Por Ronaldo Faria
Metamorfose de borboleta a
borboletear por aí, a ir e voltar, voar e revoar feito vento de soleira de
janela, que para no vidro que tudo vê e nada deixa entrar. Feito trejeito da
performance de bailarina que se despe de purpurina. Um pouco de angina
malfadada e deformada em pruridos. Passeios e anseios de ter um corpo à cama e
postergar por medos e ensejos o último e derradeiro momento isento de culpa e degredos.
Desejos jogados na estrada que nunca volta e teme a beira que se esgueira na
curva que mostra um infinito derrear. No fundo do coração saber-se-á que espaço
não há. Não há lugar para retornar, roubar de beijos extraviados, revirar
gavetas carcomidas pelos cupins que cheiram a jasmim. No mundo de universos
paralelos os versos não têm início ou fim. Não se transmutam na Babilônia com
odor de amônia e nem acordam de um sono perpetrado pela insônia. Simplesmente
viajam em andrajos de alma como almanaques escritos para vender a ilusão que se
perfaz acabrunhada como a voz esganiçada de qualquer cunhada acanhada. Nas vísceras
que vicejam um dia desgarrarem do corpo, acalantos de prantos partidos e
jogados a léu numa lenda esquecida nas páginas do livro nunca escrito, proscrito
nas entranhas da estranha senhora a gemer e gritar. “Venha, vida! Venha me
matar!” Do alto da igreja, o padre vocifera feito boi-fera a ferir o silêncio
que procrastina a derradeira sina. E o lugar adormece e padece feito o menino
que corre pelas ruas empoeiradas que um dia viram os passos da inocência
trilhar...
(Pro Zeca Baleiro)