Por Ronaldo Faria
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
O Mestre no instrumental
A Piaf brasileira no palco
Por Ronaldo Faria
Como escolher algo de Abigail Izquierdo Ferreira para
escrever? Dos tantos discos, qual? Difícil escolha. Por isso decidi partir para
um dos dois DVDs que tenho dela. Mas qual? Histórias e Canções ou Canta Piaf?
Resolvi optar pele segundo, gravado ao vivo no Teatro Maison de France, no Rio
de Janeiro, em janeiro de 2004. Nele, se junta a grande Edith Piaf e a não
menos menor Bibi Ferreira. Atriz desde os 20 dias de vida, quando estreou nos
palcos, Bibi tem uma trajetória incrível e premiada no teatro e na música. Para
quem quiser saber mais sobre ela é importante acessar o http://portais.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/atores-do-brasil/biografia-de-bibi-ferreira/.
Lá há um pouco da sua trajetória. Morta em 13 de fevereiro de 2019, aos 96
anos, Bibi nunca deixou de produzir e subir aos palcos para emocionar com a sua
voz.
Thelonious, "The Genius"
Por Edmilson Siqueira
Na apresentação que fiz no blog, escrevi que um disco do Thelonius Monk, comprado na loja Raposa Vermelha, de Campinas, fez minha cabeça em relação ao jazz. Agora, relembrando mais um pouco os meus primórdios do Jazz, lembrei-me que não foi um disco apenas que comprei lá. Houve um segundo que havia me fugido da memória, afinal, já se passaram mais de 40 anos. Remexendo na discoteca, quando bati os olhos nos jazzistas que começam por "C", deparei com uma fieira de Charles Mingus, o que me remeteu ao texto de apresentação. Havia um LP de Mingus também na minha iniciação jazzística. Lembrei-me até do nome, embora ele não esteja mais comigo, nem em CD: "Three or Four Shades of Blues". Era mais uma fusão entre blues e jazz, mas que serviu para que eu conhecesse um universo musical que já vinha me paquerando em alguns filmes há um bom tempo. Trios de jazz e orquestras que apareciam em filmes norte-americanos eram, muitas vezes, minha parte preferida no filme.
Feita a correção, resolvi dar uma ouvida acurada em "The Genius", título dado a um disco de Thelonious Monk que comprei na primeira e única visita que fiz à lendária Tower Records de Londres (que não existe mais) em 2001. Tinha 50 libras para comprar CDs, acabei gastando 100 e saí de lá olhando pra trás, com vontade de voltar e gastar o que eu não tinha. Era um andar inteiro (dos quatro do prédio) só de jazz. Eu me lembro de ter visto uma seção só de Brazilian Music, onde reinava absoluta a bossa nova e uma estante ao lado, só com "Milton Nascimento" e quejandos. Deduzi que não conseguiram enquadrar o nosso grande Milton e a turma do Clube da Esquina em gênero algum...
Esse CD de Monk é uma coletânea e, pelo título que foi dado, pode-se imaginar o tamanho de sua fama, bem-merecida, aliás. Ela foi produzida com as músicas de dois LPs gravados na Blue Note em 1951 e 1956 reunidas em 1989 e depois também lançadas em CD na série Giants of Jazz.
Logo de cara, o grande sucesso de Monk, "Round Midnight" que ele compôs em 1944 e até hoje é regravada. Diz a Wikipedia sobre a música: "'Round Midnight" rapidamente se tornou um padrão do jazz e foi gravada por uma grande variedade de artistas. Uma versão gravada pelo quinteto de Monk foi adicionada ao Grammy Hall of Fame em 1993. É um dos standards de jazz mais gravados composto por um músico de jazz.
E a genialidade do "The Genius" se faz notar por todas as 21 faixas do CD, sendo 14 dele e as restantes de outros compositores, exceto uma, fruto de uma parceria entre Monk e K. Clark. Embora as gravações já tenham entre 60 e 70 anos, a qualidade é muito boa. Como eram também os participantes dos conjuntos, com destaque para Art Blakey na bateria, que viria a se tornar um bandleader dos grandes, Milt Jackson (vibrafone), Billy Smith (sax tenor), Danny Quebec West (sax alto) que tinha 17 anos à época, Shadow Wilson (bateria), Gene Ramey (baixo), o cantor Kenny "Pancho" Hagood, que comparece em duas faixas e o ótimo trompetista Idrees Sulieman.
