Por Edmilson Siqueira
Um disco lançado há 46 anos, apenas com músicas românticas interpretadas por um casal de cantores já com vasta experiência à época poderia ser ouvido hoje sem que o ouvinte de bom gosto encontrasse qualquer defeito e o classificasse como um trabalho sensacional? Em se tratando de Dick Farney e Claudette Soares, a resposta à longa pergunta inicial é um sonoro "sim!"
Isso porque não eram apenas dois cantores que cantavam afinados. Eram dois grandes intérpretes da música em geral, particularmente da romântica, do samba canção e da bossa nova, movimentos pelos quais eles passaram incólumes e respeitados por todos.
O disco que estou ouvindo se chama "Tudo Isso É Amor" e Dick e Claudette passeiam pelas faixas como se estivem andando na praia de Copacabana de mãos dadas ao cair da tarde.
Um artigo biográfico escrito por Pedro Paulo Malta e publicado no site Discografia Brasileira do Instituto Moreira Salles revela o início da carreira artística de um gênio da nossa música: "Foi menino prodígio enquanto seguiu o script familiar: aos treze, levou o “Prelúdio nº 7” (Chopin) à Rádio Guanabara; aos 15, encarou a “Dança ritual do fogo” (Manuel de Falla) na Mayrink Veiga. Quando caiu no jazz, nem o pai conseguiu segurá-lo: segundo o escritor e jornalista Ruy Castro (“Coleção Folha 50 anos de bossa nova, vol. 2”, 2008), o próprio Eduardo teria participado da criação do nome artístico que ficou no lugar de Farnésio Dutra e Silva – nome que o filho recebeu ao nascer, em 14 de novembro de 1921. "Assim nasceu Dick Farney, nome inspirado em Dick Haymes, crooner norte-americano nascido em Buenos Aires que substituiu Sinatra na orquestra de Tommy Dorsey”, conta o crítico e produtor Zuza Homem de Mello no livro “Copacabana: a trajetória do samba-canção” (Editora 34, 2018), destacando o acerto do jovem músico, ao ter seguido “a praxe de adotar um nome artístico sonoro e fácil de memorizar, tão normal no meio dos cantores e atores norte-americanos.”
Claudette Soares começou sua carreira artística ainda menina, pois foi revelada no programa "A Raia Miúda”, de Renato Murce, na Rádio Nacional. Apresentou-se depois no programa "Clube do Guri”, de Silveira Lima, na Rádio Mauá. Depois no programa "Papel Carbono”, também de Renato Murce. E no programa "Salve o Baião”, de Luiz Gonzaga, que a apelidou de "Princesinha do Baião”.
O disco com Dick foi uma decorrência normal da amizade entre os dois e da afinidade de repertório. Aliás, foram gravados dois volumes. O que estou ouvindo hoje é o primeiro.