quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Sonhar e realizar

  Por Ronaldo Faria


Nem tudo que a gente sonha vira realidade. Na verdade, tudo vira apenas saudade.

Josué, ensimesmado e pasmado, aperreado e tragicômico, atônito e descerebrado, estava prostrado e agônico no limite entre a agonia e fotofobia. Fóbico e antropofágico, convivia com suas alegrias e sangrias mentais a torcer de que fossem somente alegorias do tempo que se esvaem em volátil teia. Nela, a aranha arranha o último tecer do seu périplo em tear.
Josué, no féretro que cada dia nos dá, procura à altura do seu crer o caminho a percorrer. E segue nos descaminhos comovidos e vividos em próceres aquém. Vívidos quiçá (quiçá é tão bonito, poético e definitivo que dá vontade de colocar em todo texto, quiçá). Um dia Josué certamente será alguém. Afinal, para tudo há um decrépito e infindo amém.
Josué, no céu a lutar contra o dono de lá, seja ele quem for, perpetua sua finitude para escrever em nome de tantos mais que o fazem subscrever coisas que a morte não deixou outros e outras a fazer. E aceita o limite entre a loucura e a sanidade. Sabe que a orgia de um velho xaxado termina no visionário e incrédulo dicionário do certo derrear.
Josué, meio bêbado no momento em que o tormento se faz a morte de um ser vivo, viaja em virgens que se deitam nuas e virginais para as incertas orgias sem fim. Na sóbria realidade que se esconde em recônditos nunca descobertos, cobertas de cetim cobrem os corpos anciões que um dia urgiram algo mais do que a angina. No derredor, em dó maior, o cantor diz que a sombra a tudo ilumina. No futuro, a fúria de saber que para escrever há de sobreviver à dor.
 
(Com o Grande Encontro 3)

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