Por Ronaldo Faria
Agora é a vez do sertanejo, ao legado
de Elpídio dos Santos. E me remeto e me arremesso para o frio do passado, para
o ventre tijucano, quando ainda havia o arcanjo a me escolher entre tantos
anjos para viver. Mal sabia ele que, no futuro, me daria angina, um tanto de
rima e um pouco de sina. Ensimesmado, ele deve agora olhar para baixo e dizer:
“Que falta de tempo, que erro sem alento”. De volta, olho para ele e retruco,
mesmo sem saber truco jogar. "Se já estou aqui, vou tentar descobrir até onde vai
meu porvir. Meu ir sem ir. Meu rir sem rir. Minha cama vazia a pedir o corpo
teu."
Agora é o momento das estradas vagas,
dos amores em voga, do juiz que me espera no último dia, de toga. Torço para
ser meu próprio advogado e dizer diante do tribunal lotado: “Amei, amei apenas.
Por isso, de mim, pecador, tenham pena. Porque quis, somente, amar a vida,
minha única estrada sem trilha, moda sem viola, ode sem plano”. E de lá irei
para onde for, mesmo que seja for entre tridentes e dor. Nada será melhor do
que o simples final. O corpo jogado aos vermes, sem versos, sem versículos
sequer para poder orar. Sem nada ver ou olhar. Sem o cheiro da mulher depois de
domá-la como o mar.
Agora é chegada a hora da plateia sem
aplausos, dos causos entornados em copos doidivanas entre mesas de bar. Seja
diante do sol que escalda ou do frio que jorra ao luar. Que sai da viola que
enrosca entre dedos e zelos. Que volta em volteios e desmazelos. E busca, a partir
da veia mínima, o coração que mumifica mesmo molhado do último chorar, do incrédulo olhar. Da canoa que acha, sonhadora, que pelo rio chegará até o mar.
Porque tudo é embriaguez de letras e sílabas, estrofes e vozes, notas e odes.
Odaliscas, quiçá, a dançarem com os seus véus sobre o corpo desnudo de um
simples bedel.
II
Dedilha, violeiro. Põe os dedos a
girar, revirar e voltar. Arranca versos do cantador e transforma em alegria a
maior dor. Volteia de cabresto em riste para buscar a última rês que corre pelo
pasto como fosse ele um mundão desses que nem o último suspiro - vasto. Assim,
na réstia do que ainda tiver de ser, seja o maestro de som presto, como é o do
corpo doente a definitiva peste.