Por Ronaldo Faria
Um pássaro passa rápido pela
ravina. E vem e volta feito saudade que não tem sol e nem sina. Voa como uma
nota se denota na música que ecoa perdida nos ouvidos da vida. Brinca de coisa
rara, errática, e se espalha pelo espelho que é somente passado a se reviver. A
ver o que não foi e aquilo que restou, o homem pensa em chorar mais uma vez. Mas
qual, não há o que dizer. A dissonância não cobre a grama seca de fogo e nem o
carcará sangra a ovelha que pasta na ravina. O mundo não muda à vontade divina.
No curral, o gado olha
bovinamente o povo que passa por detrás da cerca. Longe de lá, mas acerca do
problema, o padre pede que a chuva se espraie além do céu para chegar à terra onde
o barro escurece a flor morta de um tempo que não floresce. Quantas paixões não
deixaram de se embrenhar entre corpos e carícias por causa de uma rapsódia que
a orquestra do destino se negou a tocar? Deitado no alpendre, o cachorro velho
e fraco vê seus últimos dias ultimarem aquilo pouco que o universo lhe deu.
Mas, na casa de farinha, dedos, suor e braços amparados na grande colher de madeira ceifam de futuro a mandioca ralada e branca que crispa de calor sobre o tacho onde a lenha grita sua última dor. Nalgum lugar um vaqueiro grita para o bezerro fugitivo e cheio de medo voltar. E corre entre árvores secas em que espinhos tentam furar o couro que o protege. Com o bucho a agrar nas esporas, o cavalo segue sua sina. No embate em penumbra que ilumina o resto de luz solar, a saudade de um ou outro, do mesmo lugar.
“Vem, volta logo, meu corpo e minha sede de beijos te esperam num só
esperar.”
Grito de Maria, na caça de pau a pique, a acender o lampião que tenta
apenas alumiar e ser...