Por Ronaldo Faria
“As águas desse rio,
para onde vão? Eu não sei.” (Tom Jobim)
No barco que rema contra a maré, o homem vai na fé. Rema a rima, remador. Seja na sequência do nada ou na finitude da dor. Lá no fim da estrada, do lado do porto, tanto faz a felicidade ou a finitude do estupor. Tudo é excrecência no fim.
Na mulher que espera seu amado na
noite diuturna de cada dia, um samba-canção. Um desejo intrínseco e lânguido e
manso – um canto calado à vida a florescer em flor. Minueto intocável no mais
fundo desejo esquecido no ultimato do clímax da solidão.
Na escolha da escola, a Estação Primeira que, por sinal, se chama Mangueira. Que faz versos e paródias, prosódias de ilusão num caminho que separa a vida da canção. Em versos de Cartola, Nelson Sargento, Carlos Cachaça, desce o morro para a história chegar.
No sentimento do pranto que desce
entre lágrimas, verte o coração em finita chama. Mas faz-se criança e errante.
Alcoólatra e garoto dos anos 50, semente de um ser errante, desconexo do mundo
futuro, a brigar na paródia de sê-lo enfim.
No poeta do adeus, sem respostas,
canções, sem Deus. Sem crer em nada, a rir dos idiotas que profetizam mundos
novos, ideias novas, óvulos em fecundação. A simplesmente, de forma uniforme,
passar minutos unos e únicos a sorver seu eu – ou você e eu.
No milimétrico teclar entre o ritmo do
dedo e o ar, há o que já foi bater nas teclas de uma máquina mecânica em
barulho enlouquecedor, como o arrancar de acordes em sustenidos perdidos numa
partitura qualquer. No fim, tudo é pouco ou, senão, o mais ínfimo ponto na eternidade de
ser.
“Meu tempo é quando” (Vinicius de Moraes)