terça-feira, 19 de abril de 2022

Waly Salomão 3

 Por Ronaldo Faria

Gritemos e nos engalinhemos, nos engalfinhemos, naquilo que isso for. Nos esforcemos para aguentarmos quem não nos entende e nunca nos entenderá. Seja em que esfera for. Sorte do Vinicius, Tom e tantos mil outros que optaram pela orgia ou solidão. Fechar ou se abrir entre janelas sobre a Guanabara. Sob a distância, a alquimia de ser, ver e ouvir e se calar. Se dar em si mesmo em nome dos outros, se amputar, se calar, se fazer um nada a nadar nas antropofagias de se matar. Ouvir as “verdades” e calar. Viver o amor perfeito no peito que se esvai vida afora. Em mililitros ser julgado. As ideias, os versos e reversos, esses que se fodam. O tanto vivido, sobrevivido, renascido, refeito, premido, calcinado de pesadelos e desmazelos, que se foda. A vida é, enfim, uma foda maldada. Eu preciso...

Oh, minha honey baby.”

(Wally Salomão)

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Prazeres matinais

Por Edmilson Siqueira 

Cliquei sábado de manhã no YouTube para assistir alguns vídeos e o programa me aparece com a capa de um CD onde dois artistas negros, já na terceira idade, se olham de frente, meio que abraçados, num olhar mais que fraterno. O título do CD é Collaboration, eu não conhecia e, por um impulso provocado pela bela foto da capa, cliquei para ouvir. 


O som que começou a tocar, sem trocadilhos, me tocou logo de cara.  Um piano esperto, uma bateria presente, porém discreta, um contrabaixo fazendo a base. A música é Rhythm-A-Ning e exige grande concentração dos solistas, mas eles tocam como se já a conhecessem há muito tempo, transmitindo não só a beleza do ritmo, mas o prazer de fazer a coisa certa e bonita.  


A segunda faixa é lenta, mas é um clássico e quando começa já arrebata o ouvinte. Uma introdução simples para as primeiras notas de Summertime ao piano, enxutas, certas e prazerosas. Aí eu já quero conhecer mais e invado o Google à procura de referências sobre o disco. E descubro que o baterista é Elvin Jones e o pianista é seu irmão mais velho, Hank Jones. No contrabaixo Richard Davis. O disco foi gravado no Avatar Studios, em Nova York, nos dias 12 e 13 de maio de 2002, com exceção de uma faixa que foi gravada na Sony de Tóquio em fevereiro de 2004. 
   

Mas o disco tem mais histórias. Pesquisando em sites de vendas, sou informado que as sessões do Avatar Studios resultaram em três discos e que esse Collaboration é o terceiro, todo ele com faixas alternativas, com exceção da faixa gravada em Tóquio. O primeiro álbum, Autumn Leaves, está disponível na 441 Records. O segundo, Someday My Prince Will Come, foi lançado pela Sony Columbia.   


Descubro também que esse é o último álbum gravado pelos dois irmãos e que a faixa de Tóquio, Memories of You, é, possivelmente, a última gravação dos dois juntos. Ela foi gravada em 5 de fevereiro de 2004 e Elvin Jones morreu em 18 de maio do mesmo ano. 


Pra quem não sabe, inclusive eu, Elvin Jones foi um dos bateristas mais influentes da história do jazz moderno. Seu irmão, Hank, ótimo pianista por sinal, escreveu no encarte do Collaboration um texto intitulado "Elvin, meu irmão". Um trecho: "Eles dizem: 'Os bons morrem jovens'. Concordo. Thad e Elvin sim. Eles dedicaram suas vidas ao que amavam e acreditavam, mesmo que isso significasse encurtar suas vidas. Como membro da família, às vezes me pergunto se pudéssemos ter feito menos e permanecido juntos como uma família por mais tempo. Por outro lado, respeito sinceramente o desejo de Elvin de viver sua vida (tocar). O mundo da música de hoje não existiria sem ele. O fato de ele ter sido um grande baterista que influenciou todos aqueles que vieram depois dele ficará para sempre nos discos e na memória das pessoas." 

Além de Rhythm-A-Ning e Summertime, o disco tem ainda Satin Doll Blue Bossa, Long Ago And Far Away, The Shadow Of Your Smile, Autumn Leaves, My Funny Valentine, Moose The Mooche e Memories Of You. 


Por fim, é um trio de jazz com a formação clássica de piano, baixo e bateria, com um excelente repertório levado por três músicos não só altamente experientes, mas também deveras talentosos. Ganhei o sábado ouvindo os três.


O disco está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido inteiro no YouTube neste endereço: https://www.youtube.com/watch?v=9WWCz49zAA4 

sábado, 16 de abril de 2022

O Passarim do mestre Jobim

Por Edmilson Siqueira 

Antonio Carlos Jobim, o nosso Tom, sempre será merecedor de todos os elogios possíveis, claro. Mas, como já andei elogiando o moço no primeiro texto deste blog, vou passar direto por essa seção e entrar de sola no primeiro CD que eu tive na vida. Lembro-me que foi um presente de aniversário, ainda nos anos de 1980 e que nem tínhamos ainda um CD player. Que, por óbvia necessidade, foi comprado logo em seguida. Quem me deu que me desculpe, mas não consigo lembrar, afinal, lá se vão pelo menos uns 35 anos. 


