Por Ronaldo Faria
Aonde escrever os últimos versos,
desses que se deixa como epitáfio e coisa grafada na cova que não existirá?
Aonde perpetrar as últimas
ideias, aquelas mesmas que surgiam sabe-se lá de onde vieram no vocábulo
finito?
Aonde frigir os derradeiros
versos, cataclismos perplexos de uma existência entre a lucidez e o hermético
plexo?
Aonde cantarolar a saudade que
não passa e perpassa nos istmos que unem lugar nenhum até nenhum lugar?
Aonde ondear as ondas que
batem na praia que se espraia feito passageiro que perdeu sua última viagem?
Aonde perpetrar a infundada e
estapafúrdia prosopopeia deletéria que se faz infausta e quase delirante aquiescência?
Aonde reverenciar nossas
loucuras, agruras, semeaduras e viver como enfeitiçados de uma única e sublime
mulher?
Aonde reviver um viver a quem
não daremos explicações, satisfações, emoções derramadas como esmola de ter?
Aonde conquistar o palco que
irá desabrochar a cortina vermelha em centelha que não se apaga ou se apega quiçá?
Aonde viver o lugar em que o passado e o futuro, nesse presente ausente, far-se-ão uniformes e algozes apenas por ser?