Por Edmilson Siqueira
domingo, 12 de janeiro de 2025
Um som moderno, de 1975
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Não tem jeito
Por Ronaldo Faria
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Lembrança na festança de Dominguinhos
Por Ronaldo Faria
-- Se ainda estiver vivo alguém que nos conheceu, talvez... Senão, com certeza não.
A resposta caiu como uma bomba em Sebastião. “Sabe que é verdade. Depois de um tempo surge, por fim, o fim. Se não tem quem tenha saudade, não tem mais a pessoa. Essa é a verdade que ressoa desde em sempre. Quem irá cavoucar o nome e a vida de quem sequer teve um segundo em sua vida?”
-- Mas será que algo de nós vai ficar, Jesualdo? Que nem semente, sementinha...
-- Olha, Bastião, acho que não. Mas se sobrar uns ossos, na hora de colocar outro na sepultura, ao menos os coveiros que tiverem de enterrar a gente vão ficar putos e lembrar das nossas mães.
-- É, você deve ter razão...
-- Então fica assim. Nos vemos amanhã para tocar a boiada do coronel até a invernada.
-- Com certeza, Mas vou ficar mais um pouco. Segue tua trilha.
Sebastião pede outra para o dono da venda e repensa a resenha. “Sabe que o Jesualdo não está errado de tudo. A gente vive até quando houver quem nos amou ou odiou, que chore ou ria o nosso fim. Depois, num mundão que já enterrou gente que nem dá pra contar, não tem como pedir bis.”
-- Posso sentar na mesa?
A voz, feminina, bem mais do que poderia se chamar de linda, bateu como um bumbo no seu ouvido.
-- Claro. A mesa está livre, além de mim.
O nome dela era Berenice. Seu cheiro tinha o mesmo que a dama da noite, essa florzinha pequenina e branca que exala um perfume da moléstia de bom. Seus olhos, verdes e marrons, cobriam a lua cheia com uma claridade que nem se o sol ainda estivesse acordado teria. Seus cabelos, cor de milho bom de colher e girassol, escorriam sobre o decote que mostrava os seios que nem os maiores devaneios fariam brotar. Seu rosto nem um tal de Michelangelo poderia esculpir. Na verdade, Sebastião preferiu não olhar além do umbigo. Afinal, Berenice era o amanhecer de luz na caatinga, o nascer de um bezerro a mais na cria, a flor mais bonita que o mandacaru pode dar. Vestida no vestido vermelho e branco, acima do joelho, ela fazia o coração bater além do peito. “Segura na boca, coração”, implorava o boiadeiro que antes queria saber se valia a pena viver.
-- De que fazenda você é?
-- Da Nova Esperança. Toco o gado lá.
-- Já ouvi falar dela. Corre o Rio Real defronte?
-- Sim. Na verdade ele é divisa. Coisa maluca, não é. Um rio que seca na seca ser a divisão de dois estados.
-- Concordo. Mas o que não é loucura nesse mundo?
A conversa continuou mesmo com o pio da coruja que queria colocar as corujinhas recém-saídas dos ovos para dormir.
-- Você gosta de pamonha e milho?
-- Gosto, claro.
-- Então está convocado pra debulhar um monte comigo na semana que vem.
-- É sério, Berenice? Além de aboiar o gado e cuidar das burregas tenho que debulhar os sabugos?
-- É. Isso se quiser saber aquilo que eu posso te dar além de prosear...
-- Se é assim, que os dedos sangrem no milharal.
Não deu meio tempo e o clarear chegou. Os dois estavam agora na praça da igreja, sentados no banco, a lembrar avós e o tanto que o lampejo do lampião que cheirava gostoso vive até hoje na imensidão. Talvez, quem sabe, Jesualdo estivesse errado. Que a vida pode se eternizar num descampado, fole de sanfona, lembrança atávica, lamber de pele e línguas, lábios sedentos de amor. Senão, que seja apenas a flor que dura um dia, uma semana, um mês para a abelha tentar se achegar. Agora, na verdade, pouco importava. Sentado no seu tordilho, no dia seguinte e pedinte, Bastião se bastava. A dormir em cetins, Berenice bebia outra conquista. Ela, com certeza, será lembrada e relembrada nas vidas presentes, passadas e, fortuitamente, futuramente. A nós, nos nossos nós inconsequentes, sem trema e com tramas mil, só nos resta sonhar.
