis têm seu fim.

(Se alguém ainda lembrar de fitas K7, essa eu tive)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito

 Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...