Os discos foram considerados à época como "jazz moderno" devido às inovações apresentadas, hoje totalmente normais em qualquer grupo de jazz que se preze. Thelonious não era bem-visto pela crítica, que entortava o nariz tanto à sua postura ao piano (ele tocava bem curvado) quanto aos improvisos, executados com pouquíssimas notas, porém certeiras.
Seu estilo foi confundido com o bepop no princípio, mas com o passar do tempo ele adquiriu um jeito próprio de tocar e compor, tanto que algumas criações suas viraram standards do jazz, como "Epistrophy", "'Round Midnight", "Blue Monk", "Straight No Chaser" e "Well, You Needn't", das quais, as duas primeiras podem ser conferidas aqui.
Esse CD em particular, não encontrei disponível no YouTube, mas no link
abaixo, estão várias das músicas do "The Genius" além de outras
mais.
https://www.youtube.com/watch?v=NYj61DQzaQs&list=PLBZmD4G_qXo68jkEOw5a18qujtuiTB_zA
Bromélias, mar e Bossa Nova
Por Ronaldo Faria
Azul da Rosa
Por Edmilson Siqueira
Ela já foi considerada uma espécie de João Gilberto de saia tal a qualidade que imprime em suas interpretações. Mas Rosa Passos não se intimida com tamanha consideração: segue seu rumo fazendo história dentro da MPB como uma de suas mais singulares intérpretes aqui no Brasil e em vários palcos do mundo, como o Carnegie Hall, onde fez um concerto solo para americanos e a Blue Note, lendária casa de jazz de New York.
O disco se chama Azul, nome de uma das músicas de Djavan, que está presente em cinco das treze faixas. Foi produzido pela gravadora Velas e lançado em 2002. Os outros compositores premiados com a interpretação de Rosa Passos são Gilberto Gil e João Bosco com Aldir Blanc, Capinam e Abel Silva.
Desse seleto grupo da mais fina MPB, Rosa selecionou joias que fizeram sucesso e outras desconhecidas do grande público apesar da qualidade de seus autores. A novidade aqui é o estilo e a voz da cantora, que veste nova roupagem em cada uma das músicas escolhidas e dão a elas uma digna sobrevida nas vitrolas (cd players, né?) do mundo.
“Desenho de Giz” abre o disco e Rosa não economiza alguns agudos que normalmente não fazem parte de suas interpretações sempre comedidas e exatas. O bolero de João Bosco e Abel Silva com referências a “Molambo”, ganha arranjo de cordas e sopro de Proveta que embelezam a melodia.
Djavan, o mais reproduzido no disco, aparece na segunda faixa com o sucesso “Samurai”. Rosa optou por um balanço mais marcado que a gravação do autor. A seção rítmica, com bateria e percussão, no arranjo de Lula Galvão, se destaca durante toda a música e com os metais dando um colorido especial ao conjunto.
A terceira faixa é de Djavan também - “Aliás” - e nela Rosa assume uma interpretação mais intimista como exige a canção de amor que é entremeada por um belo improviso de guitarra de Marcus Teixeira.
O arranjo de Proveta se destaca também na quarta faixa, “Papel Marché” que o próprio João Bosco gravou com grande sucesso. A letra de Abel Silva, um achado, ganha mais delicadeza na voz de Rosa e o belo arranjo de flugelhorn de Walmir Gil completam um quadro sonoro delicioso de ouvir.
Gilberto Gil chega na voz de Rosa com uma das suas mais antigas composições e que causou certa estranheza à época, não pela música em si, um gostoso samba, mas pela temática, já que Gil, um baiano recém-chegado ao Sul, enveredou por um tema carioquíssimo. E claro, se saiu muito bem com “Mancada”, escrita em 1966. Rosa se mantém fiel à gravação de Gil, sem maiores arroubos, passeando pela melodia com a tranquilidade normal de grande intérprete que é.
