Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Agripino, desses que a gripe
passa feito poça d’água cheia de girino, batia o tamborim na madrugada cercada
de cervejas e mulheres de pele que a África, graças a Deus, deu. Filho de ogã,
batizado e confirmado, ele viajava acordado nos acordos que fez, mesmo sem
saber, com a vida. Entre acertos e erros, sofismas e solfejos, versos e beijos
de testa e língua, à mingua, ia a seguir a estrada do samba de breque, a brecar
em cada ir e chegar. Pra, no fim de tudo, com o cavalo já cansado de tanto
poeta receber pra virar escritura ou poesia, terminar na voz de Vinicius de
Moraes.
Por Ronaldo Faria
-- Manda a saideira aí,
Germano! O dia já vai virar! Que nossas gargantas, enquanto elas puderem beber
e falar, nessa vida que morrerá logo ali ou acolá, possam se esmerar e
satisfazer os poucos prazeres que ainda restam a nós, meros subservientes seres
de nós mesmos.
Germano, garçom e camarada,
que apresentou tempos atrás a amada, responde rápido e ávido dos dez por cento do
pedido de Beraldo. As mesas já quase vazias em volta, revoltas nas emoções que
surgem em turbilhões depois de muitas doses e toques, olhares e desejos, esperam
igualmente a garrafa chegar. “O último gole não tem como se largar”, pensam
todos aqueles que resistiram heroicamente e historicamente. Um dia os escritores
do futuro irão trata-los como resistentes dignos de verbetes e, quem saberá,
falsetes de alguma inteligência artificial.
A sorver mais um líquido
liquefeito de poesia, saudades e santos que descem para escrever no cavalo embriagado
e tragado de suas lembranças e lambanças aquilo que deixaram de falar em vida, o
tempo se esvai e vai nos segundos fecundos que viram passado em si a cada
escrever. A ver, o que tiver de ser. Com Caetano a tornar veloz um Veloso que
brilha entre estrelas, resmas e réstias, versos e versículos, o cara detrás da
tela branca se acha escritor. Na esperança nunca vinda e no imenso mar de dor.
Da Bahia o padrinho prometeu visitar a sede do Olodum.
-- Germano, abre outra saideira!
De número qual? Sei lá! Mas já bateu no recorde normal. Isso é bom porque garante
que a gente, mesmo que de forma mentirosa, volte a crer que o tempo vira
estigma que só a lembrança de cada um faz passado parecer. Eu, por exemplo, me
sinto agora no Gattopardo da Lagoa a beijar a índia do Pará ou a comer feito
louco o Meia Lua do Natural. Deixe, por favor, assim ser.
Germano, cordato e corado no
rosto de tanto receber o sol que o português não impede de chegar por se negar
a colocar um anteparo, logo traz outra garrafa. A madrugada já chegou. Os
pássaros dormem dependurados nas poucas árvores que restam, os amantes se esculacham
notívagos nos colchões que descobrem vaginas e colhões, as estrelas curtem o
pouco tempo que a primavera com cara de verão traz. O importante é saber que
algo irá se transmutar e viajar milhares de quilômetros nas luzes de fibras
óticas e cruzar mares, oceanos, continentes e mentes. Metamorfose feito entorse
mal tratada.
-- Germano, decidi hoje não
saber quantas linhas tinha cada parágrafo ágrafo. Chega de seguir limites!
Deixemos a loucura sobressair! Portanto, não esqueça de mim.
No novo dia do dia novo, como fosse um ovo a chocar ou frigir, Beraldo lembra da camaleoa que se rapta. E se adapta. E se se faz amante para uma eternidade que não há. Que pode virar a mulher a bel prazer que se entrega no prédio esférico do Centro ou dormente na rede de uma casa onde uma cabeça cadavérica de boi surge no quintal de luar. Bel, a que será que se destina? Com certeza parte de um escrito pequenino, longe da tua intacta retina.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
10/11/2023
Hoje levei minha filha para
passear comigo. Ela estava na frente como sempre, no seu canino rebolar. Ninguém
a via, com certeza. Aos olhos do mundo ela estava invisível. Mas eu a via. E
conversava com ela. Quem tenha visto talvez tenha se apiedado do velho já
caduco, desses que conversam consigo mesmo ou com amigos imaginários. No meu caso,
era com uma filha peluda que pisava o asfalto já quente da manhã.
Amigos, já não os tenho em
profusão. Na verdade, nunca os tive. E os que restavam já não estão. Fazem
falta? Não. Afinal não tenho mais a mínima vontade de interagir com ninguém. Por
isso, tanto faz como tanto fez estar aqui ou não. Na verdade, quando este texto
estiver no site, em 21 de março de 2024, talvez seja só mais um escrito de quem
já se foi sob as chamas de um crematório, agora em cinzas com sua filha.
O certo é que perdi o medo da
morte. E para consegui-lo é fácil: é só não ter mais motivos para estar vivo. Se
o fim é certo e escrito desde o nascer, não há porque temer. Talvez tenha uma
saudade de escrever, beber uma cerveja gelada, ouvir uma boa música, ser. Mas
essa saudade logo passará. Onde estiver, “vivo” noutro plano ou em total
finitude como deverá ser, estarei com minha Nina, e isso é tudo que faz da
morte um renascer.
Mas, se vivo ainda estiver,
vamos tocando o tempo que, por ventura, restar. Na procrastinação da eternidade
um solilóquio diário há de haver. E novos passeios com a filha sob o céu de um
sol escaldante, a revisitar postes e árvores que temos ainda que cheirar ou urinar.
E seguir seus passos para onde ela quiser ir. Enquanto não chamarem a
ambulância de um hospício para pegar o velhinho da cadela invisível,
caminhar...
Por Ronaldo Faria
De repente, uma barata imensa
surge do nada, em plena noite de Halloween. No som, Rita Lee. Na junção, a
filha de quatro patas. Rápida, a sola do chinelo bate firme. Na primeira
porrada, a barata cai no chão. Vem a segunda, mais forte e certeira. Foi-se.
Ficou, porém, a gosma no subwoffer. Toalha de papel molhada para limpar. A
mesma que cata os restos mortais da Periplaneta
americana. Descubro então dos riscos de esmagar este ser. Mas, já Elvis. Esmagada
está. E desceu a latrina quieta e calada. O mundo? Esse permanece para quem
tiver seu barato de poder em si mesmo viajar.
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria
Por Ronaldo Faria - Você só pode estar de sacanagem querendo que eu vá ao enterro da Jacinta. Sinto muito, mas eu é que não vou! - Mas, C...