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Charles Mingus, um gênio para poucos
Por Edmilson Siqueira
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Dia da Mulher com Tom Zé
Por Ronaldo Faria
sábado, 4 de janeiro de 2025
O trem azul
Por Ronaldo Faria
O trem destrambelhado e descabelado pela velocidade sobre os trilhos enfileirados para levar alguém a algum lugar segue engatado com os vagões em turbilhões. No passadio que existe na estação seguinte, a limítrofe e tardia sangria que estanca a branca saudade que une os longínquos e efêmeros lamentos em vão. Nos quilômetros atônitos e afônicos que se perderam no chão, um misto de perdões e ilusões. Na aquiescência da sofreguidão, a inaudita certeza de que o mais novo e solerte segundo é somente um novo senão.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2025
A miltanear as travessias da vida
Por Ronaldo Faria
Na esteira da contrapartida que nem a efeméride da vida dá, o orfeão
mostra que o ouvir das falácias se torna realidade a quem pensa ser feliz...
Quase um Quasimodo, personagem em viagem eterna na busca da essência, sem a malemolência que precisaria ter, sabe que está só. Na solicitude de si, toca os dias e diásporas como se ainda quisesse viver. Mas ele sabe que tudo isso é mero enguiço do carro que nunca dirigiu e frigiu seus pneus e ovos numa pantomina irrisória e simplória.
No bar enegrecido e perdido no mundo que pranteia mil plateias inexistentes e tardias, Belisário bordeja nas bordas que se formam entre a sanidade e a loucura. Logo mais chegará um novo e velho dia. Desde logo ele saberá ser um eterno passado. O segundo do presente é secundário e o futuro é somente uma semente que não germina infinda.
No passado que se faz passadio interminável, a intragável chegada da alma penada que se arrasta em correntes e tormentas no imbricado sortilégio do acaso. Talvez uma alva alma transtornada e atávica. Senão, o menino a se esconder em cobertas rasgadas, nos rasgos que são mais do que um ventre que no primeiro choro externo se põe a vender.
Belisário, ator, diretor, autor e plateia da casa de espetáculos com seus mil tentáculos, rompe a temporalidade que é ser. Entre aplausos e vaias, bilheteria perfeita e cadeiras vazias, merdas ditas em vão no camarim, segue a viver. Na semeadura inglória do terreno seco se faz a planta morta que decide renascer e se encher de flores amarelas e vivas, vívidas de beijar.
Na inerte veste, vetusta tragicomédia, o reviver que nem a melhor cena da extinta Cinédia traria ao lugar. Na criação da ação longínqua, a ilusória e utópica mansidão que só os anos que se foram e não mais virão dão. Mas, na incrédula célula que sobrevive, os sons etéreos e efêmeros que povoam a loucura genética e frenética de não se saber e sequer viver.
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Ano em final
Por Ronaldo Faria
Mas o ano tem poucas horas
apenas para entrar nas páginas do passado. Virar lembrança de uma dança que o
par deixou de rebolar no salão em que as luzes se escondiam na penumbra da
noite escura. Loucura? Só quando os olhos fecham para o sono insone. A seguir
nos segundos frágeis que tentam ser minutos e horas para virarem dias e meses,
o ano amuado se perde para o calendário de um tal Gregório, a que chamem de
gregoriano. Carcomido e devorado, tragado e lavrado em cartório, introdutório
de algo logo mais na frente, passeia ente Cartola e Candeia. Permeia a primeira
ilusão que nasce da escuridão e pede para a folhinha de papel ser mel e não fel.
Findo na felicidade que angustia quem não a tem, se vê perplexo a rimar música
e sina.
Num atalho que ata e desata traduções
e unções mil, o tempo segue milimétrico nas métricas que o tempo lhe dá. O ano,
sabedor da finitude, voa de galho em galho à busca de um atalho. Na churrasqueira,
pão com alho. O enxovalho que ficou para trás já procrastinou o abecedário.
Poucas letras poderão medir o que ficou no passado recente. O destino agora
mira o derradeiro presente. O futuro, proletário e atávico, se prepara, de
branco, para caminhar na sua rota. Na gruta que chamam de grotão as palavras se
perdem em negror na luz do computador. No mar as ondas se preparam para pulos de
crenças e discrepâncias. Anchas, as vozes gritam que “agora vai”! Fogos espocam
longe-perto, feito luzes coloridas em presto. Na janela aberta ao horizonte
incólume que se vê vindouro, até diáspora se torna ouro. Num canto, quieto,
2024 se põe a chorar.
domingo, 29 de dezembro de 2024
Da Austrália para o mundo
Por Edmilson Siqueira
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Fora da Caixa, segundo a Amazon Music
Por Ronaldo Faria
Dúvida bloqueia a mente. Bloco de cimento pode ser de barro?
