sábado, 1 de fevereiro de 2025

No Dia do Poeta, Pixinguinha

 Por Ronaldo Faria


A ouvir Carinhoso, Galhardo para de beber. Entre essa música e ele há muito ou tanto a arremeter ou remeter. “Onde estará o mestre Pixinguinha? Para quem ele estará a tocar e trocar risadas, goles e emoções? Se Deus existir, ele estará na primeira fila a ouvir o mestre soprar poesia e vida?” Copo erguido aos céus, no ensandecido bordel que vira a parcimoniosa sequência da essência, um cheiro de rosa amarela perpetra no ar a ilusão que é sonhar. No lugar, clarividência de se saber que estar vivo é, num segundo, não morrer.
Galhardo, fardo de si mesmo, enfadonho e medonho no precipício das horas, sorve tragos e tragédias, comédias e únicas balburdias que existem no seu coração. Segue sem segredos, degredos e enredos no tempo que o vento traz. É ele mesmo, enfurnado num quadrado minúsculo e imenso ao sabor de um incenso. Grandiloquente e na sua pequenez profunda sonha com uma boca e sua língua, uma bunda. Na barafunda vazia, perfaz nostalgia e prepara a azia que logo virá. Se esmera na fera enjaulada e destrói as amarras enferrujadas.
Para ele, na galhardia que só a loucura traz, a noite é o que mais apraz. Talvez haja uma voz ou um jazz. Um descompassado compasso que não gira em 360 graus e nem igualmente está nos acordes da música. Nas palavras que são a lavra e o louvor, o torpor. Talvez uma esquina que a perfídia fulmina nas pernas da mulher/menina que traz angina ao coração, a chegança da trama imperfeita. Mas, analfabeto perpétuo que é, não sabe sequer o que é um pretérito perfeito. No seu jeito, na efeméride da vida, o blues vira amor singelo ou bafafá.
Galhardo, aprumado nas profundezas que misturam momentos pueris e safadezas, apenas se volatiliza na bruma que se faz. E enlouquecido na enfumaçada lua que surge esbranquiçada e fadada a servir de pano de fundo, se afunda na certeza de que nunca saberá diferenciar o sim de um não. Assim, na caminhada acobertada de vida e canduras, vai a caminhar feito zumbi. Aqui e ali, no defunto que é todo o dia que passou, segue seus passos pisados em asfalto e areia fina. Sua vida, logo que será finda, espera o colo da amada e lúdica poesia/mulher.

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