Mas o que importa é que se trata de um Jobim e, consequentemente, até hoje ouço e sempre com um prazer renovado. O disco se chama Passarim, mesmo nome da primeira música. Como compositores, além de Jobim, fazem parte do disco Paulo Jobim, Danilo Caymmi e George Gershwin. E como letristas Ronaldo Bastos, Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, Gil Goldstein e Ira Gershwin. Como se vê, o time só tem cobra criada. 

No ótimo site Instituto Antonio Carlos Jobim - que tem em seu acervo tudo de Dorival Caymmi, Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulo Moura, Milton Nascimento e Marieta Severo, ficamos sabendo de detalhes importantes dessa obra (e de todas as outras) do nosso maestro soberano. Está lá no site: "Depois de Matita Perê e Urubu, Passarim completa a trilogia de discos de Tom com nome de pássaro; é o primeiro com a Banda Nova, com quem gravaria outros: uma produção familiar, com coordenação e arranjos de Paulo Jobim e Jaques Morelenbaum. Além de Paulo no violão e Jaques no cello, a Banda Nova era formada por Danilo Caymmi na flauta, Tião Neto no baixo, Paulo Braga na bateria e os vocais femininos de Ana Jobim, Elizabeth Jobim, Maúcha Adnet, Paula Morelenbaum e Simone Caymmi. Além da canção título Passarim, composta para O tempo e o Vento, com raízes nas parlendas infantis (“Cadê o fogo, a água apagou/ E cadê a água, o boi bebeu/ Cadê o amor, o gato comeu”), o álbum traz as inéditas Borzeguim, manifesto em defesa do mato e dos índios, e Chansong, com letra original em inglês. Gravado entre novembro de 1986 e março de 1987, em dois estúdios cariocas (Polygram e Transamérica), Passarim foi mixado em abril, em Nova York, por Tom e Jaques." 


É nesse disco que Jobim e Chico Buarque cantam o tema de Anos Dourados, feito para a minissérie da Globo onde foi apresentada somente no modo instrumental e já impressionava pela beleza da melodia. 


Há outras curiosidades, como Isabella, música de Paulo Jobim e letra do próprio Paulo em parceria com Gil Goldstein. Já Fascinatin' Rhythm, um ícone do jazz, dos irmãos Ira e George Gershwin, é cantada em ritmo de samba. E Samba do Soho, música de Paulo Jobim e letra de Ronaldo Bastos, é cantada em português, mas no encarte a letra está em inglês com algumas frases em português.   


É nesse disco também que Jobim lança o grande sucesso Luiza e o longa e deliciosa Gabriela (a música). É, enfim, um disco sensacional (mais um) de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, que, infelizmente, à época que foi lançado nem vendeu muito. Mas é daqueles discos que, permanecendo no catálogo da gravadora, vai continuar vendendo para todo e sempre. 


O CD pode ser comprado por aí nos bons sites do ramo e pode ser ouvido inteirinho no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=0mHSBIPU2Ks&list=OLAK5uy_lqI5tr0mIJxAIqDNiPrnsdyh7w5rMBvCc . 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

A Waly Salomão 2

 Por Ronaldo Faria 

À essência da essência, a discrepância da excrecência no que ela for. Entre uma lágrima incontida e outra contida, vejo o meu Rio de Janeiro. Minha terra, meu lar pouco brejeiro, quiçá, meu pesadelo de cada noite mal dormida. Mas, feito Assis Valente, não tomarei formicida. Vou deixar o resto de vida se envenenar no meu resto de vida, endividada em si e carcomida. Quem sabe um baseado, entre a base de tudo e o turvo, far-se-á no futuro a alquimia. “Tem pra vender?” Saber-se-á de antemão e na mídia. Na alfafa que derrama em rama, a mansidão. Quem sabe um luar obscuro e escuro não se fará na incandescente réstia que rompe o fogo de fastio que irrompe no matagal que floresce como fosse trigal.

“Me sinto contente. Completamente. Completamente feliz.”

(Waly Salomão)   


quinta-feira, 14 de abril de 2022

Trilhas de rock

Por Edmilson Siqueira 

No início dos anos 1990, o formato Compact Disc, popularmente conhecido como CD, reinava absoluto. Os velhos LPs de vinil eram coisa do passado e, embora ainda estiveram em uso na casa de muita gente, já era difícil encontrar lojas que o comercializassem.  


Uma das grandes vantagens do novo formato era que nele cabiam muito mais músicas (70 minutos perto dos 30 a 40 muitos de um LP) e as gravadoras aproveitaram para colocar no mercado inúmeras coletâneas de grandes astros ou coletâneas com um

conteúdo específico. 


