Sergio Mendes é, sem dúvida, o mais bem sucedido artista
brasileiro no exterior. E não só nos Estados Unidos. Seus discos são vendidos
também na Europa e no Japão. Se não atingem números estratosféricos de vendas
hoje, a perenidade das vendas é marca de um sucesso longevo.
Essa lembrança me veio à mente com a chegada do CD Four
Sider, que eu comprei no Mercado Livre. Lançado em 1988, ele traz, em 21
faixas, um resumo da fase mais bem sucedida em termos de vendas de discos do
pianista brasileiro. Depois dessa época, em que as vendas diminuíram, seu
prestígio só aumentou e hoje ele é venerado tanto por antigos fãs, como pela
nova geração de músicos dos EUA.
Comprei o CD pois, embora conheça muita coisa dele e já
tenha captado algumas faixas na Internet, não tinha um disco com seus grandes
lançamentos do século passado. Four Sider preenche essa lacuna.
Sergio Mendes saiu do Brasil ainda na década de 1960.
Quem pensa que ele foi buscar o sucesso no exterior, se engana: saiu
praticamente forçado pela ditadura que, a partir de um divertido bilhete seu
para um amigo, acabou caindo das garras de um governo ignorante e sua
repressão. Não entenderam a mensagem e pensaram tratar-se de um grande
subversivo. O amigo para o qual endereçou o bilhete, foi vítima também da mesma
ignorância. Era um escultor e, em seu ateliê, a polícia descobriu o que pensou
ser uma escultura de Lenin, comunista que tomou o poder na Rússia em 1917. O
busto retratava o pai do escultor, que era apenas parecido com Lenin.
Diante dessa brutalidade e com um filho recém-nascido (o
motivo do bilhete ao amigo) Sergio Mendes não teve dúvida: se mandou para os
EUA, onde já tinha amigos e poderia levar uma vida mais tranquila, preocupado
apenas com sua arte e podendo cuidar bem de sua família.
O sucesso não demorou a chegar. Craque na bossa nova e
ciente do gosto norte-americano pelo som brasileiro, juntou as ideias e criou
um som próprio, transformando sucessos daqui e de lá num espécie de pós-bossa
nova jazzística que os americanos adoraram.
Mas que Nada, de Jorge Benjor, foi a primeira mostra de
que ele estava lá para ficar. O disco chegou entre os dez primeiros das paradas
da época (paradas americanas, da Bill Board e outras, sérias) e o LP que essa
música puxou vendeu muito também. Em seguida, gravou uma música do Beatles que,
embora de grande qualidade, tinha ficado meio perdida entre os megassucessos
dos Fab Four. Sergio Mendes com seu grupo (o Brazil '66) deu um tratamento de
sambinha bossa nova a The Fool on the Hill que simplesmente alcançou o topo das
paradas e transformou o brasileiro em ídolo por lá.
Depois de passar por duas gravadoras, acabou se firmando
na A&M Records, dos amigos Herbet Alpert e Jerry Moss, onde continuou
criando sucessos, às vezes nas fórmulas bossa-nova-jazz e outras, mais fieis
aos originais.
O disco Four Sider é um retrato perfeito da obra do
século passado, mas isso não significa que Sérgio Mendes parou por lá. Poderia
ter parado se fosse apenas o dinheiro a lhe interessar, pois ficou rico.
Construiu uma enorme casa em Los Angeles e nela um estúdio de gravação
completo. O marceneiro que estava fazendo a parte de madeira do estúdio, lhe
disse que estava estudando para ser artista de cinema. Sergio Mendes apreciou o
fato e desejou boa sorte ao rapaz. Alguns anos depois o viu estrelando um
filme. Era Harrison Ford.
No século 21, já gravou cinco discos. Desses eu tenho
Timeless, onde ele revisita alguns sucessos em companhia de artistas de Rap, de
Stevie Wonder e outros. Ou seja, com mais de 80 anos, continua ligado no som atual
e emprestando a ele seu talento.
As vinte e uma músicas que compõem Four Sider são as
seguintes: Mais Que Nada (Jorge Ben),
One Note Samba/Spanish Flea (Jon Hendricks / Antônio Carlos Jobim / Newton
Mendonça), Bim Bom (João Gilberto), Look Around (Alan Bergman / Marilyn Bergman
/ Sergio Mendes), (Sittin' On) The Dock of the Bay (Steve Cropper / Otis
Redding), Watch What Happens (Norman Gimbel / Michel Legrand), With a Little
Help from My Friends (John Lennon / Paul McCartney), The Look of Love (Burt
Bacharach / Hal David), Norwegian Wood (John Lennon / Paul McCartney),
Wave (Antônio Carlos Jobim), After
Midnight (J.J. Cale), Chelsea Morning (Joni Mitchell), The Fool on the Hill
(John Lennon / Paul McCartney), For What It's Worth (Stephen Stills), Day
Tripper (John Lennon / Paul McCartney), Crystal Illusions - Memórias de Marta
Saré - (Guarnieri / Lani Hall / Edu Lobo), País Tropical (Jorge Benjor),
Ye-Me-Le (Chico Feitosa / Luís Carlos Vinhas), Reza (Rui Guerra / Edu Lobo),
Promise of a Fisherman (Dorival Caymmi), After Sunrise (Oscar Castro-Neves /
Tião Neto).
Várias plataformas na internet vendem o disco, bem como
disponibilizam as faixas para uma audiência. Divirtam-se.