Latas de cerveja entopem o saco de lixo. Luxúria topa ser feita de cevada?
Lamúria e lamento são lentos. A leniência leva à falência mental?
O melaço da cana é açúcar ou mel? Quem de nós saberá afirmar...
No corpo nu a estrada do prazer é fácil. Difícil é descobrir o caminho de voltar.
Na quentura da noite tudo parece ser cinema do estilo noir, a suar em soirée.
Jogar a vida fora é querer ser? Esperemos a cicatrização das feridas.
No balaústre, o algoz trama a queda. Limite entre a certeza e a inércia.
Os imbecis de carteirinha sabem que pagar meia de sanidade é assistir a tela sem luz?
Espere, exaspere, desespere, volatize-se em crenças que a quimera um dia vem.
Os olhos da outra brilham e choram na esquina que a sina fez história.
Amanhã será um dia em que a lembrança do ontem desmonta o desejo de ter.
Escrever para quê? Vou lá saber... Talvez só o momento de dizer que vale ser.
No ônibus que desce a floresta tijucana, a cena bacana que nem a erva de Tijuana poderá repetir ou vivenciar.
Ponto final do pontífice que faz a derradeira oração. Ao mundo, a mera unção...
Borboleta, catraca, roleta, torniquete. E as vidas vazam em sono sem direito a piquete.
Enfim, dormir. E viajar em pesadelos e desmazelos que o zelo da paz esqueceu.
Uma índia? Com certeza. Ou será indígena, originária da terra, mulher e mais?
Vai aí um chá que vai te fazer cagar até a alma e te colocar na universidade? Mas, de quebra, ganharás uma sogra megera que irá depois seu amor esmorecer. Manda ver!
Nunca acredite que é fácil dirigir. O próximo galpão de faculdade vai te provar.
Saibamos, pois, que nada é tão definitivo assim. Só nos basta aceitar o açoitar e fim...
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Beijo brejeiro com João Donato
Por Ronaldo Faria
-- Sei lá. Isso é pergunta que se faça depois de trepar?
-- Trepar?
-- Tudo bem, Clarice, fazer amor...
-- Gláucio, você está bem rasteiro num relacionamento afetivo.
-- Desculpe. Desculpa dez mil vezes. Tudo bem?
-- Mais ou menos.
-- E de onde você tirou esse beijo brejeiro?
-- De lugar nenhum especificamente. Surgiu assim, da cabeça.
-- Assim, da cabeça?
-- É! Foi!
-- Calma. Tudo bem. Pensemos sobre, pois. Não deve ser de língua. Porque língua é uma coisa arrebatadora, invasiva, onde se entrega o próprio interior, o âmago, ao outro. Segundo o dicionário, brejeiro “diz-se do indivíduo dado a fazer brincadeiras ou gracejos, brincalhão, folgazão, trocista”. E se o amor é um pouco de brincadeira ou troça, pode ser um beijo rápido, desses em que o amante dá seus lábios, cola na boca do outro e foge rápido. Ou seja, só pra brincar de amor. Dizer que beijou.
-- Mas se não há definição, pode ser tudo, inclusive isso.
-- Tudo bem, não tiro a sua razão. Mas vejo o beijo brejeiro como algo tranquilo, fugaz, que some numa tarde bonita de calor entre mil cores de céu e fica gravado e cravado nas sensações e nas emoções. Coisa que perdura. Entende?
-- Entendo. Quer dizer, aceito a definição. Afinal, as palavras têm um significado, mas nós podemos ressignificar a sua essência. Se você quer que assim o seja, assim o será. Afinal, quem usa a língua pátria no dia a dia, os dicionários ou nós?
-- Nós, claro! Então beijo brejeiro vai ser aquilo que quisermos que seja.
-- Isso. Aliás, falando nele, quer dar vários e dezenas agora?
A resposta de Clarice foi jogar o seu corpo sobre o do amado e lamber cada pedaço dos lábios, descobrir espaços novos da língua alheia tão já recebida e dada, sentir novos gostos, morder e mordiscar o que pode sê-lo, selar vácuos por minutos num espaço agora único dos dois. E assim ficaram horas e impassíveis minutos entregues à história. Ao final, cansados, lavados de líquidos mil, se entregaram ao sono com os corpos entrelaçados, não sem antes Clarice fazer uma nova pergunta.
