Por Ronaldo Faria
Pisadas frias e rápidas no
corredor que está repleto de pó e penduricalhos mil. Afrânio, conhecido como “O
Sofredor I”, rei da terra inexistente de um dia por vir, caminhava em ávidas
saudades e falácias fálicas e frágeis. Era o soberano tirano e o aldeão que
vagava pela estrada na busca de um lugar para cair e ficar. O som dos seus
passos era como percalços de uma história sem canção. No anoitecer que o céu
deixava tecer, um tecido de nuvens escondia o desmazelo. Sem zelo, na
inexatidão do tempo vivido, ia Afrânio afanar segundos para poder viver. E ver,
sobreviver, rever, num reverso que só o verso maldito dá e sente. Com sangue e cheio
de trovas e trotes a sim apenas.
Em trôpegas e infindas vazias
letargias, ia o homem fatigado pelo tempo na busca de um lugar além do
quebra-mar. Sem portos de onde sair ou voltar, navega entre sereias, monstros mil
e loucuras de um ser senil. Entre um barco e outro perdido, com náufragos a
nadarem sem rumo ou prumo, ia o almirante Afrânio. Conhecido como o “Grumete da
Vida”, navegava de oceano em oceano a passar por tormentas e maremotos, corpos
mortos e jogados ao mar que desemboca em nenhum lugar. No caminho dos afluentes
que só os doentes de paixão sabem onde ficar, o homem balançava de embriaguez
e, sem sensatez, beijava a tez que, em perfídia, aparecia no espelho da vitrine
apagada.
Nas vertiginosas hostes que
saber-se-á de onde surgem, corre e surge a tropa que seguirá aquele conhecido como
o “Capitão sem Aptidão”. Na inexatidão da contemporaneidade, ele transitava
entre loucos e bêbados, mulheres nuas e adventistas tristes. Perseguia um fugitivo
que, sem saber, era ele mesmo. Com seus soldados maltrapilhos e famintos, famigerados
famélicos de emoção, ia a ouvir um sambista que perdeu a mocidade, a sorrir. “Capitão,
por favor, a tropa precisa descansar!” – gritou o sargento à base de unguentos.
Desmemoriado, o homem, por fim, grita: “Paremos e sintamos o cheiro de jasmim!”
Como peças de dominó, os comandados caem um por um, a sorrir.