O Melhor da Bossa Nova, Os Grandes Sucessos dos anos 60, 70 ou 80, o Melhor dos Mamas & Papas e muitos outros títulos que vicejaram por aí, trazendo muita coisa boa, mas muito lixo musical também. 


Eu tenho na coleção de CDs muitas dessas coletâneas que, se não são um aforam de conhecer profundamente a obra de um artista ou o que realmente aconteceu numa década, trazem, de modo geral, um apanhado importante daquilo que se pretende mostrar. Mas, claro, que muitas gravadora aproveitaram para, junto com material de primeira, desovar faixas que estariam encalhadas para sempre caso o vinil não fosse substituído pelo CD. 


Uma dessas coletâneas que considero das mais representativas e muito bem elaboradas é a "Rock & Roll From The Movies". O CD que tenho foi editado pela Movie Play de Portugal. A Movie Play é uma empresa belga e existe também no Brasil. Mas não encontrei um exemplar brasileiro à venda, só importado. 

Richard Loyd, que escreve no encarte do CD, afirma que os filmes onde os rocks fizeram parte da trilha sonora podem não ser clássicos, mas as 24 faixas são "rock & roll" puros e mágicos.  


Nem todos são nomes conhecidos no Brasil, aliás. alguns filmes nem devem ter sido exibidos por aqui. Mas a linguagem universal da música e do rock em particular, se incumbe de deixar o ouvinte com aquela cara de satisfação a cada faixa. 

Lollipop, uma baladinha que andou fazendo sucesso por aqui há muitas décadas, abre o disco, nas afinadas vozes do grupo The Chordettes, do qual, sinceramente, jamais ouvi falar. Mas é gostoso ouvir. Foi rilha do filme Stand by Me. 


Rock mesmo está na segunda faixa, com o clássico Blue Sued Shoes, na voz de Carl Perkins, que mantém a tradição das boas versões dessa música. Porky's Revenge (Porky's Contra-ataca) foi o filme que ela ilustrou. 


As trilhas prosseguem com The Kingsmen cantando Louie Louie, do filme Animal House (Club dos Cafajestes); Gene Chandler canta Duke of Earl, do filme Hairspray, de 1988. Nova versão do filme foi feita em 2007 que, por aqui, recebeu o nome de Em Busca da Fama.  


The Dixie Cups canta Chapel of Love, do filme Full Metal Jacket (Nascido para Matar);  Fontella Bass apresenta Rescue Me, do filme Sister Act (Mudança de Hábito); The Countours canta o sucesso Do You Love Me para o filme Ritmo Quente e Bill Haley, um dos pioneiros do rock, canta Shake, Rattle and Roll, para o filme Hot Bubblegum, batizado por aqui de Paquera e Curtição. 


Baby Love, filme de 1968, tem Eddie Cochran com Summertime Blues; Sam Cook, outro pioneiro, canta Wonderfull World, para o filme Witness, de 1985; Phil Philips canta a décima-primeira faixa do disco, trilha de um filme da pesada, com grande elenco: Sea of Love (Vítimas de uma Paixão).  


The Dubs canta a balada Could This Be Magic, do filme Coupe De Ville (Cadilac Azul); Chuck Berry, um dos reis do rock, aparece com School Day do filme Rock 'N' Roll High School; Bo Diddley canta Who Do You Love, um rock apressado do filme La Bamba.  


The Exciters canta Who Do You Love, trilha do filme The Big Chill (O Reencontro), com um elenco estrelado; Little Richard - o enfant terrible do rock, nos traz Tutty Frutti, sucesso mundial, que esteve presente na rilha de Down and Out in Beverly Hills (Um Vagabundo na Alta Roda). 


Gene Pitney canta Town Without Pity, também do filme Hairspray, de 1988; Frank Avalon canta Venus, da trilha do grande sucesso Born On The Fourth of July (Nascido em 4 de Julho); Gen Vincent traz Be-Bop-a-Lula, do filme Wild At Heart (Coração Selvagem). 


The Cadillacs cantam Speedo do violento filme The Good Fellas (Os Bons Amigos); a dupla Santo & Johnny cantam Sleep Walk, do filme Mermaids (Minha Mãe É Uma Sereia); Jerry Lee Lewis, outro dos grandes do início do rock, aparece com seu sucesso Great Balls of Fire do filme do mesmo nome e que aqui se chamou A Fera do Rock, que é a biografia do cantor. 


The Flamingos aparecem com a melosa I Only Have Eyes For You do filme My Girl (Meu Primeiro Amor) e, por fim, The Capitols cantam Cool Kerk do filme Home Alone 2 (Esqueceram de Mim 2). 


O CD está à venda nos bons sites do ramo e há preços que variam de 13 reais a 90 reais. 

O enterro da Jacinta

 Por Ronaldo Faria - Você só pode estar de sacanagem querendo que eu vá ao enterro da Jacinta. Sinto muito, mas eu é que não vou! - Mas, C...