Por Ronaldo Faria
Muito a falar, a tentar dizer,
conversar. A lembrar cenas já sem palco, plebeia ou plateia. Mas logo vem o
silêncio ausente, cru, desprovido da nudez que só tempo traz e faz. A fatídica
e morta saudade que não parece dizer uma sílaba sequer. Na incerteza de um
parêntese que faz a interface do nada, a voz da amada que recrudesce a luz da
lua que brilha teimosa ao acalanto sem pranto da flor desfolhada e formosa.
Muito a clamar no clarear que
se perdeu infante no adeus primeiro da aurora. Na casa de saibro, o menino
queima de febre em catapora. Na árvore que repousa quieta no alto do morro,
cheiro de amora. Na igreja, gorjeio de corujas sonâmbulas a acordarem do sono
sombrio. Lá fora uma raposa espera quieta a chegada das galinhas que foram
ciscar e contar grãos de milho. Na venda, a voz perdida de Seu Virgílio.
Muito a fazer poemas, tenham
eles ou não extintas e flutuantes tremas. Nas tramas da vida, tramoias de
amantes apaixonados e surdos aos carros que teimam em passar sibilares bem
abaixo do quarto do apartamento que se esconde sobre um jardim. Entre o talvez
e a próxima vez, o voltar de mãos trêmulas a afagar cabelos molhados e
torneados no corpo que virou copo para a sede e o coito do amor.
Pouco a descrer na descrença
fatídica que se faz fátua e fábula de uma sessão de cinema nunca assistida. Na
bilheteria, a vendedora, que se chama Dora, adora quando o senhor de bengala e
chapéu chega para assistir pela décima quinta vez a mesma cena, que teima em
terminar com The End. No projetor, entre fotogramas colados e miligramas de
tinta retinta, passam vidas e destinos marcados e desatinos.
Pouco a dedilhar entre teclas
que nada mais são do que asseclas de uma poesia de amor. Dessa que recobre de panos e letras um
sentimento de dor. Talvez, noutra certa vez, a alegoria se confunda com a orgia
e vire somente rara alegria. Senão, entre um sim e outro não, ambos saiam a
dançar pelas ruas que margeiam a cama forrada de sons e se faz altaneira na
cidade. À morte plena, nasceu a frágil realidade.
Pouco, por fim, a profetizar aquilo que nunca será. Nas ondas que arrebentam frias na areia e arrebatam o olhar da musa primeira, a certeza de que sentimentos urgem e brotam feito pássaros que voam sem saber chegar. Ao final, afinal qualquer lugar é lugar de derrear, um porto sem navios, naufrágios, belas morenas no cais, bebidas jorradas em canecas e adeuses que se prostram em lágrimas tais. Muito e pouco, pouco e muito, palavras fatais.