-- Dormir de conchinha é o mesmo que acordar caramujo morto com pérola a brilhar?
-- Sei lá. Vamos descobrir amanhã?
O vizinho do oitavo andar agradece o fim de tanto questionar. “Afinal esses insaciáveis vão hibernar. Mas, igual aos ursos, o ser humano consegue se por numa caverna para o tempo frio e inóspito esquecer?”
Do céu o pseudo criador de tudo volta a ter o desejo de fazer a Bíblia ter razão. Mas apocalipse é o fim ou o início?
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Mudando de assunto, pero no mucho
Por Edmilson Siqueira
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Com Anna Pêgo no ar
Por Ronaldo Faria
sábado, 21 de dezembro de 2024
A receita
Por Ronaldo Faria
-- Caganeira, das brabas.
-- Sério? E dá sempre?
-- Não. É tipo libera um dia e trava no outro.
-- Sei. Então fica difícil saber se te dou um laxante ou algo que interrompa a diarreia.
-- Porra, Cardoso, você é meu atendente de farmácia preferido. Nunca erra. Libera algo.
-- Atendente, vírgula. Sou farmacêutico. Só que fica difícil saber aquilo que você tem.
-- Não tem um remédio meio termo, que solta pouco, na medida, e segura pouco, no necessário?
-- Não. O sintoma é um ou é outro. Decida primeiro do que você precisa. Pese os sintomas, faça um levantamento das diarreias e das constipações estomacais. Pegue um calendário e vá somando. No mês que vem você volta com o resultado. Daí, laxante ou um regulador intestinal.
-- Tá bom. Sacanagem, mas tá bom. Me vê então uma cartela de Melhoral pra eu não sair de mãos vazias.
Decepcionado, Cupertino caminha no calçadão a pensar nos seus últimos dias.
-- O que eu vou fazer com essa cartela de Melhoral? Tomara que o vencimento esteja bem distante...
A tarde está quente e seca. As chuvas diluviais de março têm migrado para longe. Raras, quando chegam servem apenas para destruir tudo pela frente.
-- Cadê aquela chuva que servia para aliviar as tardes e dar cor de arco-íris no céu, molhar as plantas e encher de poças as calçadas para o sabiá beber?
Pelo visto não seria hoje que nem uma coisa ou outra iriam acontecer. O calor, aquele que traz torpor e vontade de criar raízes defronte de um ventilador, parece que não ia dar trégua. Os quiosques à beira do mar estão cheios. Copos de chope lotam bandejas e fazem os garçons correrem várias maratonas sem medalhas de ouro ou louros de vitória. No som em volta, papos de mar e botequim. Uma onda também se faz menina aos ouvidos dos menos desavisados ou desinteressados em ouvir as fofocas das mesas ao lado.
-- Quando começou esse limite entre cagar e tampar geral? Claro que foi depois de perder a vesícula. Mas alguns dias depois... Será que demorou para o cérebro registrar a falta? Baita putaria do corpo...
Cupertino já se cansara de perguntar a si mesmo e tentar elucubrar teses e teorias. Agora era chegar em casa, buscar um calendário e marcar com sim (para diarreia) e não (para não). Depois voltar na farmácia e mostrar de modo científico o resultado para o Cardoso.
-- Aí que quero ver ele não me dar um remédio...
Eufórico, sabendo que em trinta dias teria fim o seu drama, chegou no apartamento e logo pensou em abrir uma cerveja para comemorar antecipadamente o diagnóstico final. Não deu tempo: sim um a zero... Na rua um pipoqueiro apregoa a sua doce como “o milho mais doce que já explodiu para o paladar”. No banheiro, Cupertino amaldiçoa o vendedor até sua derradeira geração.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Rio de Janeiro no Parabéns
Por Ronaldo Faria
Sambemos, respeitemos o chorinho como expressão nacional, saudemos a cidade do Rio de Janeiro com suas comunidades, suas favelas, sua violência, sua beleza, sua essência, seu povo, suas maravilhas. Aceitemos que a Bossa Nova se foi, que os poetinhas definharam, que o Estado esqueceu de atender a todos de forma igual. E a folia virou um vendaval de balas perdidas e sol apagado nas retinas. Mas não esqueçamos que a sua maravilha é muito mais do que uma ilha do Brasil. Terra minha, berço do que sou, obrigado por me receber tijucano na sina e a meus pais, nordestinos na nascença. O resto que não se falou ou falei, que o resto vá pra... Saravá!
Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito
Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...

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