E Gil continua na voz de Rosa na faixa seguinte com “Ladeira da Preguiça”, um samba cheio de balanço, de difícil interpretação. Claro que Rosa se sai bem na missão, complicada talvez pelo fato de a música ter sido gravada por Elis Regina numa interpretação exuberante. Mas Rosa não parece se inibir e bota sua marca na música que só tem a ganhar com mais essa gravação.
Na faixa que dá título ao disco - “Azul” - com arranjo de Lula Galvão, ganha destaque a seção de metais, vibrante e em contraponto com a voz de Rosa, comedida, sem maiores firulas, dando luz própria ao sucesso de Djavan.
João Bosco e Abel Silva são os autores de “Quando o Amor Acontece” e Rosa canta a música como se fosse uma velha conhecida dela, com a “sofrência” dos belos versos e sem cair na armadilha de querer imitar a gravação de João Bosco. Rosa sabe das coisas.
Nas músicas seguintes “Açaí” e “A Ilha”, ambas de Djavan, Rosa continua a nos mostrar seu belo timbre vocal, principalmente na segunda, um jazz abrasileirado, numa bela letra do autor, até fugindo um pouco dos devaneios poéticos que lhe deram fama.
Uma música pouco conhecida de Gilberto Gil - “Mar de Copacabana”, de 1983, recebe de Rosa uma delicada interpretação e a seguinte é outro desafio, pois ela traz “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, de João Bosco e Aldir Blanc, também gravado por Elis Regina e que até hoje frequenta as boas rádios do Brasil. Rosa registra sua interpretação sem maiores problemas, brincando no final com o mesmo bolero que Elis introduziu, acrescentando alguns scats que dão mais brilho ao final do sucesso da dupla.
“Amor Até o Fim”, outra antiga de Gil (1971) encerra os trabalhos dessa intérprete única da MPB. Um samba de Gil que serve a várias divisões vocais que só os grandes conseguem fazer sem perder o ritmo e solidez da interpretação.
Enfim, Rosa nos mostra nesse disco porque é considerada, com justiça, um pouco acima da maioria das cantoras brasileiras e admirada aqui e no exterior.
O link para ouvir Azul de Rosa Passos: https://www.youtube.com/watch?v=THdcd9nPQVg
Um Céu de música
Por Ronaldo Faria
No primeiro disco eles traziam Assis Valente (Uva de Caminhão), Zé Rocha (Bumba Meu Boi da Boa Hora), Alberto Rosenblit/Luiz Fernando Gonçalves (Luciana), Luiz Eça (Melancolia), Aylton Escobar (Sabiá, Coração de Uma Viola), Ernesto Nazareth (Odeon), Armandinho/Moraes Moreira (Davilicença) e Eduardo Dusek (Injuriado), além de composições próprias de Paulinho Pauleira (Clarissa) e Dalmo Medeiros (Trindade, Arado e Araguaia, esta última em parceria com João Fernando Vianna).
Acho que o Céu da Boca foi aquele antagonismo musical e emocional: te faz explodir de emoções e sinergia enquanto existe e te cobre de musicalidade e genialidade quando termina. Afinal, como não amar o trabalho posterior de cada um deles? Falarei em futuros posts ainda sobre alguns dos membros do grupo de quem virei tiete e fã incondicional. Mas este disco – Céu da Boca - é um interminável ouvir de belas canções, interpretações incríveis, sonoridade plena. Para mim, rola sempre quando quero relembrar meus tempos de carioca e, mais do que isso, saber que vi o surgimento de tantos artistas fantásticos num lugar só. Tipo o Asdrúbal Trouxe o Trombone, que aliás tem um disco também incrível do qual falarei.
O Céu da Boca de certa forma contrastou com grupos vocais à época que incluíam ou só homens ou só mulheres. Eles misturaram tudo na dose certa e mostraram que vozes masculinas e femininas se completam e se locupletam na medida exata quando há sonoridade e qualidade implícitas no todo. E esse disco e o Baratotal são a prova máxima disso. Eu se fosse você nunca deixaria de ouvi-lo. O link para ele é o https://www.youtube.com/watch?v=jnVun5qNCe4
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